Na abertura da Copa, país ainda é canteiro de obras
Mundial começa com improvisos em estádios, aeroportos e na mobilidade urbana das 12 cidades-sedes. Mesmo quatro anos após o lançamento da Matriz de Responsabilidades, muitas obras nem saíram do papel. Entre promessas que não saíram do papel e gastos exorbitantes, a Copa do Mundo começa nesta quinta-feira (12/06) com muito improviso. Torcedores e visitantes vão […]
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Mundial começa com improvisos em estádios, aeroportos e na mobilidade urbana das 12 cidades-sedes. Mesmo quatro anos após o lançamento da Matriz de Responsabilidades, muitas obras nem saíram do papel.
Entre promessas que não saíram do papel e gastos exorbitantes, a Copa do Mundo começa nesta quinta-feira (12/06) com muito improviso. Torcedores e visitantes vão se deparar com canteiros de obras, tapumes em aeroportos, avenidas e no entorno de estádios e, até mesmo, com trilhos sem nenhuma função em algumas cidades-sede do evento.
Ao mesmo tempo que a Copa do Mundo evidenciou graves problemas de infraestrutura no país, o evento deixou claro que a solução para eles é mais difícil do que parece, mesmo que muitas intervenções já estivessem programadas desde o lançamento da Matriz de Responsabilidades da Copa, em 2010.
Em meio a obras que foram retiradas da matriz ou que não ficaram totalmente prontas, turistas e brasileiros vão ver portos e aeroportos operando, mas ainda incompletos ou faltando os reparos finais. Em Fortaleza, por exemplo, foi necessário desembolsar mais de 1 milhão de reais para a construção de um terminal provisório, que funcionará por apenas 90 dias.
Estádio mais atrasado para o Mundial por causa de um acidente que deixou dois mortos, o Itaquerão foi liberado para partidas apenas nesta segunda-feira. A liberação de arquibancadas era o principal entrave para a abertura do evento. As intervenções viárias no entorno do estádio foram concluídas em abril, mas a prefeitura pediu aos torcedores para que evitem ir de carro ao Itaquerão.
O novo terminal do aeroporto de Viracopos, em Campinas, no interior de São Paulo, ainda está sendo construído. Somente o píer internacional foi inaugurado, na sexta-feira passada, com a chegada da delegação da Costa do Marfim. O Terminal 3 do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, ficou pronto no dia 11 de maio. No litoral paulista, apenas metade da extensão do cais do Porto de Santos foi entregue, mas navios de cruzeiros internacionais já conseguem atracar.
Rio: mesmo incompletas, obras são inauguradas
A presidente Dilma Rousseff inaugurou no início de junho duas obras inacabadas: a ampliação do terminal 2 do Aeroporto Tom Jobim e o Bus Rapid Transit (BRT) Transcarioca. O aeroporto, onde passageiros transitam entre áreas isoladas por tapumes no terminal 1, recebeu uma “maquiagem” para a Copa, com melhoria na limpeza, segurança, iluminação de vias de acesso, terminais e estacionamento, além da revisão de escadas e esteiras rolantes.
Já a Transcarioca, que liga Penha/Barra da Tijuca ao Aeroporto Tom Jobim, tem 22 estações em funcionamento durante a Copa – em vez das 47 que estavam planejadas. De forma gradativa, a Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro amplia o horário de funcionamento do BRT. Entre as principais obras para a Copa previstas na Matriz de Responsabilidades lançada em 2010, a única completa é a reforma do Maracanã, que foi apontada como superfaturada pelo Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ), ao custo de cerca de 1,2 bilhão de reais.
Salvador: tapumes no aeroporto e obras de mobilidade incompletas
A situação do aeroporto de Salvador não é muito diferente, já que nem todas as obras de reforma e ampliação previstas para o Mundial estão prontas. Os passageiros ainda convivem com tapumes e vigas na parte de embarque e desembarque do terminal, e também no ponto de ônibus localizado em frente ao edifício. Todas as obras de modernização, no valor de cerca de 94 milhões de reais, serão concluídas após a Copa.
O mesmo acontece com as obras de mobilidade. A implantação das rotas para pedestres está incompleta. O projeto do BRT, que ligaria o aeroporto ao acesso norte, foi abandonado pela prefeitura com o argumento de que pode inviabilizar a ampliação do metrô na cidade. O sistema sobre trilhos, que teve seu primeiro trecho de 12 quilômetros inaugurado incompleto nesta quarta-feira por Dilma, demorou 14 anos para ser construído e custou cerca de 1 bilhão de reais.
Já a Arena Fonte Nova, que custou cerca de 690 milhões de reais, foi inaugurada em abril de 2013 e chegou a ser usada durante a Copa das Confederações. Da implosão do antigo estádio até a inauguração da arena, foram necessários dois anos e oito meses. Na reconstrução, o estádio e o ginásio poliesportivo adjacente foram demolidos, e as piscinas olímpica e semi-olímpica do parque aquático da Fonte Nova foram desativadas, o que gerou reclamação de federações e de atletas.
Recife: mobilidade só depois do Mundial
Mesmo inaugurada em maio de 2013 por Dilma, não se sabe ainda o custo final da Arena Pernambuco para os cofres públicos. Pelo fato de se tratar de uma Parceria Público-Privada (PPP), a conta ainda não foi fechada pelo governo estadual. De acordo com o Comitê Popular da Copa de Recife, o estádio – que tinha o custo inicial de 532 milhões de reais – pode ter ultrapassado a barreira dos 770 milhões de reais para os contribuintes.
Os corredores de ônibus (BRTs) Norte-Sul e Leste-Oeste vão ficar prontos apenas depois do Mundial. Os problemas de congestionamento na cidade, criticados por jogadores do Uruguai durante a Copa das Confederações, deverão expor mais ainda o complicado trânsito da capital pernambucana.
Já a única intervenção que estava prevista para o aeroporto da cidade – a construção de uma nova torre de controle – foi repassada pela Infraero para o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA), ligado à Força Aérea Brasileira, que pretende realizar uma licitação assim que o termo aditivo for assinado. De acordo com a Infraero, o fato de a torre não ter sido construída não interfere nas operações e na segurança dos voos.
Porto Alegre: obras de mobilidade atrasadas
Várias obras de mobilidade urbana na capital gaúcha estão atrasadas. Outras até mesmo foram retiradas durante as diversas revisões da Matriz de Responsabilidades da Copa. Entre as obras problemáticas estão os corredores de ônibus (BRTs) Bento Gonçalves, João Pessoa e Protásio Alves, que devem ser entregues à população no segundo semestre de 2014. Já o projeto referente ao monitoramento dos corredores ainda nem foi licitado.
As obras de ampliação do terminal de passageiros do Aeroporto Salgado Filho, que deverá permitir que a área quase dobre de tamanho e aumente a capacidade de 13,1 milhões para 18,9 milhões de passageiros por ano, também estão atrasadas. As intervenções, que deveriam ficar prontas antes da Copa, estão a passos lentos devido a dificuldades financeiras da empreiteira e greve de operários. Mesmo assim, a Infraero não cancelou o contrato com a empresa, que tem até maio de 2016 para finalizar as obras.
O estádio Beira-Rio, juntamente com o Itaquerão e a Arena da Baixada, é um dos três estádios particulares que vão ser usados no Mundial. A reforma da arena, que durou 24 meses e foi inaugurada em fevereiro de 2014, custou 330 milhões de reais – sendo que 275 milhões foram emprestados pelo governo federal por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Do lado de fora do estádio, porém, operários correm para deixar pronto o entorno da arena para o primeiro jogo, neste domingo.
Manaus: na mobilidade, nem o improviso está pronto
Nenhuma obra de mobilidade prevista na primeira Matriz de Responsabilidades chegou a ser executada na capital amazonense. O Tribunal de Contas da União (TCU) e a Controladoria-Geral União (CGU) identificaram irregularidades nos editais de licitação de dois projetos. O monotrilho Norte-Centro e do BRT Eixo Leste-Centro saíram da matriz da Copa e foram incluídos no PAC da Mobilidade e ainda estão em fase de planejamento.
Para aliviar os congestionamentos no entorno do estádio, a Prefeitura de Manaus decidiu implantar um sistema de corredor exclusivo para ônibus (o Bus Rapid Service), mas as plataformas previstas na primeira fase de licitação ainda estão sendo construídas. No complexo viário no entorno do aeroporto de Manaus, só um trecho foi concluído. Apenas as obras de reestruturação e requalificação das avenidas próximas à Arena da Amazônia (área conhecida como Quadrilátero da Copa) já foram entregues.
Com custo mensal de manutenção de 500 mil reais, a Arena Amazônia pode enfrentar problemas de financiamento. Os times locais não possuem verba suficiente, e a média de público do campeonato amazonense também é muito baixa.
Fortaleza: aeroporto improvisado
A primeira cidade-sede a entregar um estádio para sediar os jogos da Copa também teve uma das obras mais atrasadas para o Mundial. A reforma inacabada do Aeroporto Internacional Pinto Martins fez a Infraero abrir em janeiro uma licitação para a construção de um terminal de embarque provisório que vai operar por apenas 90 dias. O improviso custou 1,79 milhão de reais aos cofres públicos.
A Arena Castelão recebeu a certificação internacional LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), que avalia entre outros aspectos a atenção ao transporte público, mas nem todas as obras de mobilidade ficaram prontas. Apenas 10% do BRT (Bus Rapid Transit) Dedé Brasil, um dos corredores de ônibus que daria acesso ao estádio, está concluído.
A obra da linha de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), que faria a ligação entre o centro e a orla turística de Fortaleza, com integração ao metrô, está parada desde maio. Devido a atrasos, o governo estadual quebrou o contrato com a empreiteira responsável pelo ramal Parangaba-Mucuripe. A obra afetou cerca de 5 mil moradores que tiveram suas casas desapropriadas. As estações de metrô Juscelino Kubistchek e Padre Cícero estão com apenas metade das obras prontas.
Natal: avenidas com tapumes no entorno do estádio
Visitantes e torcedores vão se deparar com canteiros de obras, principalmente no entorno da Arena das Dunas. Durante o Mundial, o viaduto da avenida Lima e Silva, que fica ao lado do estádio, estará isolado por tapumes. As obras do túnel de drenagem, que passa por diversas avenidas do entorno, devem ficar prontas apenas no final de julho: o lençol freático teve de ser rebaixado. A promessa de construir 55 quilômetros de calçadas com acessibilidade e cerca de 300 abrigos de ônibus também não será cumprida. As obras devem ficar prontas em dezembro.
Quanto ao estádio, o temor é que o espaço tenha o mesmo destino do Papódromo, construído em 1991 por ocasião da visita do papa João Paulo 2º. O local, que deveria se tornar um centro cultural e religioso, abriga hoje repartições públicas e parte da construção está inutilizada. A Arena das Dunas, inaugurada em janeiro, foi projetada para ser um complexo multiuso. Para depois da Copa, a promessa é que, além de receber jogos de futebol, o espaço seja um centro de eventos, feiras, shows e exposições.
O Aeroporto Internacional Governador Aluízio Alves, em São Gonçalo do Amarante, a 30 quilômetros de Natal, é o único terminal construído a partir do zero para o Mundial e foi inaugurado no dia 31 de maio. Por falta de autorização dos órgãos competentes, o novo terminal só começou a receber voos internacionais a partir de 4 de junho. Com o novo aeroporto, o antigo terminal em Natal foi desativado para voos comerciais.
Cuiabá: metrô de superfície não estará nem em fase de testes
Nesta sexta-feira (13/06), quando a Arena Pantanal receberá a partida entre Chile e Austrália, o metrô de superfície que deveria ligar Cuiabá a Várzea Grande, na região metropolitana, não estará nem em fase de testes. O VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) vai custar 1,5 bilhão de reais aos cofres públicos.
Corredores de ônibus (Bus Rapid Transit) complementariam o novo modelo de transporte, mas a prefeitura verificou que o orçamento do município não seria suficiente para cobrir o financiamento. O número de desapropriações necessárias ultrapassou o esperado ao longo dos 22 quilômetros de trilhos, o que elevou os custos em cerca de 300 milhões de reais.
A reforma do Aeroporto Internacional Marechal Rondon segue na parte interna. Segundo a Infraero, as obras não afetarão as operações do aeroporto.
Curitiba: quase saiu da Copa
As obras da Arena da Baixada foram marcadas por complicações no financiamento e denúncias de corrupção, como superfaturamento na aquisição das cadeiras. Entre os 12 estádios da Copa, o de Curitiba era o que precisaria de menos intervenções, mas a obra já saiu do papel com seis meses de atraso.
Em outubro de 2013, a Justiça do Trabalho ordenou a paralisação da construção devido à falta de segurança. Em dezembro, os operários entraram em greve por causa da demora no pagamento dos salários. No início do ano, a cidade foi manchete em todo o mundo. A Fifa ameaçou tirar Curitiba da competição devido aos atrasos na obra da arena.
O carro-chefe do projeto apresentado na candidatura de Curitiba para Copa era o metrô, mas ele nem saiu do papel. E das obras de mobilidade, a reforma no terminal de ônibus Santa Cândida e da alça de ligação à avenida Salgado Filho só serão concluídas depois do Mundial. Os atrasos foram provocados por falhas no planejamento dos projetos.
Belo Horizonte: atraso no aeroporto e em obras de mobilidade
A reforma do terminal de passageiros do aeroporto de Confins não chegou ao fim, e o local parece um verdadeiro canteiro de obras. Para melhorar a operacionalidade do aeroporto e diminuir o incômodo, a Infraero isolou as intervenções no terminal e deverá retomá-las após o fim do Mundial. Obras como a reforma do setor de desembarque internacional e da pista, além da construção do edifício comercial, serão entregues somente após o Mundial.
Ainda falta a conclusão de obras de mobilidade como do corredor de ônibus (BRT) Antônio Carlos/Pedro 1º e, também, da Via 710 – que foi excluída da Matriz de Responsabilidades da Copa em maio de 2013 e deverá ser entregue somente em abril de 2015. Já o Mineirão está em situação oposta a do aeroporto internacional e das obras referentes a transportes. A reforma do estádio foi entregue em dezembro de 2012, e a arena foi usada na Copa das Confederações.
Brasília: estádio mais caro do Mundial
O estádio Mané Garrincha, inaugurado em maio de 2013, é considerada a arena mais cara da Copa do Mundo. Prevista para custar cerca de 700 milhões de reais, a demolição e reconstrução do estádio atingiu o custo final de mais de 1,4 bilhão de reais. No aeroporto, turistas ainda veem alguns operários trabalhando no local.
Em relação à mobilidade urbana, o projeto do veículo leve sobre trilhos (VLT) – que, com 6,5 quilômetros liga o aeroporto à Asa Sul da capital – foi retirado da Matriz de Responsabilidades da Copa e não ficará pronto para o Mundial. As obras, que se iniciaram em 2009, foram suspensas pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal no fim de 2010. Mesmo assim, a obra figura ainda como uma das prioridades do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
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