É fácil ser palhaço? Levar a alegria e tentar contagiar as pessoas parece muito simples, mas arrancar o sorriso de alguém pode ser uma tarefa árdua. Em dezembro, as figuras engraçadas têm um dia especial para celebrarem a profissão. Em homenagem aos simbólicos e marcantes representantes do riso, o MidiaMAIS conversou com um dos principais palhaços de Campo Grande.

Famoso na Capital, Putuco atua em festas e eventos infantis, feiras livres, hospitais e também em igrejas, “sempre fazendo muita palhaçada e muita brincadeira para as crianças de nossa Cidade Morena”, diz ele ao Jornal Midiamax.

Por trás da tinta que cobre o rosto está Júlio César Franco, que incorpora Putuco há 16 anos, e lembra até a data em que tudo começou: 12 de outubro de 2005. “É muito gratificante a relação com público, nos emociona toda vez que fazemos eles sorrirem”, comenta sobre a atividade.

Júlio revela que sempre quis ser palhaço. “O sonho da minha vida! E desde pequenininho eu dizia para mim mesmo que queria ser palhaço. Meu maior ídolo é o palhaço Bozo. Espero um dia poder conhecê-lo porque ele foi a minha maior inspiração”, almeja.

Sinônimo de trouxa?

É popular na internet o uso do emoji com a figura de um palhaço para representar quando alguém é “trouxa” ou, simplesmente, “feito de palhaço”. Frequentemente usada de forma pejorativa e depreciativa, a imagem e a própria palavra “palhaço” destoam da dignidade da profissão, segundo Putuco.

“Quando a pessoa usa o nariz de palhaço para protestar eu me sinto muito triste, porque o palhaço nasceu só para trazer alegria, e palhaço nenhum é bobo. O palhaço se finge de bobo para agradar as pessoas, para alegrar, e a interpretação que o público traz para si é um erro gravíssimo. Isso é muito revoltante”, pontua Putuco.

No entanto, assim como muitas palavras da língua portuguesa, “palhaço” tem suas várias significações. Segundo dicionários consultados pela reportagem, os significados abaixo correspondem ao vocábulo, e alguns deles (em negrito) podem até se aplicar ao uso da linguagem da internet.

  1. artista de circo, geralmente caracterizado com maquilhagem extravagante e trajes burlescos, que procura divertir o público com gestos cômicos, brincadeiras, etc.
  2. personagem cômica e burlesca que procura animar uma audiência (em festas infantis, espetáculos, etc.)
  3. [figurado] pessoa brincalhona, que procura fazer rir os outros; truão
  4. [figurado, pejorativo] pessoa que está sempre brincandou e/ou dizendo piadas nem sempre com muita graça
  5. [pejorativo, Brasil] pessoa que só diz tolices ou faz papéis ridículos
  6. [figurado, pejorativo] pessoa que não é possível levar a sério
  7. [pejorativo] pessoa que não merece respeito
  8. [gíria] engodo usado na pesca, constituído por uma peça de aspeto semelhante ao de um peixe ou de um crustáceo, geralmente de plástico e formato fusiforme, dotada de uma coroa de anzóis na extremidade inferior, que se liga à linha de pesca pela extremidade superior
  9. feito ou vestido de palha

Usuária frequente do emoji de palhaço como representação de “trouxa”, a estudante Yasmin Menezes, de 22 anos, explica sua interpretação. “Não tem nada demais, todo mundo usa. É tipo pra mostrar o quanto somos otários ou bobos, simplesmente bobos. E o palhaço é a representação do bobo alegre, como a própria significação da palavra diz. Então ‘bobo’ e ‘trouxa’, ser ‘feito de bobo’, acho que tá tudo no mesmo parâmetro, e o emoji do palhaço é simplesmente uma figura que representa esse nosso sentimento. Que triste que eles não gostam ou se revoltam, por que não tem nada demais, eu acho”, lamenta Yasmin, dizendo que amava os palhaços quando ia ao circo durante sua infância, no interior de MS.

Palhaço vendeu pães para sobreviver na pandemia

 

Complicado

Putuco ainda comenta outro caso que sempre o deixa irritado. “Quando a internet inventou os palhaços assassinos, que é um absurdo também, que assusta as crianças, trazendo a nossa imagem como se fosse do mal, sendo que nós fazemos de tudo para fazer o bem”, pontua o humorista, chateado com essas situações que ferem a imagem da alegria que os profissionais buscam levar.

Para ele, apesar dessas intempéries, difícil mesmo foi enfrentar a pandemia. “Não foi fácil. Nessa pandemia, tivemos que nos reinventar. Eu e minha esposa resolvemos produzir pães caseiros para sobrevivermos, mas nunca deixando de lado a magia do palhaço. Sempre trabalhei fantasiado no período em que estive vendendo pães, mas glória a Deus consegui me superar. Deus é fiel. Meu contato para shows é (67)9 9813-0980”, finaliza Putuco.