Eles também apontam parcialidade da imprensa brasileira

 

Seja do além-mar ou em países vizinhos, brasileiros que moram fora do Brasil têm, hoje, na internet, oportunidade de acompanhar em tempo real as notícias do país de origem. E – vale ressaltar – não só pela transmissão on-line feita pela mídia brasileira, mas também pela cobertura jornalística que os próprios gringos fazem.

Brasileiros que moram fora relatam o que há nas notícias sobre o BrasilEste, a propósito, é tema polêmico. As notícias de jornais como The New York Times (EUA), El País (Espanha), Le Monde (França), The Guardian (Inglaterra), CNN (EUA) e vários outros têm divergido dos conteúdo apresentado pela imprensa brasileira e descrevem o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff como uma tentativa de golpe.

No Brasil, o assunto é mencionado pelos grandes conglomerados, como Folha de SP, Rede Globo, Estadão e vários outros, mas sem análises e somente nas falas de defensores do governo. Não há posicionamentos, a não ser de veículos historicamente alinhados, como as revistas Veja (à direita) e Carta Capital (à esquerda).

O MidiaMAIS procurou brasileiros que moram no exterior para saber qual a percepção que eles têm dos fatos políticos que têm revirado a estrutura do país nos últimos meses, sobretudo o impeachment de Dilma Roussef e os protestos populares.

Jornais internacionais

Priscilla Dieb prefere jornais internacionais aos brasileiros / Reprodução / FacebookPara a diretora de arte, produtora e blogger Priscilla Dieb Cavalcante, 37 anos, que reside em Amsterdã há mais de uma década, a mídia brasileira assume uma cobertura bastante parcial dos fatos, inclusive das manifestações públicas pró e contra o impeachment. Ela acompanha as notícias pela internet e também pelos portais de notícia internacionais, porque acredita que haja menos interesses políticos de jornais gringos em manipular informações.

“Daqui de Amsterdã acompanho as notícias através dos jornais locais, ingleses, espanhóis e franceses, que falam do impeachment como um grande desrespeito à democracia brasileira. Não é uma questão de ‘se devemos ou não concordar com as falhas do atual governo’ e sim tentar causar um dano ainda maior por destituir sem nenhuma razão legítima, a atual presidente em virtude do interesse de empresários ou cidadãos de classe média que gostariam de dar um ‘salto’ maior que a própria economia do país”, relata.

Para Priscilla, outro fenômeno que observa é que brasileiros que moram fora do país criticam a política assistencialista desenvolvida na Era PT. “Mas aqui, eles se beneficiam direta ou indiretamente dos programas sociais. O problema do Brasil, vai além da corrupção governamental; começa no dia a dia do próprio cidadão brasileiro”, afirma.

Corrupção que assusta

O barista Tiago Alencar, que mora em Paris há 2 anos, afirma que nunca leu tanto sobre corrupção no Brasil como recentemente. “Sai nos jornais daqui, nos jornais daí. O que acontece no Brasil importa, não interessa o que seja. Impeachment e corrupção é tudo o que a gente tem lido, dá a sensação que no Brasil só tem desonestidade. Mas os jornais da Europa tratam a notícia com mais isenção. A gente percebe isso muito claramente. Eu lamento por quem só lê as notícias feitas pelos jornais do Brasil”, aponta.

Para Letícia, corrupção noticiada assusta e envergonha / Reprodução / FacebookPara a fisioterapeuta Letícia Castro Sousa,que mora há 8 anos no Chile, acompanhar as notícias brasileiras, independente do jornais que fornece a informação, também é constatar o perfil desonesto da política brasileira, o que chega até a assustar. “Eu sigo as notícias de forma muito presente e me sinto assim mesmo morando fora há oito anos. Sinto vergonha. Sinto impotência, raiva, mas tenho a capacidade ainda de me surpreender com os fatos, pois acredito em uma melhora, não em mudança. Aqui no Chile as pessoas se surpreendem mais do que eu com o que é noticiado daí, mas o Chile não está longe da corrupção. Talvez não em um estado tão avançado como no Brasil, mas também tem escândalos”, afirma.

A sul-mato-grossense e professora de inglês e português Iris Zelada, que mora nos Estados Unidos, também observa de perto a cobertura política do Brasil. Ela também acompanha notícias pelas redes sociais, pela família e em portais brasileiros e americanos – nestes, destaca que os casos de corrupção evidenciados em operações como a Lava Jato foram bastante explorados.

“Apesar de estar longe, estou ligada direto no que está acontecendo através das mídias sociais, da troca com família e amigos. Chega tudo aqui. Eu fico triste pelas coisas que estamos lendo e assistindo, principalmente pelos escândalos de corrupção. Mas, ao mesmo tempo, fico pensando que já é algo inédito o que anda acontecendo, dá uma esperança de no futuro. Havia muita impunidade”, considera.

No mundo todo

Marília Jardim, que mora em Londres, também prefere portais internacionais / Reprodução / FacebookMarília Jardim, 30 anos, reside em Londres há cerca de dois anos, onde é pesquisadora e professora na London College of Communication. Ao MidiaMAIS, ela destacou que a onda conservadora que se observa no Brasil é um fenômeno mundial e arriscou uma análise, na qual afirma que cultura de atropelar leis vigentes para alcançar objetivos pessoais – a exemplo do impeachment e das artimanhas do deputado federal afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) não é exclusividade do Brasil ou dos nossos políticos. Ela também destaca que evita os grandes portais brasileiros e que prefere os portais internacionais para manter-se informada.

“Acompanhando os eventos pelas coberturas independentes, evitando os grandes jornais brasileiros que se tornaram explicitamente partidários, e também pelos principais jornais do Reino Unido, da França e dos Estados Unidos. Percebo que o brasileiro que aparece é o egoísta, preocupado com os interesses da própria classe, cor, e orientação sexual, e que pouco se importa com o cumprimento das leis, ou o respeito ao sistema político vigente. O brasileiro que nós vemos de fora é o perfeito reflexo do que ele diz odiar e condenar”, conclui.

 

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