Você por acaso já ouviu falar em taxidermia? A palavra parece bem difícil de assimilar, mas basta olhar com atenção no resultado para logo entender o que ela significa. A taxidermia é a técnica de empalhar animais já mortos, utilizada em vários campos, como acadêmicos, de pesquisa e até de decoração. De répteis a cabeças de gado, a prática é amplamente utilizada em Mato Grosso do Sul, inclusive, para conservação de espécies em extinção. Se você chegou até aqui e está curioso para entender como essa “arte” funciona, é só continuar a leitura.

A taxidermia é um processo moderno que requer estudos constantes, amplo conhecimento e habilidades. Apesar de ser frequentemente associada ao uso decorativo de animais empalhados — presentes principalmente em meios agropecuários ou até em filmes norte-americanos —, a prática tem um papel importante para a biologia e educação ambiental.

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Curso de Biologia ensina a fazer taxidermia em Campo Grande (Foto: Arquivo Pessoal)

Não existe uma data exata de quando a taxidermia surgiu, porém os registros mais antigos de empalhamento de animais são do império egípcio em aproximadamente 2.500 a.C. O nome taxidermia foi usado pela primeira vez em 1803, no livro Nouveau Dictionnaire d'Histoire Naturelle, escrito por Louis Dufresne do Museu Nacional de História Natural em Paris, França.

No início, eram usados materiais como barro e palha para moldar o corpo dos animais. Atualmente, a técnica conta com recursos como algodão, espuma e poliuretano, que permitem melhores resultados.

Uma das instituições de Campo Grande que mais atuam com a taxidermia é a (Universidade Católica Dom Bosco), por meio do curso de biologia.

Taxidermia no campo acadêmico

De acordo com o coordenador do curso de Ciências Biológicas da universidade, Ricardo Martins Santos, a taxidermia é uma prática que acontece desde a fundação do curso e visa aprimorar o conhecimento do estudante a respeito do animal que está sendo taxidermizado.

É por meio da prática que os estudantes conseguem aprimorar conhecimentos, manter características de comportamento do animal, de expressões e realizar inventário de fauna de uma região.

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PMA oferece cursos de taxidermia na Capital (Foto: Reprodução/PMA)

“A taxidermia auxilia na aprendizagem dos estudantes em sala. Há uma variedade de recursos didáticos que podem ser classificados em duas categorias: recursos didáticos pedagógicos e elementos de existência real. O animal taxidermizado se enquadra no recurso de elemento de existência real, situações e vivências cotidianas que estimulam a exploração e o desenvolvimento pleno dos sentidos, mesmo de estudantes que não tenham o sentido da visão… assim a taxidermia pode ser entendida como um recurso didático de inclusão na aprendizagem”, afirma o professor.

Mamíferos, répteis, aves ou até mesmo peixes, a principal ação educativa com os animais empalhados é com a educação ambiental, promovida em parceria com a PMA (Polícia Militar Ambiental) do Estado em escolas, parques e centros de convenções.

De acordo com Ricardo, a colaboração entre a faculdade e a PMA é fundamental para proporcionar esses tipos de intervenções acadêmicas em Mato Grosso do Sul. “O acervo de animais silvestres taxidermizados é oriundo da PMA. E o curso de taxidermização é ministrado por oficiais habilitados para executar a técnica. Todos os animais são registrados quanto à origem e alocação”, complementa o biólogo.

Conservação de animais em extinção

Técnica de grande importância para o biológico, seis estudantes decidiram, então, criar o grupo “TPBIO” para fornecer informações sobre preservação da fauna local. Uma das participantes é Nathany Oliveira Diniz De Lima, 21 anos, que cursa Ciências Biológicas.

Para ela, a maior vantagem é conseguir conservar diferentes espécies, especialmente as que estão em processo de extinção. É por causa da técnica que ela consegue estudar a fauna, tem contato direto com animais silvestres e consegue observar a anatomia corporal das espécies.

Praticante de taxidermia há mais de dois anos, a jovem afirma que o maior desafio é fazer as costuras e manter as feições naturais.

Taxidermia conserva expressões naturais
Taxidermia é de extrema importância para preservação da fauna local (Foto: Arquivo Pessoal)

 

“A técnica se inicia com o banho do animal, o corte para realizar a retirada de suas estruturas, priorizando os ossos para sustentação do animal e limpeza de toda a carne, posteriormente o animal recebe fios de arame cozido para fixar a sustentação e é recheado com maravalhas, ocorre a costura, tratamento da sua pele e finalização com antifúngicos e antibactericida”, finaliza a estudante.

Talvez esse universo seja um pouco novo para quem está conhecendo mais sobre a taxidermia agora, afinal, como falado anteriormente, ela é amplamente associada a fins decorativos. Para explicar mais sobre essa vertente, nós conversamos com um profissional bem conhecido em Mato Grosso do Sul.

Decoração de parede

Quem nunca viu uma cabeça de gado como enfeite em casas agropecuárias, fazendas ou até mesmo em filmes norte-americanos, que atire a primeira pedra. Os animais empalhados também se enquadram em uma vertente da taxidermia, dessa vez mais focada em fins estéticos.

Valfrido Rodrigues Santos, 61 anos, atua nesse mercado há 35 anos no Estado. Ele trabalhava como técnico no laboratório de anatomia humana da (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) quando, em 1986, decidiu mudar de carreira e se encantou pela taxidermia em peixes. No entanto, ele se especializou mesmo nas cabeças de bovino.

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Valfrido trabalha com taxidermia em bovinos há mais de 30 anos (Foto: Arquivo Pessoal)

“Durante os primeiros anos, foi muito difícil, pois não tinha a técnica. Toda vez que assistia algum americano, apareciam aquelas cabeças perfeitas. Eu, sempre muito detalhista, disse a mim mesmo que iria conseguir. Hoje, as cabeças ficam com uma qualidade de expressão muito grande, talvez não como as americanas, mas o resultado me deixa muito feliz”, comemorou Valfrido.

Especializado em cabeça e pescoço de bovinos, equinos, caprinos e ovinos, ele afirma que sua clientela é composta totalmente por pecuaristas que têm seu animal de estimação ou um grande campeão.

 “A técnica consiste em fazer moldes, desenho, fotografia e medidas quando tange a cabeça. O couro é limpo e vai para o processo de curtimento artesanal. Depois de curtido, é ensacado, identificado e congelado. Através dessas informações, faço um manequim sintético que será revestido com a pele”, contou ao Jornal Midiamax.

É com a taxidermia que Valfrido tira o seu sustento e consegue ganhar uma média de R$ 7 mil reais por peça.

Dá para fazer taxidermia em humanos?

Se você chegou até aqui encantado com a prática, com certeza vai se interessar por essas curiosidades que o MidiaMais separou. Pergunta que não quer calar: uma vez que é possível fazer taxidermia em animais, daria para fazer em humanos?

Pela perspectiva científica, não existe impedimento para que a taxidermia seja feita em humanos. Porém, os aspectos éticos e legais proíbem a prática, conforme afirmou o biólogo Ricardo.

Além disso, no caso dos animais, a pelagem, as escamas ou as penas impedem que as costuras sejam vistas, o que não seria possível em humanos e torna a possibilidade ainda mais “bizarra”.

Tudo regulamentado por lei

Segundo especialistas, a taxidermia segue as determinações da Lei de Crimes Ambientais no Brasil. Assim, as regras para a proteção dos animais contra os maus-tratos e a exploração de espécies silvestres ajudam a orientar a prática da conservação e o uso pedagógico.

Dessa forma, os animais empalhados podem ser observados em museus de história natural, institutos de pesquisa e instituições de ensino.