Jornalista, cosplayer, gamer e cientista. Essas são apenas algumas das palavras que descrevem a jovem Isabela Domingues Allaman, de 26 anos. Natural de Campo Grande e apaixonada pelo universo nerd, ela levou os jogos para fora das telas e fez um projeto de pesquisa sobre o tema no mestrado. Dos estudos à profissão, Isabela quebra tabus para empoderar a imagem feminina dentro desse segmento.

O interesse pelos games começou na família ainda criança, quando ela e o pai tinham o costume de jogar “Diablo” [jogo de computador] todas as noites quando ele chegava do trabalho. Desde então, o vínculo afetivo com os jogos cresceu junto com Isabela. Depois, comprou os primeiros consoles e o computador. No entanto, a ideia de transformar os games em profissão só veio quando entrou no mestrado.

Durante a graduação em Jornalismo, ela fazia parte de um grupo de pesquisa sobre adaptações de livros para o universo cinematográfico. Mas foi na hora de produzir o próprio projeto na pós-graduação que a jovem decidiu estudar a adaptação de Assassin's Creed — um dos seus games favoritos — para as telonas.

“Foi uma ousadia que a minha orientadora gostou e acatou. Tivemos algumas dificuldades porque essa área de pesquisa ainda está em expansão e materiais acadêmicos sobre o tema na área de narrativa são pouco comuns. Tivemos que ultrapassar principalmente a barreira da língua, mas foi um desafio interessante e que está rendendo bons frutos”, comemora Isabela.

Atualmente, a jovem está dando os primeiros passos na carreira de gamer. Além de trabalhar como professora de narrativas de games, ela também aposta no universo digital para levar ainda mais conhecimento sobre o tema com conteúdo do mundo nerd, lives dela jogando, resenha de livros e personagens de cosplay.

“Meu objetivo é passar a produzir conteúdo sobre informações acadêmicas de jogos, trazendo mais da pesquisa científica para o público de fora da universidade”, comenta.

 
 
 
 
 
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Além disso, Isabela tem um papel forte nas mídias: incentivar a imagem feminina e passar por cima do preconceito de gênero dentro dos jogos.

Assédio nos games

Como a gente sabe, o assédio no mundo dos games pode ser bem intenso e esse é o motivo de muitas mulheres se esconderem ou nem comentarem que jogam, como foi o caso de Isabela por muito tempo. Infelizmente, ainda existem muitas ideias de que esse universo é predominantemente masculino. Porém, pesquisas já mostram o contrário e revelam que, na verdade, as mulheres são a maioria no consumo de jogos.

A 7ª edição da Pesquisa Brasil mostrou em 2020 que, pelo quinto ano consecutivo, o público feminino aparece como maioria entre jogadores no país, representando 53,8% do mercado nacional. Além disso, os estudos apontaram que 69,8% do público feminino são adeptos de jogos eletrônicos, independentemente da plataforma. Mesmo assim, o assédio sofrido por elas, dentro e fora das telas, é constante.

“Com o passar do tempo percebi que a maior prejudicada com isso era eu mesma. Então, comecei a levar os comentários na brincadeira. Quando alguém fala algo como ‘você nem sabe jogar de verdade' eu respondo ‘verdade, né?' dou uma risada e sigo em frente”, revela Isabela.

No entanto, existe a esperança de que esse cenário mude conforme o público feminino estabeleça ainda mais presença nesses espaços. Mesmo com algumas barreiras, Isabela afirma que várias pessoas incentivam ela a continuar investindo na carreira e nas redes sociais. Na hora de quebrar tabus, a jovem aponta que são vários.

 
 
 
 
 
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Tabus no universo nerd

São vários preconceitos que rodeiam a comunidade nerd, a exemplo de que histórias em quadrinhos são infantis, jogos eletrônicos considerados perda de tempo e até mesmo os estigmas específicos de gênero que já comentamos acima, como “jogos não são coisas de mulher”. Mesmo assim, Isabela não se sente intimidada por esse tipo de pensamento ultrapassado.

A indústria de games é uma das mais lucrativas atualmente, ultrapassando, inclusive, o . Não acredita? Então, veja esses números a seguir: um estudo da TechNET Immersive de 2020 apontou que a indústria de jogos está avaliada em US$ 163,1 bilhões. Com isso, o setor é responsável por mais da metade do valor da indústria de entretenimento, confirmando ser maior do que o mercado de cinema e música juntos.

E não é só isso. Existem profissionais, estudos, pesquisas e especialização na área que comprovam a expansão do comércio. Isso mostra que coisas divertidas também são consideradas sérias e altamente rentáveis. Em um mercado que está em constante evolução, os games já são uma nova realidade.

“Acho que hoje sou uma das pessoas que está tentando reverter essa ideia, produzindo conteúdo, produzindo pesquisa, mostrando que existe muito para ser aproveitado desse universo. Antes da pandemia, pude participar da Comic Con Experience por dois anos e vi que nós somos muitos, então acho que aos poucos vamos conseguindo juntos”, finaliza Isabela. 

 
 
 
 
 
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