Casais contam como é passar maior parte do dia junto

Para muitos, é missão impossível. Para outros, complicado. E há quem diga que pode ser maravilhoso. Eles sempre evitaram trabalhar juntos. Até que o sonho dos dois poderia ser realizado de uma só vez, mas com um adendo: ambos seriam contratados e passariam o dia inteiro juntos. Se fosse você e o seu namorado, o que vocês fariam?

Na série #TEAMO – especial de Dia dos Namorados, o MidiaMAIS traz nesta reportagem, história de namorados que também trabalham juntos.

Para o casal Mariana, 29, e Gustavo Monge, 30, o convite passou por intensas reflexões, até que ambos decidiram mudar de vida e encarar o desafio. Os dois profissionais de jornalismo de Campo Grande resolveram se mudar para Belo Horizonte para trabalhar em uma empresa de televisão da Igreja Católica, no melhor estilo William Bonner e Fátima Bernardes e realizar este sonho comum.

Juntos há mais de onze anos, eles se conheceram na faculdade, mas o namoro veio só depois. Desde o início recebiam propostas na mesma empresa e recusaram por diversas vezes. “Nós tínhamos muito medo de um invadir o espaço do outro, do trabalho influenciar na nossa vida e de não sabermos separar as coisas”.

Com o trabalho diário e as desavenças do dia-a-dia que nos acompanham mesmo em pensamento, encarar o outro acaba ficando difícil no ambiente de trabalho. “No início foi complicado. A gente brigava bastante, mas tivemos que aprender a respeitar um ao outro como profissionais e deixar os problemas de trabalho na produtora, sem levar para casa. E isso acabou nos ajudando na nossa vida, estamos aprendendo cada vez mais a respeitar o espaço do outro e nossos limites”, diz Mariana.

E a parceria, que começou briguenta, já dura 11 meses e deu tão certo que atualmente os dois apresentam um programa sobre relacionamento na emissora, o DR. “Tentamos não falar de trabalho em casa, mas não tem jeito. O jornalismo é a nossa vida e isso nos dá ainda mais cumplicidade”.

“Nem pensar”

Mas há também uma Mariana neste mundo que nem sonha em trabalhar com o namorado. A advogada Mariana Bertelli, 24, conheceu seu amor, Arthur Andrade Coldibelli Francisco, 24, em um congresso de Direito da faculdade. “Eu estava trabalhando e ele estava assistindo as palestras. Um amigo em comum nos apresentou… isso já faz seis anos”.

O casal, que já viajou até para a Universal Studios, não quer trabalhar junto. Na verdade, Mariana não quer. “No final do ano passado, ele abriu o escritório de advocacia, exatamente no momento que eu queria mudar de ambiente. Mas depois de pensar bem preferi procurar mais um pouco e manter a nossa independência profissional”.

Mariana diz que não se arrepende da escolha. “Fiz certo, estou feliz no meu trabalho e adoro sentir essa saudade dele. A gente se ajuda, um dá opinião nos processos do outro, mas sem a relação profissional de carteira assinada”, afirma.

Convivência “forçada”

O jornalista fotográfico Cleber Gellio, 34, e a jornalista Jéssica Benitez, 27, já trabalharam juntos por duas vezes. Prestes a encararem o terceiro emprego juntos aqui no Jornal Midiamax, os dois contam que foram praticamente forçados pelo destino a não se desgrudar.

Jéssica tinha apenas 19 anos quando foi para Portugal morar com a irmã. Antes de ir, passou as férias em São José do Rio Preto com ela e o então cunhado na casa daquela que viria a ser sua futura sogra também. Antes mesmo de conhecer Cléber, que estava em Portugal morando com o irmão, ela dormiu no seu quarto, na sua cama.

“Uns dias depois que eu havia chegado, minha irmã pediu para o Cleber me levar para conhecer a cidade à noite. Mas sem intenção de nos unir, foi só para sair um pouco mesmo. Fomos com um amigo dele num bairro que só tem barzinhos, muito bacana. Uns chops aqui, outros ali… acabou que nos beijamos pela primeira vez na escadinha de João de Deus. Não pensei que fossemos continuar juntos”.

Depois de passarem sete meses fora do país, os dois voltaram ao Brasil. Cleber já era da área e Jéssica fez faculdade de jornalismo no Mato Grosso. Após muitas dificuldades e trabalhos até mesmo fora da profissão, ambos trabalharam em uma revista. Era a primeira vez que Cléber atuava como fotógrafo.

“Uma vez a dona da revista, que também tinha uma pousada perto de Cuiabá, nos enviou para passar um dia lá para fazer uma matéria. O lugar era lindo, nós trabalhamos o dia todo e à noite dormimos lá, tudo por conta da empresária. Ela sabia que a gente era um casal e acreditou no nosso trabalho e visão para descrever o lugar. Foi uma troca de histórias, porque contamos a nossa aos hóspedes e eles a deles.”

Depois disso, o casal resolveu vir para Campo Grande, onde trabalhou em um jornal online e, por uma proposta melhor, Jéssica mudou de trabalho. Às vésperas do Dia dos Namorados, os dois voltam a trabalhar juntos.

“É difícil, às vezes rolava briga em casa e quando a gente chega ao trabalho tem que fingir que está tudo bem. Mas isso até contribui para a briga passar. Ao decorrer do dia a gente acabava esquecendo o motivo da discussão e tudo voltava ao normal. O Cleber é muito tranquilo, então mesmo quando eu tomava “ralo”, ele não interferia em relação aos colegas de trabalho ou de horário de plantão. Tem que ser cada um por si”, defende.

Compreensão

Segundo uma pesquisa divulgada pelo International Stress Management do Brasil (ISMA-BR), realizada com 608 casais que trabalham juntos, quanto mais próximos na empresa, maior a possibilidade de os conflitos pessoais atrapalharem o desempenho profissional. Cerca de 11% dos entrevistados com igual ocupação na mesma empresa afirmaram que os atritos da vida pessoal tendem a interferir no aspecto profissional. Já entre os casais que atuam na mesma companhia, mas em ocupações diferentes, esse índice cai para 6%.

Por outro lado, casais que trabalham juntos tendem a compreender melhor as angústias e a carga horária do parceiro e demonstram produtividade elevada. Em geral, eles ficam cerca de 12 horas diárias no emprego, enquanto a média nacional é de 9 horas.

Cerca de 80% dos casais que participaram do estudo e atuam na mesma ocupação e na mesma empresa demonstram ter baixo nível de conflitos na relação trabalho e família, lidam com mais eficiência no que se refere às demandas diárias e proporcionam mais apoio emocional mútuo. Por consequência, sofrem menos exaustão emocional, a chamada “síndrome de burnout”.