O cineasta Steven Spielberg, ganhador do Oscar por “A Lista de Schindler”, foi protagonista nesta segunda-feira do dia em memória as vítimas do Holocausto nas Nações Unidas, quando disse que “a justiça vive na memória e reprimir a memória é talvez a pior repressão que existe”.

O diretor de origem judaica participou do evento na sede das Nações Unidas como um símbolo da importância da lembrança do genocídio judeu na Segunda Guerra Mundial, tanto por seu filme “A Lista de Schindler” como pela criação há 20 anos da USC Shoah Foundation Institute, e foi o protagonista de conferências reunidas sob o nome de “Viagens através do Holocausto”.

“Gostei do título destas conferências porque me pareceu que a expressão ‘através’ era otimista. Significa que pudemos entrar e sair do Holocausto”, explicou Spielberg em seu discurso durante uma cerimônia especial na Assembleia Geral.

“A história não está por trás ou diante de nós, nos atravessa. Cada pessoa é histórica. História é uma maneira a mais de falar da vida humana”, acrescentou.

“Tornei-me diretor de cinema porque queria comunicar minhas preocupações para as pessoas. Mas tiveram que passar 20 anos nos quais dirigi tubarões, ETs e dinossauros antes de me sentir preparado para fazer um filme sobre o Holocausto”, confessou.

Após receber no set as visitas de vítimas do Holocausto e perceber que não queriam tanto que contasse suas histórias nos campos de concentração nazistas, mas de seu legado cultural e os anos posteriores, criou a USC Shoah Foundation Institute.

“Nós nunca poderemos saber o que foi aquilo, mas podemos aprender e eles querem nos ensinar”, justificou, e por isso realizou uma série de 250 entrevistas porque “a única maneira de poder se aproxima disso é através dos momentos individuais”.

“Talvez ajude a entender a dimensão do que aconteceu saber que para ver todos os testemunhos que recolhemos alguém precisa das 24 horas dos próximo 15 anos para assistir todos. E são só 1% das vítimas judias do Holocausto”, argumentou.

Segundo o cineasta, “a esperança de poder contar foi o que os manteve vivos, pois conseguiram transformar a ira em uma fonte de sabedoria”.

Spielberg disse que genocídios como os de Ruanda, Armênia, Camboja e Sudão, entre outros, nos relembram que “não deixarão de acontecer enquanto não transformemos o impensável no impossível”.

“O genocídio é algo tão terrível que a reação natural é a virar o rosto, mas temos que olhar”, acrescentou. “Temos que criar o impulso que necessitamos para parar os holocaustos. Será a maior conquista de nossa espécie”, concluiu.

O discurso de Spielberg aconteceu na cerimônia inaugurada pelo secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, em vídeo (ele está em Cuba para participar da Celac), na qual lembrou sua recente visita aos campos de concentração de Auschwitz e Birkenau, que disse que “nunca a esquecerei”.

O presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas, Ron Prosor, a sobrevivente do Holocausto incluída na lista de Oskar Schindler, Rena Finder, que disse que Spielberg conseguiu “que os sobreviventes e os libertadores se sentissem livres para reconhecer suas respectivas condições. O muro do silêncio caiu”.