garantindo o acesso ao material de higiene básica

Jornal Midiamax

Marca de absorvente fez campanha de combate à pobreza menstrual (Foto: Reprodução)

Sem papel higiênico em casa, o jeito foi levar da Universidade (Foto: Reprodução)

Realidade

A mesma situação, já superada pela professora, hoje é vivenciada por uma moradora de Campo Grande. Dona de casa de 28 anos, sua renda vem do Bolsa Família e do emprego de pedreiro do marido na Capital. Eles pagam aluguel e é tudo muito apertado. “Você acha que se meu armário tá vazio e meu filho tá com fome, eu vou comprar um absorvente pra mim ou uma bolacha pra ele comer?”, questionou ela à reportagem.

Envergonhada, ela não compartilha o problema com o esposo por vergonha, uma vez que já foi chamada de “porca” pelo companheiro em situação de precariedade da higiene. “Aquela vez meu bebê tava com febre, precisei comprar remédio na farmácia e era o único resto de dinheiro que tinha. Um dia depois, desceu a menstruação e não tinha absorvente. Pedi um pra minha irmã, mas o dela também já tinha acabado”, conta a dona de casa.

Atualmente vivendo uma situação confortável, a professora do início da reportagem já superou o passado precário e agora ajuda quem precisa como pode, para tentar amenizar as mazelas enfrentadas pelas meninas. É como se ela oferecesse o que gostaria de ter recebido quando precisou. Trabalhando numa escola, ela carrega absorventes na bolsa e guarda alguns na gaveta, porque consegue identificar quando alguma menina pede pra ir embora porque está menstruada. “A partir do momento que você oferece para ela um absorvente ou um pacote inteiro, na maioria das vezes, ela vai ao banheiro, faz a higienização e volta para a sala”, relata.

Empatia

Quando o projeto de lei que oferece absorventes gratuitamente foi apresentado, a professora se sentiu representada. Em meio às lágrimas, com a voz embargada de emoção, ela comemora.

“A gente fica feliz, eu acredito na juventude de hoje, eu acredito na juventude que tem uma sensibilidade, um olhar para o próximo. E quando você fala de pobreza menstrual, é muito além da menstruação. Tem meninas que se alimentam na escola e, naqueles dias que estão menstruadas, pela falta de absorvente, não vão à aula. São dias que elas não comem”, lamenta.

Para ela, a empatia é o primeiro passo para ajudar a combater a pobreza menstrual. “Principalmente nós, mulheres, precisamos muito ter isso. Vi muitas críticas de pessoas dizendo ‘ah, quem não vai ter R$3,50 pra comprar um absorvente? Eu não tinha”, finaliza.

Veto polêmico

O presidente Jair Bolsonaro sancionou a criação do Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual (Lei 14.214), mas vetou a previsão de distribuição gratuita de absorventes femininos para estudantes de baixa renda e pessoas em situação de rua, que era a principal medida determinada pelo programa. A sanção foi publicada na edição do dia 7 de outubro do Diário Oficial da União.

Presidente vetou a distribuição gratuita de absorventes e fez interesse pela pobreza menstrual disparar (Foto: Annika Gordon, Unsplash)
Presidente vetou a distribuição gratuita de absorventes e fez interesse pela pobreza menstrual disparar (Foto: Annika Gordon, Unsplash)

O governo não concordou, alegando que absorventes higiênicos não se enquadram nos insumos padronizados pelo SUS e não se encontram na Rename (Relação Nacional de Medicamentos Essenciais). Além disso, “ao estipular as beneficiárias específicas, a medida não se adequaria ao princípio da universalidade, da integralidade e da equidade do Sistema Único de Saúde”.

Bolsonaro também vetou o item do que determinava a inclusão de absorventes nas cestas básicas entregues no âmbito do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan). Os vetos estão sendo analisados pelos parlamentares em sessão do Congresso Nacional, com data ainda a ser marcada. Para a rejeição do veto, é necessária a maioria absoluta dos votos de deputados e senadores, ou seja, 257 votos e 41 votos, respectivamente, computados de forma separada. Registrada uma quantidade inferior de votos pela rejeição em uma das Casas, o veto é mantido.

Senadores de diversos partidos estão se articulando para derrubar a decisão de Bolsonaro. Em meio à isso, cresceu no Google o interesse pelo assunto da pobreza menstrual e distribuição de absorventes. De acordo com Ana Cláudia Guimarães, do blog Ancelmo.com, do Jornal O Globo, nas duas últimas semanas, o Brasil foi o país que mais pesquisou sobre o tema no mundo — nos últimos 12 meses, o Brasil aparece em quinto lugar no ranking de interesse por absorvente, mas saltou para a primeira posição durante o mês de outubro após o crescimento nas consultas pelo item no país.

Segundo o levantamento, a pergunta mais buscada foi “por que Bolsonaro vetou o absorvente?”. O assunto também aumentou as consultas sobre pobreza menstrual no Brasil, que atingiu em outubro o recorde de interesse sobre o tema da série histórica do Google Trends, iniciada em 2004.