Cenas inexistentes e mais: o que o 1º capítulo do remake de Pantanal mudou da versão original? Compare
Enrolação e “destoamento” da versão original marcaram a estreia do remake de Pantanal na Globo
João Ramos –
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O dia mais aguardado para a TV Globo nos últimos dois anos chegou… o remake da novela “Pantanal” finalmente estreou e encheu os olhos do Brasil com belas imagens na noite desta segunda-feira, dia 28 de março — mesmo dia em que o Aquário do Pantanal foi inaugurado em Campo Grande, depois de 11 anos de espera.
Entretanto, quem pôde assistir ao episódio inicial original da saga da família Leôncio, certamente percebeu que imagens bonitas não são tudo e nota a “aula” que a TV Manchete deu na vênus platinada na comparação dos capítulos de estreia de cada uma das emissoras.
É até complicado expor tantos furos dessa maneira, já que o primeiro capítulo da Globo simplesmente não aconteceu. Os cinco primeiros minutos da estreia da Manchete foram transformados em quase 30 no remake e, no total de 1h14 minutos de arte, metade dos acontecimentos da versão original não foram exibidos.
Neto de Benedito Ruy Barbosa, Bruno Luperi é o responsável pela adaptação do texto do avô. “Novelista” iniciante, Luperi escreveu várias cenas que não existiram na 1ª versão e deixou o capítulo inicial extremamente arrastado. As primeiras sequências foram focadas em uma espécie de “passada de bastão”, mostrando o ator Paulo Gorgulho, que fez José Leôncio na primeira versão em 1990, “entregando” a história para o remake. “Você nunca será esquecido”, disse o Joventino de Irandhir Santos, ao se despedir do velho Ceci – papel de Gorgulho em 2022.
Depois disso, cenas curtas que não chegavam a durar mais que um minuto na Manchete se transformaram em sequências longas, com pouca contribuição narrativa na Globo. Na versão original, o jovem Zé Leôncio perde a virgindade num bordel no minuto 4, enquanto no remake, a sequência acontece depois do minuto 20 — para se ter uma noção do quão lenta foi a estreia.
Houve uma adaptação nesta cena. Enquanto na novela da Manchete o Zé Leôncio menino teve sua primeira vez com uma prostituta bem mais velha, aparentando quase 40 anos, o remake quis deixar a situação mais “plausível” com uma atriz quase da idade de Drico Alves, o rapaz que interpretou o protagonista nesta fase.
Jayme Monjardim, diretor da versão original, sempre fora criticado ao longo dos últimos 30 anos por abusar de longos takes do Pantanal embalados por alguma trilha sonora, mas o remake foi além e fez muito pior ao explorar as imagens com melodias nada épicas, se comparadas as da Manchete.
Diálogos entre Zé Leôncio e Joventino que duravam 20 segundos viraram cenas de 2 minutos na nova versão. O tom dos atores também é completamente diferente. No remake, Zé Leôncio de Renato Goes mostra certa servidão ao pai, em uma relação nada natural, ao mesmo tempo em que o Joventino de Irandhir Santos surge sempre como se estivesse recitando um poema, com direito a acrobacias. Bem “típico” de um peão (?).
Em “Pantanal” da Manchete, a naturalidade da relação entre pai e filho impressiona, sem usar o recurso da lentidão para construir a ligação dos dois. No mais, a versão original também conquista pela agilidade e tem um primeiro capítulo intenso, cheio de acontecimentos — a maioria deles ainda não foi ao ar na Globo.
A saga de Maria Marruá no Sarandi mal foi apresentada na estreia do remake e ficou desconexa em um roteiro lento, perdido, sem rumo. Já na Manchete, o filho dela, Gil Marruá é assassinado na batalha pelas terras e Maria parte com o marido Gil para Mato Grosso do Sul, chegando ao Pantanal.
O episódio inicial da versão original, inclusive, termina com os Marruá entrando no Pantanal, por meio da chalana, que no remake será pilotada por ninguém menos que Almir Sater — figura emblemática, entidade pantaneira, que também ficou de fora do primeiro capítulo da nova versão.
Apesar dos elogios na internet e a fotografia impecável, o roteiro foi problemático. A experiência de Benedito Ruy Barbosa, novelista renomado, parece não ter servido para muita coisa nas mãos de Bruno Luperi, seu neto que adapta o remake. Assim como errou a mão em “Velho Chico” (2016), Luperi repete os mesmos erros que cometeu quando assumiu a obra do avô pela metade, há 6 anos.
Com excesso de cenas desnecessárias que sequer existiram e o prolongamento de sequências ágeis em detrimento do nada, Luperi ainda aprende a fazer dramaturgia: esta é “sua” segunda novela — ou, melhor, a segunda novela do avô que comanda.
Bruno parece não ter noção da preciosidade da agilidade e do tempo em um capítulo inicial, técnica dominada por seu avô Benedito na versão original. O roteiro já estava pronto, escrito há mais de 30 anos, mas Luperi conseguiu pegar um primeiro capítulo impecável e transformar em uma “odisseia no espaço”, como o filme cult “2001 – Uma Odisseia no Espaço”, e talvez esse seja o maior problema do remake de “Pantanal”: querer ser ou parecer cult.
Rural, pantaneira, de raiz, a novela tem um universo e uma história que não conversam com quem consome entretenimento dito intelectualizado. Até porque, novela é feita para todo mundo compreender e acompanhar, especialmente a das oito, depois do Jornal Nacional, quando o trabalhador chega e só quer descansar assistindo a uma boa história.
Talvez Pantanal mude
Diretor-geral do remake de “Pantanal”, Rogério Gomes, o Papinha, deixou a produção pela metade. Segundo o Notícias da TV, Papinha não agradou o diretor de entretenimento da emissora, Ricardo Waddington, com o trabalho. Eles discordam do tom que a novela deve ter e se desentenderam ainda quando Rogério estava gravando a trama em Mato Grosso do Sul, no ano passado, conforme o site.
Gustavo Fernandez, que dialoga melhor com Waddington, assumiu a direção, e dará à segunda fase do folhetim a cara que o chefe quer. Portanto, é possível que “Pantanal” mude completamente o tom quando os capítulos dirigidos por Papinha chegarem ao fim, para seguir um novo modelo de dramaturgia na Globo.
A estreia, apesar disso tudo, foi bem avaliada e cumpriu sua ingrata missão de resgatar a audiência do horário. Há tempos a faixa não alcançava a meta de 30 pontos, e “Pantanal” conseguiu esse feito já no primeiro dia, mostrando seu poder, resultado da massiva divulgação feita pela Globo desde setembro de 2020.
Aguçados pela curiosidade provocada pela emissora, brasileiros pararam para acompanhar a estreia, mas, é bem possível que o cenário seja diferente a partir do segundo capítulo, nesta terça-feira (29). Saiba o porquê clicando aqui.
Sul-mato-grossenses aprovaram o primeiro episódio do remake e acompanharam juntos em algumas praças públicas pelo Estado. Resta saber se a lentidão e o “destoamento” da versão original não vão afugentar esse público que amou tudo de cara e assistiu com os olhos brilhando.
Sem as imagens mais lindas do mundo, como no remake, a primeira versão não traz takes deslumbrantes do pantanal sul-mato-grossense, mas desenvolve a história da novela com a maestria de um escritor experiente, afinal, é comprovado que imagens bonitas não sustentam uma telenovela de 160 capítulos. Assista e compare:
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