“Ele estava animado, empolgado”, assim Rubens Pereira Feitosa, 45 anos, viveu os últimos dias de vida, conforme conta a irmã Marilene Pereira Feitosa, 55 anos. A alegria e esperança do renal crônico com a notícia do de rim tão aguardado, no Paraná, deu lugar ao sofrimento causado pela contaminação pelo , enquanto ainda se recuperava da cirurgia.

Rubens morava em Ponta Porã com sua esposa e tinha quatro filhos, dois ainda residiam com os pais, ele realizava hemodiálises há 3 anos pois sofria com a doença dos rins policísticos e o transplante não era uma urgência médica, no momento, explicam os familiares.

“O Rubens era saudável, ele pescava, participava das ações dele, era sorridente, fora o rim era uma pessoa muito saudável, na verdade ele tinha até medo de fazer esse transplante, mas foi encorajada pelo nosso irmão”, conta Marilene. Rivaldo é irmão de Marilene e Rubens, ele sofria do mesmo problema nos rins, doença que chegou ao fim em 2020, após um transplante de órgãos realizado em .

Ver o irmão curado e seguindo a vida normalmente foi o fator decisivo para encorajar Rubens, que decidiu se livrar do problema de uma vez por todas. “Aconteceu tudo muito rápido, porque ele entrou na fila no começo do janeiro e em poucos dias já apareceu um rim compatível e de qualquer forma a esposa dele poderia doar, então a cirurgia ia ser realizada”, conta Marilene.

A irmã conta que conversou com Rubens pouco antes do transplante, que ocorreu em um hospital no Paraná. Segundo ela, o irmão estava confiante, alegre e não demonstrava ter medo da cirurgia. “Ele disse: vou entrar, ora por mim para dar tudo certo”, disse, “e deu tudo certo”, complementou Marilene.

Ao relembrar da frase, Marilene deixa claro o sentimento de indignação consigo mesma por ter concordado com o irmão em realizar a cirurgia. “Eu não sabia que ele ia realizar o transplante, quando ele me contou já estava marcado, eu ia pedir para ele não fazer, ele estava bem e a gente sabe do perigo desse coronavírus”, contou Marilene.

A irmã conta que Rubens “morria de medo” da e da Covid-19. “Ele mal saia de casa, sempre quando ia fazer a hemodiálise levava álcool e limpava tudo, ele se preocupava tanto, que a gente se falava praticamente só por vídeo, para não correr riscos”.

Depois do transplante, a surpresa

Após meses se cuidando, e seguindo as medidas de biossegurança ao pé da letra, Rubens não imaginava que um surto de Covid-19 no hospital onde ele se recuperava da cirurgia iria tirar sua vida.

Marilene explica que o transplante ocorreu perfeitamente e ele saiu bem da mesa de cirurgia, mas o drama teve início após um surto de Covid-19 atingir o hospital. “Eu percebi que ele ficou meio abatido, fraco, pelas chamadas dava para notar, e meu outro irmão não tinha ficado assim depois da cirurgia”.

“Aí quando teve o surto no hospital, o Rubens ficou abatido e mandaram ele embora pra casa, foi quando ele testou positivo, ele foi contaminado no hospital”, disse. “Dói saber que meu irmão deu entrada dia 7 de janeiro para realizar uma cirurgia, estava saudável, e no 1° de fevereiro morreu, ele sabia que não ia resistir”, conta a irmã, alterando em momentos de alegria ao relembrar do irmão em vida e tristeza ao perceber que não o verá novamente.

Inconformada, Marilene não esquece das últimas semanas de vida do irmão. Ao dar entrada dia 7 de janeiro, Rubens passou cinco dias internado e foi liberado após o surto, quatro dias depois da alta ele retornou ao hospital, após 12 dias internado com a covid-19, Rubens foi entubado e não resistiu após três dias na UTI.

A irmã conta que o irmão já sabia que não resistiria, frágil por conta da cirurgia, ele ainda fez um último apela a irmã. “Não deixe me entubarem, porque se entubar eu sei que não vou aguentar”, relata a irmã, descrevendo a última vez que conversou com Rubens.