Espetáculo apresenta questões modernas sob a ótica de uma mãe

“Três Vírgula Quatro Graus na Escala Richter”, de Nill Amaral, esteve em cartaz no Sesc Horto

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“Três Vírgula Quatro Graus na Escala Richter”, de Nill Amaral, esteve em cartaz no Sesc Horto

O nome da peça não revela muito sobre seu enredo, mas talvez isso seja proposital. “Três Vírgula Quatro Graus na Escala Richter”, espetáculo teatral apresentado em uma curta temporada no Sesc Horto nos dias 4, 5 e 6 de fevereiro, na Capital, é um espetáculo dirigido por Nill Amaral, com texto de Éder Rodrigues, e lotou sessões, mas não por acaso. Com elenco robusto e elementos de cena interessantes, desfila inúmeros significados dentro de um enredo coeso e extremamente atual. 

Madona, a personagem principal, interpretada pela atriz Nadja Mitidiero, é uma mãe “comum”, uma dona de casa que dedica sua vida ao marido e aos três filhos. Em uma casa onde nada fica fora do lugar, ela conhece cada canto e cada morador. Mas sua família parece não a conhecer mais. Não sabe, de verdade, quem ela é. Cansada, sentindo “tremores” que ninguém mais parece sentir, ela decide contratar a figura de Dona Marta (Luciana Kreutzer), uma “especialista em despedidas”. São esses “tremores” que só ela sente, como um terremoto metafórico, que a fazem entender que algo está errado em sua vida. Apenas ela sente o abalo. Junto com Marta, as duas devem realizar um trabalho de desligamento daquela mãe, sem que a família note que ela se vai. 

O questionamento que permeia o texto é o exercício de não se esquecer de quem você é. “Sabe quando você espia e fica imaginando o que seria de você se tivesse feito outra escolha?”, afirma Madona. O processo de questionar-se a torna infeliz, e ela acredita que não pertence mais àquela vida. Com isso, provoca inquietações no próprio público, tornando esse questionamento quase universal. 

Outro ponto que pode ser entendido sobre a peça é a questão da mãe como uma figura revestida de grilhões subjetivos, por sua condição. A dona de casa precisa ser dedicada à família, que abdica de sonhos e de sua personalidade própria, pela obrigação de gerir um lar e os anseios de todos que vivem ali, menos os seus. Apagada, conformada, ela teme se tornar uma peça da mobília, sem ser notada por ninguém. Em um sistema onde muitas mulheres ainda acreditam que esse seja seu papel, a busca de Madona por personalidade, vida e liberdade, se torna ainda mais importante. 

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