Nos ônibus da cidade, artistas viajantes deixam um pouco da cultura de onde vieram

Juan e Julian estão na estrada há seis meses e pararam em Campo Grande

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Juan e Julian estão na estrada há seis meses e pararam em Campo Grande

 

Sair por aí, sem destino e hora para voltar. O sonho de boa parte das pessoas que estão imersas nas cansativas e entediantes rotinas de trabalho é basicamente o lema dos viajantes Julian Moralez Burbano, 31 anos, colombiano, e Juan Manuel Hurtado Cervantes, 37 anos, peruano. A dupla está em Campo Grande, onde fazem uma parada em meio à uma longa viagem pela América Latina, na qual o Brasil é invariavelmente parte de qualquer rota. E vida de viajante é assim: em cada parada, novas pessoas, novas culturas e um novo causo para contar. Imagine só, portanto, o que ambos trazem na bagagem de memórias.

Foi o que buscamos descobrir. Atraída por um vídeo postado nas redes sociais, no qual eles tocam instrumentos num dos ônibus urbanos da cidade, a reportagem encontrou junto a Juan e Julian mais que um relato sobre a vida na estrada, mas um relato sobre a diferença cultural entre o Brasil e o resto da América Latina – pelo menos nos países pelos quais a dupla já passou.

“Quando nos conhecemos no litoral peruano, há cerca de dois meses, planejamos seguir viagem e passar pelo Brasil. Se eu não tivesse encontrado o Julian, estaria seguindo viagem sozinho. Eu teria poupado uma grana no Peru e pago uma passagem direto de Corumbá ao Rio de Janeiro. Mas por conta dele conheci o Couchsurfing e a gente acabou parando por Campo Grande”, relata Juan, em mais autêntico portunhol.

“Sempre quis conhecer o mundo, outras culturas e países, sair registrando essas diferenças. Mas como em toda viagem, a gente sai com alguma quantia em dinheiro que acaba e de repente precisamos parar e replanejar a rota, para para juntar dinheiro”, explica Julian. É o que fazem no Brasil neste momento. Na cidade, eles entram no transporte coletivo, presenteiam os passageiros com canções e depois passam o chapéu. Muitas vezes, são até aplaudidos. E sem dúvida, promovem um clima diferente nas viagens dos trabalhadores campo-grandenses.

Diferenças culturais

Na rodoviária de Campo Grande (Juan Manuel/Arquivo pessoal)

Julian está mais empolgado com o Brasil, basicamente por ser a primeira vez que anda para os lados de cá. Já o nível do português de Juan entrega que ele conhece bem a ‘casa’. “Morei no Rio de Janeiro por três anos”, relata. Mesmo assim, tudo parece ser novidade e a mente demora um pouco a adaptar-se às diferenças culturais. Mesmo em tempos de conservadorismo escancarado, pasme! Os viajantes consideram o Brasil mais liberal. “Aqui se tem certas liberdades, coisas que normalmente jamais fariam em nossos país, que são muito mais machistas que o Brasil, por exemplo”, narram.

Julian mantém um canal no youtube, no qual relata cada passo de sua viagem ‘sem rumo’. Cada parada, um novo vídeo. Cada vídeo, uma etnografia de onde estão. O primeiro vídeo do Brasil, que relata a chegada desde a fronteira Bolívia-Brasil por Corumbá a entrada em Campo Grande já está no ar.

As imagens já mostram o apartamento de Pedro e Tainá, o casal que acolheu a dupla de amigos em Campo Grande. “A gente nunca foi recebido por alguém em viagens, mas a madrinha do nosso filho, que viaja com frequência, já. Por isso decidimos receber pessoas em casa. Tem a ver com a gente, já que meu marido também é músico. E é uma forma de agradecer às pessoas que recebem nossa amiga pelo mundo”, relata Tainá.

 

Na casa de Tainá, o clima é de festa com os visitantes (Guilherme Cavalcante/Midiamax)

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