O Dia do Poetaliteratura regional é constituída, principalmente, pelas poesias.

É o que afirma o atual presidente da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, Henrique Alberto de Medeiros Filho. Segundo o especialista, “o que mais se escreve em Mato Grosso do Sul é a ”.

Natural de Corumbá, começou a se aventurar pelos textos aos 12 anos. Desde então, passou sua infância, adolescência e estudos acadêmicos em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde se formou e exerceu parte de sua carreira profissional, retornando a Mato Grosso do Sul no início da década de 80. Depois, veio para Campo Grande. 

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Escritor Henrique Alberto de Medeiros Filho (Foto: Arquivo Pessoal)

À frente da Academia, ele afirma que existem autores maravilhosos que estão trabalhando fortemente na produção de poesias, romances e contos. Para ele, a literatura da Capital conquista vários talentos e admiradores por onde passa. Dos nomes que mais inspiram suas leituras, não poderia ficar de fora.

“O Manoel de Barros fala sobre o mundo, fala sobre a vida, ele é um poeta do mundo. Ele criou um universo vascular que tem as características do . Mas, na verdade, o Pantanal inspira o que você tem no homem em relação ao Pantanal”, explica o escritor. 

Para ele, os autores se inspiram em toda a existência humana para criar poemas, desde lugares, pessoas, olhares e interpretações, a paixão pela narrativa acompanha o momento presente. Quando você vive em um lugar cheio de encantos, esses insights podem ser ainda maiores.

“Campo Grande tem as suas belezas que podem inspirar eventualmente poemas e poesias, como o pôr do sol da cidade, o céu da cidade, a natureza que remete às ligações com o Pantanal, uma das coisas que mais eleva o nome do Estado. Tem o dia a dia e o dia a dia está tanto nos locais quanto nas pessoas, naquilo que você vivencia, naquilo que você ouve, olha, interpreta, que você sente e podem, daí, se transformarem em poesia”, afirma Henrique.

O escritor, inclusive, já se inspirou na principal avenida de Campo Grande para escrever uma poesia na década de 80. Confira alguns trechos da obra:

plena avenida

Henrique Alberto de Medeiros Filho

disfarçado em carro estacionado

na noite desse carro

nas luas dessas ruas

o ponto de partida

é ponto de esperança

meios de procura

para se chegar às expectativas

no asfalto a ingenuidade

ilusão de experiência da gatinha

 […]

na falta do sono fácil

os motivos facilitam o passar da noite

razões para o cansar e o adormecer

segue-se para casa no comando das marchas

na noite vazia

nos objetivos vazios

na próstata cheia

a noite fura em estouro merecido da vida

como um esvaziar de pneus em plena avenida

“Num determinado dia, passei em frente a um salão/espaço/estúdio de depilação, e vi uma moça saindo… Não há citação a ruas e lojas de Campo Grande… mas, há o que despertou de pensamentos e sensações”, disse. Veja o início do texto:

Depilação

Henrique Alberto de Medeiros Filho

Essa casa é de beleza.

Corpos e rostos saem remoçados,

sutis toques pessoais em cada caso.

Nessa casa se depila.

E eu, cada vez que por aqui passo,

olho nos rostos e corpos

das moças e mulheres que dali saem.

Imagino suas partes íntimas,

tão secretas, escondidas,

reservadas para entrega

aos seus seres tão especiais.

Poesia contemporânea

O poeta e compositor Rubenio Marcelo também tem várias obras inspiradas em Campo Grande. Para ele, a poesia contemporânea no Brasil está a cada dia mais produtiva, chegando a espaços vitais do cotidiano. Em Campo Grande, ela vem sendo exercitada por meio de bons autores do gênero e com ótimas obras poéticas de novos talentos. Assim, a poesia regional é significativa e forte com abordagem de temas ecléticos, do regional ao existencial.  

Poeta Rubenio Marcelo
Poeta Rubenio Marcelo (Foto: Arquivo Pessoal)

“A poesia de Campo Grande originalmente está nos olhares e sentires diversificados de cada poeta… E isto trafega pelas alamedas da cidade, do estado, e também pelas paragens do ser neste espaço (telúrico e universal). Mas esta poesia se expande e vai deixando sua marca no nosso país e no tempo”, disse Rubenio.

Das obras que produziu sobre a cidade, destacam-se textos produzidos sobre o Parque das Nações Indígenas, a Avenida Afonso Pena, o Belmar Fidalgo. É o caso do poema “Ode a Campo Grande”, que virou música gravada por Jerry Espíndola. Assim, a poesia ganha cada vez mais força no Estado, trazendo referências do passado para potencializar as produções atuais.

Manoel de Barros 

Manoel de Barros é o principal poetista que representa o Estado de Mato Grosso do Sul. Ele também foi considerado um dos principais poetas contemporâneos. Autor de versos nos quais enfatiza os elementos regionais, Manoel Wenceslau Leite de Barros nasceu em Cuiabá, Mato Grosso, no dia 19 de dezembro de 1916. Filho de João Venceslau Barros e de Alice Pompeu Leite de Barros, passou a infância na fazenda da família localizada no Pantanal.

Na adolescência, estudou em colégio interno na cidade de Campo Grande, época em que escreveu suas primeiras poesias e onde morou até a data da sua morte.