‘Achava que seria a nova Máquina de Guerra’, diz desenhista Mike Deodato Jr.

Em algum lugar nos alojamentos do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (M.I.T., da sigla em inglês), na sétima edição dos quadrinhos “The Invincible Iron Man”, uma aluna reclama do barulho vindo de um dos quartos. Mal sabe ela que o distúrbio é criado por aquela que virá a vestir a armadura do Homem de Ferro em um futuro próximo, Riri Williams — ironicamente, o mesmo aconteceu com um de seus criadores.

Mike Deodato Jr. (nome artístico do paraibano Deodato Taumaturgo Borges Filho), desenhista brasileiro que trabalha há anos ilustrando diversos títulos da Marvel, conta ao G1 que não imaginava que a personagem, uma negra gênio de 15 anos, fosse anunciada nessa quarta-feira (6) como a substituta de Tony Stark.

Ao receber o roteiro criado por Brian Michael Bendis, cocriador da heroína e atual responsável pelas histórias do Homem de Ferro, o artista não fazia ideia de sua futura importância.

“Fiquei sabendo agora com a entrevista do Bendis”, explica Deodato, por telefone, sobre a revelação feita pelo roteirista à revista “Time”.

“Eu achava que ela ia ser a nova Máquina de Guerra. A Marvel não fala nada, né”, conta ele, sobre o herói que originalmente era o alter ego de James Rhodes nos quadrinhos e nos filmes. Melhor amigo de Stark, o militar sofreu recentemente um desfecho trágico nas HQs.

 

Personagem Riri Williams / Foto: Divulgação

 

Criação

Já o processo de criação de Williams não foi muito diferente do que sempre acontece, mesmo considerando sua importância. Com dezenas de páginas para entregar, o ilustrador não tem muito tempo para sentar e discutir todos os aspectos com o escritor. “Foi como todas as vezes que eu criei um personagem com um autor. Você quase não conversa. Nosso meio não tem muito tempo pra pensar.”

No meio da correria, ele pelo menos conseguiu acrescentar uma característica própria à futura heroína. “Adicionei o que sempre achei legal, que foi aquele cabelo afro estilo Misty Knight, aquela amiga do Punho de Ferro”, diz Deodato.

“A personagem é mais construída ao longo da história, ao invés de já vir do esboço. então eu vou ajeitando e pensando em coisas como a idade dela. O jeito dela falar é mais de uma adolescente, assim como a maneira como ela senta, sorri”, afirma. “Até a armadura dela ainda é feita meio nas coxas, mas vai se desenvolver.”

Segundo ele, Stark vê na jovem mais que um reflexo de si mesmo. Com uma bolsa de estudos integral em um dos principais centros de pesquisa tecnológica dos Estados Unidos aos 15 anos, o super-herói vê em Williams alguém que pode superá-lo.

“Ela é um gênio, tem um QI maior que o do Stark, mas ainda é muito parecida”, conta. Apesar das semelhanças, a futura Homem de Ferro (Mulher de Ferro? Garota de Ferro? A Marvel ainda não confirma o título oficial) tem na idade sua maior diferença. “O Tony sempre pensa muito antes de agir e ela é mais impulsiva, mas acho que é mais algo de adolescente mesmo”, afirma.

Novos leitores

Williams é apenas o exemplo mais recente de uma série de mudanças apresentadas pela Marvel nos últimos anos em seus principais super-heróis. Em 2011, o latino negro Miles Morales substituiu Peter Parker como o Homem-Aranha em uma linha paralela da editora e encabeçou uma série de mudanças.

Atualmente, os leitores encontram um Capitão América negro, uma mulher como Thor, uma Capitã Marvel, um Hulk asiático e uma Ms. Marvel muçulmana. Mais do que diversificação, tais mudanças rejuvenescem o elenco da Marvel. Assim como Morales, os dois últimos são adolescentes, criados nas duas últimas décadas.

“Acho que a ideia é atrair novos leitores, porque o leitor americano envelheceu”, diz Deodato. “É um público que não se renovou. A maioria tem mais de 30, 40 anos, e a digitalização ajudou, mas ainda não refletiu nos mais jovens.” Para ele, é difícil que o leitor novo consiga se identificar com personagens que trazem consigo mais de quatro, cinco décadas de história. “Os principais heróis da Marvel existem há mais de 50 anos.”

Saindo no braço

Tantas mudanças nem sempre são bem-vindas, principalmente em um mercado com um público que, apesar de pensar o contrário, na maioria das vezes se mostrou bem conservador. Mas o brasileiro não se preocupa com as críticas, desde que as transformações se traduzam em boas histórias.

“Tem que ter mudança sim, não pode ficar o personagem o tempo inteiro a mesma coisa. Os heróis precisam de conflito sempre. Quando botaram o Doutor Octopus na mente do Homem-Aranha muita gente reclamou, mas eu achei maravilhoso, criou histórias muito boas”, afirma.

“Escolho pessoas que eu confio na opinião para me dizer se está bom ou não. Não dá pra escutar a internet inteira. Quadrinhos é um negócio muito louco mesmo, mas ninguém me enche muito porque sabe que eu saio no braço”, ri ele, que deve trabalhar no título do herói apenas por mais quatro edições.

Deodato foi informado há um mês sobre a identidade do personagem que passará a desenhar em janeiro. Ele ainda não pode revelar qual é, mas a editora fará o anúncio em setembro. Dessa vez, pelo menos, não devem haver surpresas tão grandes no futuro do desenhista.