O dólar subiu mais de 1% ante o real nesta sexta-feira, em um movimento de correção diante das fortes baixas nos últimos dias. Tensões na Ucrânia também abalaram o câmbio brasileiro, que no final dos negócios seguiu o movimento de outras moedas emergentes e afastou-se do patamar de R$ 2,30 que vinha sido testado nos últimos dias.

O dólar fechou com ganhos de 1,15%, a R$ 2,3480 na venda. Na máxima da sessão, que teve volume de US$ 1,3 bilhão na clearing de câmbio da BM&F, a divisa chegou a R$ 2,3505. Na semana, encurtada pelo feriado de Carnaval, a moeda americana acumulou pequena alta de 0,13% sobre o real.

“Acho que o dólar ainda está muito barato”, afirmou o diretor de câmbio da corretora Pioneer, João Medeiros, acrescentando que a tensa situação na Ucrânia abalou os mercados globalmente, ajudando o dólar a subir nesta sessão.

O presidente russo, Vladimir Putin, rejeitou a advertência do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, sobre a intervenção militar de Moscou na Crimeia, afirmando nesta sexta-feira que a Rússia não pode ignorar pedidos de ajuda de cidadãos de língua russa na Ucrânia.

O aumento da tensão geopolítica também abalou outras moedas de países emergentes. O dólar subiu mais de 1% ante o peso chileno e a lira turca, por exemplo. A alta do dólar no mercado brasileiro também foi um movimento de ajuste, segundo especialistas. Em fevereiro, a divisa americana acumulou queda de 2,79% ante o real e, nesta semana, chegou a encostar em R$ 2,30, nível visto por especialistas como um piso informal, que ainda é capaz de ajudar nas exportações. Ao atingir esse patamar, a moeda americana acabou atraindo compradores, que queriam aproveitar a cotação considerada barata.

“O dólar está de recompondo… Caiu muito nos últimos dias”, afirmou o economista-chefe da BGC Liquidez, Alfredo Barbutti. As expectativas são ainda de que o dólar continuará subindo. Pesquisa da Reuters com diversos economistas mostrou que a queda da moeda norte-americana nas últimas semanas deve ser apenas temporária, o que manteria a pressão sobre o Banco Central para continuar intervindo no mercado.

As projeções da pesquisa são de que a taxa de câmbio chegará ao intervalo de R$ 2,45 a R$ 2,50 em um horizonte de seis a 12 meses. Pela manhã, foram divulgados os dados de emprego nos Estados Unidos, que mostraram a abertura de 175 mil novos postos de trabalho em fevereiro, acima do esperado. A taxa de desemprego subiu ligeiramente, a 6,7% no período.

Mesmo assim, boa parte do mercado entendeu que os números bons não mudam as avaliações de que o banco central dos Estados Unidos manterá o atual ritmo de redução nos estímulos, a US$ 10 bilhões por mês, mexendo gradualmente na liquidez internacional. Por isso, tiveram influência limitada no mercado cambial nesta sessão.

A alta do dólar veio mesmo com a atuação do Banco Central brasileiro. Pela manhã, a autoridade monetária deu continuidade à sua intervenção diária ao vender a oferta total de até 4 mil swaps cambiais tradicionais. Foram todos com vencimento em 1º de dezembro deste ano. Os contratos para 1º de agosto, apesar de terem sido ofertados, não foram vendidos. O volume financeiro ficou em US$ 197,8 milhões.