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Apenas 20 minutos com Glória Kalil foram uma aula sobre a moda brasileira

Empresária soltou o verbo e falou sobre como a moda vem sendo feita no país
Guilherme Cavalcante -

Glória Kalil é chique, absolutamente chique. Ou melhor, ‘chic’, como está estampado nos livros que publicou. Ela própria, inclusive, é o melhor exemplo daquilo que defende nas palestras: ser chique – fica claro ao observar como ela responde perguntas – é questão de estilo, atitude e, principalmente, educação.

A empresária esteve em Campo Grande na noite da última quarta-feira (4), para uma palestra especial pelo dia das mães, promovida pelo Shopping Campo Grande. Pouco antes do início, Kalil concedeu 20 minutos de seu tempo a uma coletiva de imprensa.

O que ninguém imaginava, entretanto, é que em tão pouco tempo tivéssemos uma aula tão completa de ‘História da Moda Brasileira’. Nada de dicas de moda, como combinar cores ou dar um nó no echarpe: já bem no início, Kalil abraçou o papel de ‘professora’, o que curiosamente deixou em segundo plano o tema de seus livros. Ser chique, claro, é saber falar sobre moda brasileira, indústria e a crise no setor. E ela soltou o verbo com eloquência, sem nenhum tipo de autocensura.

Inevitável, neste caso, não revisitar a própria carreira: Kalil é um exemplo de que se reinventar durante os períodos de recessão é uma das saídas para manter-se no nicho. No final da década de 1970, ela trouxe ao Brasil a marca italiana Fiorucci. E cerca de uma década depois viu seu negócio desestabilizar-se com o desastrado processo de abertura econômica implementado pelo então presidente Fernando Collor de Melo. E, daí, surgiu a Glória que a gente conhece: jornalista, crítica de moda, consultor e escritora.

Glória também estreou, recentemente, como figurinista de uma montagem brasileira de ‘Gata em Telhado de Zinco Quente’, dirigida por Eduardo Tolentino. “Está sendo uma experiência interessante. A gente está acostumada a trabalhar com modelo, que não fala, não dá palpite, não diz ‘quero, não quero’, tudo que põe fica bom. Com atores já não é assim. Um tem coxa, outro tem barriga, se puser esse vestido a personagem não vem. É completamente diferente. Na moda, o modelo está lá para valorizar a roupa enquanto para o figurinista a roupa está lá para valorizar o personagem e o ator”, revela.

Moda, crise e criatividade

Uma das perguntas direcionada à empresária foi se o Brasil não subaproveita um eventual potencial para exportação da moda praia. Kalil deixa claro que o problema ‘é mais embaixo’, até porque hoje, quem dá as cartas é o consumidor, não mais a indústria e o comércio, como antigamente – afinal, as pessoas não buscam, atualmente, simplesmente estar na moda, buscam representar uma identidade.

“Veja que há uns anos, num evento de moda que trouxe muita gente de fora, eu e a Regina Guerreiro fomos responsáveis por montar um pavilhão sobre a moda brasileira e foi então que eu me perguntei: como é que a gente vai fazer? Isso porque eu entendi que a gente não tinha uma moda de vitrine. A nossa moda precisa de corpo, e aí ela funciona”, acrescentou.

“Talvez pela própria circunstância climática nós tenhamos uma criatividade no uso da moda praia e da moda casual. A gente tem como explorar isso, é um nicho onde temos possibilidade de propor modos de uso. Mas, ainda não somos um país que exporta. Nosso nicho será sempre esse: onde vamos ter chance é na linha do casual”, avaliou.

Fiorucci, anos 80, abertura econômica

Glória deixou bastante claro que em seu período como industrial, no final de 1970 e toda a década de 1980, o país vivia circunstâncias diferentes. “Era outro mundo. A Fiorucci era uma marca italiana, mas naquele tempo o Brasil era fechado para importações. Então tudo tinha que ser fabricado aqui. Eu ia lá, pegava o mostruário, selecionava o que eu achava que ia funcionar e a gente fabricava aqui. Foi algo muito interessante para o desenvolvimento de uma série de produtos que depois passaram a fazer parte da moda”.

Kalil refere-se, no caso, a como a necessidade de matéria-prima no Brasil décadas atrás impulsionou um mercado têxtil, processo do qual teve enorme participação. “A Fiorucci da Itália era uma coisa extremamente jovem e inovadora, sobretudo na questão dos materiais. Lembro que eles faziam um maiô de borracha e eu quis trazer para o Brasil. Mas, e pra eu conseguir borracha pra fazer o maiô aqui? Quando você conseguia, chegava numa fábrica de luva de borracha cirúrgica, chegava lá só tinha cor de pele e eu queria um rosa, um turquesa, um amarelo. Tinha essa limitação e se a gente queria, tinha que criar. Quer dizer, eu desenvolvi muitos produtos em conjunto com indústrias brasileiras. Nylon, por exemplo, só tinha azul marinho, laranja e preto. Foi interessante”, diz.

‘Questão de prova’

Àquela altura, todos os jornalistas já tinham entendido que estavam, de fato, numa aula sobre a história da moda brasileira. E a ‘professora’ lembrou, também, a ‘questão de prova’ que às vezes teimamos em ignorar. “A indústria têxtil sofreu um abalo gigantesco em 1990 com o Collor. Nossa indústria era protegida, era proibida a importação. Uma das primeiras medidas quando ele foi eleito – acertada, na minha opinião – foi abrir essas fronteiras. Mas, tem que ter um projeto de inserção das indústrias nacionais”.

Golpe de mestre. Com essa informação esquecida no fundo das gavetas, Glória Kalil arrematou todas as perguntas. De fato, não existe criatividade que sustente a falta de estrutura na produção – cenário decorrente da abertura dos mercados sem qualquer plano de integração da indústria nacional.

“É o mesmo que você pegar um bebezinho, jogar no meio da rua e dizer ‘te vira’. Foi quando a indústria têxtil quebrou. Nunca mais se investiu em tecelagem, tanto que grande e importantes fábricas fecharam. E uma coisa que agrava essa crise no Brasil é que nós não temos matéria-prima. É tudo importado. Se de repente o dólar aumenta, a coisa piora. E não pode ter greve no porto, não pode atrasar mercadoria… Então há muito tempo que a indústria vem sofrendo e com a crise ela só piora. Só que não é de agora”, concluiu.

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