Há uma semana, escolas municipais, estaduais e postos de saúde em todo o País começaram a vacinar meninas entre 11 e 13 anos de idade contra o HPV (papilomavírus humano). Nas escolas que o R7 visitou em São Paulo, Minas Gerais e Brasília, na última semana, foram poucos os casos em que os pais não autorizaram que suas filhas fossem vacinadas. Com a vacina se criou, segundo as mães, uma oportunidade para falar sobre “assuntos delicados”. A meta do governo federal é vacinar 80% do público-alvo, formado por 5,2 milhões de meninas.

Em São Paulo, a reportagem esteve no Emef (Escola Municipal de Ensino Fundamental) Cassiano Ricardo, no Sacomã, zona sul da capital e acompanhou o primeiro dia de vacinação. De acordo com o coordenador pedagógico, Mauricio Sousa, apenas uma das 170 meninas não recebeu a vacina em dois dias da campanha. Segundo ele, antes de a vacinação começar, a direção da escola,  com as enfermeiras responsáveis pela aplicação das vacinas, realizaram palestras para orientar as mães das alunas.

“Realizamos reuniões onde informávamos os benefícios da vacina, esclarecendo que o papiloma vírus pode ser contraído de várias maneiras e não apenas por meio de relações sexuais.”

O governo do Estado de São Paulo informou que deverá imunizar cerca de 800 mil meninas. Até o dia 10 de abril aproximadamente 5.000 postos de saúde, com horário de funcionamento das 8 às 17 horas, estarão disponíveis para aplicação da primeira dose.

Na Escola Estadual Barão de Macaúbas, no bairro Santa Tereza e do Colégio Arnaldo, no Santa Efigênia, ambos na região leste de Belo Horizonte,a adesão foi grande, como conta a diretora Amélia Lúcia Botelho: apenas duas famílias das 208 meninas se manifestaram contra a vacina. Uma das meninas não tomou por recomendação médica, já que estava doente. Já os pais da outra ainda resistem à ideia, por motivos religiosos.

“O que se comenta entre os pais é que isso [a vacina] pode despertar as meninas para o sexo, mas não é por aí, é a saúde da mulher.”

Já na Escola Classe 416 Sul, em Brasília (DF), há mães que se recusam a autorizar a vacinação da filha. Segundo a vice-diretora, Simone Barros, teve uma mãe que foi à escola, levando um documento em que não permitia que a filha fosse vacinada.

“Apesar de ser uma campanha positiva e facilitar a vida da família, ainda há pais que se recusam em imunizar suas filhas. Eles têm liberdade de escolha, mas, nesses casos, eles precisam assinar um termo de recusa.”

Mães defendem vacina

Uma das mães que acompanhavam a filha na escola de São Paulo Ivanda Francisquini disse que vacinação abriu uma oportunidade para os pais falarem sobre assuntos delicados em casa.

“A campanha é muito boa porque além de nossas filhas estarem imunizadas ao vírus, conseguimos uma abertura para falar de sexo com elas, o que geralmente não acontece de forma natural.”

Segundo Sousa, a escola entregou aos pais das alunas a carta de recusa na semana anterior à ação. Com essa carta, os pais poderiam desautorizar a aplicação da vacina nas suas filhas.

“Entregamos a carta, mas nenhuma mãe pediu que sua filha não fosse vacinada, tirando uma que já havia levado sua filha ao posto de saúde para tomar.”

Rosangela Andrade, única mãe que assinou a carta, diz que levou sua filha ao posto de saúde logo no primeiro dia de vacinação para garantir que ela pudesse receber a dose. Rosangela explicou que a menina não queria tomar a vacina e que, após conversar sobre sua importância, consegui convencê-lá.

“As crianças de hoje entram na vida sexual antes do que imaginamos e essa vacina é uma proteção a mais que podemos oferecer a elas.”

Em Minas Gerais, a advogada Valéria Cotta conta que fez questão de acompanhar a filha, Isabela, no dia da vacina no Colégio Arnaldo, em Belo Horizonte. Ela ressalta que a campanha estimulou o diálogo sobre o assunto em casa e, antes que chegasse o dia da imunização, mãe e filha pesquisaram sobre o câncer do colo de útero, causado pelo HPV. Favorável à iniciativa do governo, Valéria diz acreditar que “o mais importante é a prevenção à vida”.

“Com a campanha, ela pôde conscientizar mais ainda sobre todas as questões que a gente já conversa na nossa casa.”

Como funciona a vacinação?

Desde a segunda-feira (10) até 10 de abril aproximadamente 5.000 postos de saúde, com horário de funcionamento das 8 às 17 horas, estarão disponíveis para aplicação da primeira dose.

Caso a instituição ofereça a vacinação, a escola terá o direito de definir seu próprio calendário e informar aos pais. Além disso, o Ministério da Saúde ressaltou que os responsáveis que não concordarem com a imunização devem preencher um termo de recusa e entregar na escola. Segundo a pasta, a autorização não é necessária porque a vacina é um direito da adolescente previsto em lei.

No caso do posto de saúde, para receber a dose, basta apresentar o cartão de vacinação ou o documento de identificação. Cada adolescente deverá tomar três doses para completar a proteção, sendo a segunda seis meses depois da primeira, e a terceira cinco anos após a primeira dose. Para o primeiro ano de campanha, o governo federal adquiriu 15 milhões de doses. A pasta reforça que a vacina estará disponível o ano todo nos postos de saúde.

Em 2015, a vacina passa a ser oferecida para as adolescentes de nove a 11 anos e, em 2016, às meninas de 9 anos.