No caminho para a sede do CREA (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Mato Grosso do Sul), imaginava que estava indo a um evento da mais alta classe artística de , onde seria praticamente impossível chegar aos pés de meu entrevistado.

Diferente da minha visão platônica da arte sul-mato-grossense, ao chegar ao prédio, as portas estavam fechadas. Ao me aproximar da grande porta espelhada que dá entrada ao hall, uma figura familiar, mas ainda não oficialmente apresentada, colocou a cabeça para fora da janela ao lado porta e nos indicou que entrássemos pela recepção.

Depois de descer alguns lances de escada, nos deparamos com uma sala cheia de obras de artes, mas carente em pessoas. Dois homens e uma mulher ruiva sentavam-se na grande e única mesa que se encontrava na sala. O nosso, estava de costas. Com o nosso anuncio de “boa tarde”, igualmente nos cumprimentou amigável e começamos com a Vernissage de Márcio Correia da Costa Júnior.

Quebra de Hiato

Os quadros são, em sua maioria, pintados na frente e no verso com figuras que se completam e escondem segredos que são encontrados a cada minuto de acréscimo

Depois de trocar arte por comida, artista campo-grandense faz primeira exposição de obras
(Foto: Minamar Junior)

que se tira para apreciá-lo. Pássaros, rostos, cavalos, índios e bugres ilustram as cerca de 20 telas expostas. Ao redor dos desenhos, textos da poesia e mitologia que Márcio também escreve, complementam a interatividade do multi angulação imergindo o apreciador em cada narrativa contada na exposição.

Em todas suas obras pode-se percebem que Márcio tem a percepção de utilizar sua inspiração repentina em um instrumento para mesclar objetos e referências da história clássica com a realidade regional e moderna de Mato Grosso do Sul. Um dos exemplos é o quadro que batiza de “Tereré Chique”, misturando tendências gregas com a bebida típica do centro-oeste.

O Toque da Seda

Mas nem todos os quadros falam sobre a mitologia e cultura sul-mato-grossense. Entre as telas, uma destaca-se pela moldura dourada e pelo desenho. Uma mulher ruiva deitada sensualmente em um sofá de sala com dois bem-te-vis à la Rose de Titanic. O desenho, segundo Márcio Correia, foi feito no tecido do vestido da musa.

Depois de trocar arte por comida, artista campo-grandense faz primeira exposição de obras
O autor, a musa e a obra. (Foto: Minamar Junior)

Me pego imaginando que já havia a visto em algum lugar. Então percebo que era a mulher sentada à mesa quando chegamos. Uma das musas de Márcio, e amiga de longa data. Escritora, diz admirar o trabalho amigo e reitera a capacidade do artista de se mergulhar na intuição e inspiração diárias.

“Além dessas 20 peças, na casa dele há mais de 2.000, possível de fazer 100 outras exposições como essa. Também uma pilha de cadernos de 30 matérias que eu o presenteio e que, se transformados em livros, seriam pelo menos 10”, relatou.

De Marilyns a deusas

Nos tempos do auge da carreira de artista e da beleza, Márcio conta que as mulheres o procuravam para serem desenhadas através de seus olhos. A maior inspiração era Marilyn Monroe.

“Todas queriam ser como Marilyn. Hoje, desenho todos como o personagem que desejarem. Deuses gregos, super-heróis e por aí vai. Sempre fico ou na Bom Pastor ou no Sesc dos Baís”, conta o artista que depois que 15 anos em hiato, fará sua primeira vernissagem e exposição depois de ter deixado de expôr e cuja história já contamos aqui no MidiaMAIS.

Serviço

A exposição aberta ao público acontece nesta quinta-feira (18) às 20h no CREA-MS e contará com apresentações de grupos de danças, entre elas o flamenco. A entrada é gratuita e as obras do autor estarão disponíveis para a venda. Mais informações pelo telefone (67) 3368-1026.