Qual o preço da saúde mental? Para muitos jovens e recém-formados de Campo Grande, a tentativa pelo reconhecimento profissional rendeu muitas dores de cabeça, traumas pessoais e até registros de boletins de ocorrência por causa de violências sofridas no ambiente de trabalho. É isso que relata o movimento #ExposedCG que está ganhando cada vez mais força na tarde desta quinta-feira (21) em Campo Grande. Na , jovens expõem experiências negativas e assédios sofridos no trabalho decorrentes de uma chefia abusiva.

Tudo começou com a pergunta: “Vocês já tiveram um patrão abusivo? Já sofreu assédio no ambiente de trabalho?”. Bastaram alguns minutos para que os relatos — a maioria de jovens — preenchessem as com experiências vividas em empresas de Campo Grande. Algumas pessoas, à parte do movimento online, procuraram o Jornal Midiamax para dar depoimentos pessoais.

#ExposedCG
#ExposedCG (Foto: Reprodução)

 

Mas antes de continuarmos com os relatos, vamos entender o que significa o Exposed CG? Trata-se de um movimento online que expõe, normalmente, crimes na Capital. A primeira vez que a ação ganhou força foi no ano passado, quando várias mulheres relataram abusos sexuais sofridos na cidade. Assim, o #Exposed se tornou um espaço acolhedor para muitas pessoas explanarem as suas vozes, principalmente quando, no passado, tentaram ser caladas.

Dessa vez, o movimento é focado nas experiências abusivas sofridas no ambiente de trabalho. O Jornal Midiamax foi em busca de algumas pessoas e recebeu o relato de tantas outras. Todos os seus nomes, bem como os das empresas, serão mantidos em sigilo para preservar a integridade dos entrevistados.

Caso foi parar na polícia

Uma mulher registrou um boletim de ocorrência com a denúncia de abuso sexual ontem (21), alegando que o chefe elogiava a sua boca e tinha vontade de beijá-la. O BO também aponta que o suspeito tentou beijar a boca da funcionária e encostou o órgão genial na sua coxa.

“Nos últimos dois anos foi quando ele começou a me assediar na frente de todo mundo. Ele não só assediava sexualmente, como psicologicamente. Ele fazia muita pressão, tudo tinha que ser no jeito dele, a gente não tinha o direito de errar, ele é super abusivo, gosta de mandar na nossa vida particular, não gostava que tivesse amizades fora da empresa depois que um funcionário saísse. Gostava de controlar tudo e sempre me disse que eu não conseguiria um emprego melhor”, disse ela ao jornal Midiamax.

Outra jovem compartilhou que se sentia ofendida durante reuniões com a chefia onde trabalhava. “Essas reuniões eram horríveis. Saíamos nos sentindo um lixo. A gente falava que era a hora do ‘roda viva'”.

Em outro relato, um jovem compartilhou uma situação, no mínimo, assustadora durante uma viagem de trabalho com o superior.

#ExposedCG (Foto: Reprodução)
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“Foi uma situação extremamente desconfortável porque eu sou uma pessoa super anti armas […] você se sente paranoico. A gente só ficava tranquilo quando ele não estava na empresa”, disse.

Outro relato aponta que a chefia da instituição onde trabalhava, na Capital, era abusiva e fora das leis trabalhistas. “Todo dia era de hora extra, mas essas horas extras não eram pagas no holerite. Era muito esforço de toda a equipe […] nós não podíamos sair no horário porque se a gente saísse no horário do contrato, éramos questionados do motivo de estarmos saindo naquele horário. Haviam colegas que ficavam no escritório até mesmo pela madrugada, até 23h e 1h da manhã em episódios de rotina”, disse. Além disso, gritos, assédios morais e ofensas eram constantes no local, segundo o entrevistado.

Confira mais relatos do #ExposedCG:

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O que diz a Lei?

De acordo com o advogado trabalhista Osvaldo Gabriel Lopes (OAB/MS: 19.365-b), o assédio moral é o ato praticado intencionalmente por sócio, diretor, gerente, supervisor ou até mesmo colega de trabalho apto a causar constrangimento, angústia, dor, sensação de impotência e inferioridade ao trabalhador. Como exemplo, ele cita: cobrança exagerada por metas; chamadas de atenção na frente dos colegas, xingamentos, apelidos pejorativos, etc.

Já assédio sexual ocorre quando, no ambiente de trabalho, uma pessoa importuna o trabalhador, fisicamente, com gestos ou palavras obscenas para obter favores sexuais. O assédio sexual é sofrido principalmente por mulheres.

“O assédio sexual constitui crime prescrito em Lei (art. 216-A do código penal), cuja pena é de 1 a 2 anos de reclusão. O Assédio sexual pode desencadear outros crimes tais como: importunação sexual (art. 215-A do código penal), entre outros”, disse o especialista.

Já o assédio moral não tem tipificação penal. No entanto, quando comprovada a prática no ambiente profissional, a Justiça Trabalhista condena a empresa ao pagamento de indenizações. “O assédio moral pode configurar a prática de crimes de injúria e difamação, a depender de cada caso”, completa.

O advogado ainda fala que pode procurar um profissional no momento em que se sentir desconfortável ou constrangido com uma situação no ambiente de trabalho.