A Apple é conhecida por produzir grandes produtos, como o iPod. Agora, a Google, com a compra da Nest Labs e seu fundador, o ex-aluno da Apple, Tony Fadell, espera produzir grandes líderes que também possam replicar esse sucesso. É uma aposta que provou ser desapontadora para empresas como a Palm e a J.C. Penney.

Fadell, que supervisionou o desenvolvimento do iPod da Apple, foi uma atração estelar na aquisição da startup de gestão doméstica Nest pela Google por US$ 3,2 bilhões. Assim como o reprodutor de música da Apple deu início à transformação da empresa de fabricante de computadores de nicho em fabricante dominante de dispositivos móveis, a Nest poderia ajudar a Google a levar seu software e seus serviços para uma nova geração de eletrodomésticos conectados.

Fadell terá que pôr fim à série de ex-executivos da Apple que ainda não conseguiram replicar o sucesso da fabricante do iPhone nos seus novos empregos. Os gerentes da Apple – que se distingue pela sua cultura reservada e foco restrito a alguns produtos – não necessariamente prosperam em empresas com estruturas mais tradicionais e cooperativas.

“A Apple não é conhecida por produzir líderes – ela produz produtos”, disse Ram Charan, consultor de gestão, que foi conselheiro de Jack Welch, ex-presidente e CEO da General Electric Co., e de Ivan Seidenberg, ex-presidente e CEO da Verizon Communications Inc.

Fracassos anteriores

Alguns desertores de alto perfil já fracassaram. Dois anos após sair da Apple, Jon Rubinstein assumiu o desenvolvimento de produtos na fabricante de computadores portáteis Palm e se transformou em CEO da empresa em 2009. O fracasso do smartphone Pre da Palm levou à sua venda à Hewlett-Packard Co. em 2011. Um ano depois, o novo dono encerrou a produção de celulares com software da Palm e Rubinstein deixou a empresa.

As perspectivas de Fadell podem ser melhores. Muitos ex-líderes da Apple tiveram sucesso na empresa se focando em uma única área, mas depois passaram por dificuldades quando assumiram papéis mais importantes em novas empresas. Fadell, ao contrário, tinha responsabilidades maiores que iam do design ao suporte ao cliente, disse o ex-executivo de marketing da Apple Bob Borchers, que trabalhou com ele no iPod.

Sigilo da Apple

Com Jobs, a Apple criou executivos com uma mentalidade de “nós contra eles”, que valorizava o sigilo no desenvolvimento e na comercialização dos produtos – até mesmo dentro da companhia, disse Jeff Sonnenfeld, professor na Escola de Administração da Universidade de Yale. Por isso os ex-executivos têm dificuldade em colaborar e liderar esforços que dependam do trabalho estreito com outras empresas, disse ele.

“Algumas das qualidades importantes para a Apple poderiam na verdade ser prejudiciais em outras empresas”, disse Sonnenfeld.

A mudança nas organizações basicamente tem que surgir do topo, disse Rick Devine, CEO da TalentSky Inc., que ajudou Steve Jobs a recrutar o atual CEO da Apple, Tim Cook. Sem um líder comprometido com a evolução constante, importar pessoas de fora – até mesmo pessoas renomadas como o designer da Apple, Jonathan Ive – teria poucos efeitos, venham de onde vierem, disse ele.

“Você até pode levar Jony Ive à Dell, mas ele fará coisas lá se Michael Dell não concordar com ele?” disse Devine. “Você precisa de um líder que acredite na mudança constante e em que é importante buscar a próxima ação”.