Gustavo Kuerten e Andre Agassi têm em comum em suas respectivas histórias não apenas o fato de terem se enfrentado na final da Masters Cup de 2000, no ano em que o brasileiro deu uma, sem meias palavras, “escovada” no americano e se sagrou naquele momento o tenista número um do mundo. Guga quer se inspirar em Agassi para publicar ainda este ano uma biografia própria, às avessas do que foi a trajetória de outro ícone do esporte, que contou suas histórias em publicação lançada em 2009.

Em fase final de entrevistas, comandadas pelo jornalista Luiz Colombini, a biografia ainda sem nome terá, por exemplo, uma curiosidade paternal entre os dois ídolos do tênis que exemplifica esta antítese entre ambos. “Eu sou totalmente o contrário do Agassi. Ele falou que tinha uma relação difícil com o pai e odiava jogar tênis. Meu pai morreu muito cedo, mas foi o meu grande incentivador, e eu sempre amei o esporte que eu praticava”, explicou Guga.

O tricampeão de Roland Garros esteve no Rio de Janeiro num evento promocional de uma grife de relógio, e em conversa com os jornalistas, contou ainda que as polêmicas publicadas na história de vida de Agassi, como consumo de drogas e as brigas com a atriz Brooke Shields, com quem foi casado, também não darão o ar de sua graça na história do “manézinho da ilha”.

“Eu ter obtido tanto sucesso no tênis foi um acaso, uma coincidência, praticamente eu posso dizer que eu ganhei uma loteria. Eu podia, como todo brasileiro, ter escolhido a bola grande, mas preferi uma pequena”, filosofou. Se Agassi vendeu milhões de cópias pelo mundo expondo sua turbulenta vida pessoal, Guga prefere exaltar a velha história do esporte brasileiro: não existe ajuda, e casos como o dele são raros, ocorrem como que por milagre e, claro, superação.

“É muito complicado imaginar que um cara brasileiro, de Florianópolis, pudesse fazer tudo aquilo. O livro é para entender o significado de cada coisa que me aconteceu”, explicou o catarinense, que tem manifestado tom bastante crítico com os órgãos governamentais, que não fomentam a criação de talentos em sua opinião.

No aspecto psicológico, expondo um lado mais dramático e de administrar dificuldades da vida, a biografia terá também “detalhes de histórias que as pessoas sabem”, como o dia em que o técnico Larri Passos, que o acompanhou em grande parte de sua vencedora trajetória, prometeu ao pai do então garoto Kuerten, com 7 anos, que iria treinar e cuidar dele. “Eu nunca vou esquecer aquele dia, eu era garoto, mas foi um dia determinante”, contou.

O pai de Guga morreu em 1985, enquanto apitava uma partida de tênis em Curitiba, vítima de um enfarte fulminante. Um tempo depois, a mãe capotou o carro numa viagem para um torneio e o garoto que nunca desistiu de jogar tênis ficou dois meses longe das quadras e teve o que seria uma brilhante carreira ameaçada por um momento. Relatos de quem, por mérito pessoal e estrutura familiar, usou da resiliência adquirida, mesmo que a contragosto, para encarar os desafios.

“Da mesma forma, acho que, se eu não fosse desse jeito, não teria tido sucesso. Tênis é um esporte muito difícil. Tinha hora que eu queria sair correndo da quadra. Em síntese, é para mostrar para as pessoas que elas podem sonhar e conquistar o que elas acreditam”, finalizou.