Surdo de nascença, Adriano de Oliveira Gianotto tem 38 anos e nunca deixou que as barreiras do preconceito fossem a diretriz da sua vida. Apesar das dificuldades que sempre enfrentou, desde a infância, ele não desistiu dos estudos e, na última semana, conseguiu se tornar o primeiro doutor surdo de .

O canudo do curso de doutorado em Desenvolvimento Local, na Católica Dom Bosco (UCDB), só foi conquistado porque Adriano expõe as necessidades da comunidade a qual pertence e luta para que ela ganhe, cada vez mais, espaço na sociedade.

Sua intimidade com os livros começou desde cedo quando ele ainda frequentava o Centro Estadual de Atendimento ao Deficiente da Audiocomunicação (Ceada). Depois a vida acadêmica do campo-grandense passou pela Adventor Divino de Almeida e continuou na faculdade de Pedagogia onde conseguiu se formar com êxito.

Nessa trajetória, em busca de melhorias para os surdos, o pedagogo teve a pesquisa como aliada no doutorado com o tema “O protagonismo da pessoa surda do ponto de vista do desenvolvimento local”. O trabalho trouxe um resgate histórico em relação à educação voltada para esse público, em Mato Grosso do Sul, e propôs meios de inserção dos surdos nas instituições de ensino. Além de pesquisa bibliográfica, o estudo faz uma análise qualitativa a partir de entrevistas com surdos e ouvintes.

O doutor conta que durante a faculdade chegou a se sentir “invisível” e também sofreu muito bullying.

“Não desisto, este é o esforço de estudo no caminho do sonho. Sou corajoso, guerreiro, vencedor e tenho fé.”

As palavras de motivação nem parecem ser de um aluno que driblou todo tipo de empecilho.” A comunidade surda precisa de mais incentivo e de mais oportunidades.”

Adriano sabe da importância da sua formação para as próximas gerações. O pedagogo faz questão de espalhar sua alegria e não esconde o orgulho que sente de si. Ele ainda conta que, na família, o único surdo é o tio Antonio Domingos Gianotto, responsável por ser o incentivador principal de Adriano.

“Busquei analisar o processo de inclusão linguística e social da comunidade. Pretendi evidenciar o surdo, a nossa língua, a nossa cultura, a nossa identidade e as práticas educacionais e sociais que já estão sancionadas legalmente e que por não terem sido implementadas agravam a exclusão social dos surdos. No decorrer desta pesquisa, me deparei com situações que ‘desterritorializam' linguisticamente o povo surdo, como a ausência de visibilidade, de protagonismo e de lutas pela valorização da língua e de seus usuários natos”, expôs Adriano.

A partir da pesquisa,o doutor ressaltou que pretende contribuir com a própria comunidade.

“Eu quis trazer à tona esta temática e colocá-la em pauta para possíveis reflexões e ações que visam diminuir as barreiras sociais; ajudar com novas propostas nas legislações municipais; ampliar o desenvolvimento local, no sentido linguístico do termo, e promover o entrelaçamento linguístico entre surdos e ouvintes.”