Diretor de “O Lobo Atrás da Porta” fala sobre seu primeiro longa e a nova geração do cinema nacional
Fernando Coimbra parece garoto, mas tem 38 anos e faz parte de uma nova geração de cineastas que estão invadindo os cinemas brasileiros. Fã irrecuperável de Sergio Leone, Stanley Kubrick e Martin Scorsese, o diretor ainda digere o sucesso de seu primeiro longa-metragem, “O Lobo Atrás da Porta”, que apenas seis meses atrás levava o […]
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Fernando Coimbra parece garoto, mas tem 38 anos e faz parte de uma nova geração de cineastas que estão invadindo os cinemas brasileiros. Fã irrecuperável de Sergio Leone, Stanley Kubrick e Martin Scorsese, o diretor ainda digere o sucesso de seu primeiro longa-metragem, “O Lobo Atrás da Porta”, que apenas seis meses atrás levava o prêmio mais alto no Festival do Rio e agora se prepara para estrear em todo o país.
Coimbra anda ocupado: vem finalizando um documentário sobre famílias beneficiadas pelo Bolsa Família, chamado “Aqui Deste Lugar”, e já aquece os motores para escrever e dirigir outro thriller no Rio de Janeiro, desta vez do “outro lado” da cidade: a Barra da Tijuca. O filme envolve bicheiros e perseguição policial, e terá investimento bem maior, mas, por enquanto, ele não dá detalhes.
Entre um trabalho e outro, o diretor conversou com o Guia da Semana e contou um pouco sobre a experiência de filmar “O Lobo Atrás da Porta” e de conhecer outros cineastas dessa tal “nova geração”. Confira:
“O Lobo Atrás da Porta” foi seu primeiro longa-metragem. O que você aprendeu nesse processo?
Filmar um longa que vai ser distribuído traz uma responsabilidade muito maior. Eu estava disposto a ter atores conhecidos para que meu filme fosse visto, mas também queria ter a liberdade de escolher bons atores – não apenas carinhas bonitas. Isso era algo importante. Além disso, o fôlego de se filmar cinco semanas é bem maior do que os cinco dias de um curta. Na montagem, foi onde mais senti a diferença: no curta, você sempre tem a noção do todo, mas, no longa, é difícil saber como está o ritmo, o que está sobrando… Como diretor, você se apega muito ao material que acabou de filmar, mas precisa deixar o montador trazer sua visão.
Você sempre escreve seus próprios roteiros. Você se imagina dirigindo um filme escrito por outra pessoa?
Sim, tenho recebido propostas… Não é algo que eu não faria. É claro que ajuda ter escrito o roteiro, pois você sabe tudo o que acontece e conhece os personagens, mas, mesmo assim, você descobre muitas coisas no caminho. Os atores trazem coisas novas e transformam as ideias bobas em coisas muito mais complexas.
Quanto tempo levou desde o roteiro até a produção?
O roteiro eu comecei muito cedo, na faculdade. Li sobre a história, me inspirei e comecei a escrever aos 22 anos, mas sem tentar produzir. Isso foi 16 anos atrás. Quando o roteiro estava maduro, entramos num edital e ganhamos. Depois disso, foi muito rápido.
Por que você escolheu escrever sobre um crime tão antigo?
Eu não estava procurando nenhum crime. Foi algo que eu li, comecei a investigar e, quando percebi, estava obsessivo em contar a história desse crime passional e, ao mesmo tempo, muito racional. Me instigou ler na imprensa da época os apelidos “Fera da Penha”, “Monstro”, etc. Tratavam-na como se fosse um monstro, mas ela era tão humana quanto todos nós.
Você foi investigar essa história a fundo para saber mais sobre os personagens, ou criou outra realidade para o filme?
Investiguei muito: primeiro na imprensa, depois no processo judicial, li todos os depoimentos… Mas ali eu vi que não queria contar a história dela. Queria ter liberdade e me desprender dos fatos, até porque cada pessoa havia contado uma versão diferente e pouco se sabia do que tinha acontecido de verdade. O que interessa pra mim é a essência do que aconteceu.
Como foi a escolha do elenco?
O Juliano (Cazarré) e a Fabíula (Nascimento) ainda não tinham bombado na TV, mas eu conhecia seus trabalhos do cinema. Para o papel da Rosa, eu queria uma atriz jovem, bonita, mas que tivesse maturidade, porque a personagem segura tudo para estourar no fim. Era difícil encontrar alguém com esse perfil, mas a Leandra (Leal) acabou sendo perfeita. Já o Milhem (Cortaz) eu conhecia há tempos, e sabia que ele tinha muita coisa em comum com o personagem.
Quão importantes são os festivais (nacionais e internacionais) para os novos cineastas brasileiros?
Estar num grande festival aumenta as chances de o filme chegar aos cinemas no mundo inteiro. O que aconteceu com o Lobo, de aparecer em Toronto, ganhar em San Sebastian, abre umas portas enormes tanto para fazer um próximo filme quanto para vender este para outros mercados.
É importante lembrar que o cinema é um negócio mundial, e ganhar esses prêmios legitima o filme no Brasil e fora dele. É um barato saber que seu filme vai entrar em cartaz na Coreia, por exemplo! Pensando nisso, ficamos preocupados em ter uma linguagem universal, apesar da história se passar no Rio.
O que você trouxe da sua experiência com teatro para o cinema?
Na faculdade de cinema, eu aprendi coisas técnicas e vi muitos filmes, mas só se aprende, mesmo, fazendo. Atuar no teatro me trouxe uma noção maior da dramaturgia, do personagem, do diálogo… Quando eu escrevo, o processo é igual ao de atuação, é como se eu tivesse que interpretar cada personagem. Isso ajudou, também, na hora de lidar com os atores.
Recentemente, têm chegado aos cinemas muitos filmes nacionais “de gênero”, especialmente com suspense e algum terror psicológico. Você também sente isso?
Eu acho que é uma coisa de geração… Quem está chegando agora no mercado, lançando seus filmes nos festivais, é tudo mais ou menos da mesma época. Não sei bem por que, mas talvez pelas referências, por termos visto muitos filmes americanos de gênero em VHS… Quando vejo o Kleber Mendonça flertando com o terror, o thriller, no tom do filme, encontro referências, como John Carpenter, que eu também via quando era moleque.
Na verdade, sempre houve cinema de gênero no Brasil – pouco e nem sempre bem sucedido. Mas talvez tivesse uma questão ideológica, que o cinema brasileiro não pudesse se parecer com o americano… Acho que tinha um pouco esse policiamento. E o público também mudou. Não acho que ainda exista um preconceito tão grande com o cinema brasileiro. O que acontece é que as pessoas não estão acostumadas a ver outras coisas, só comédias. É algo a se construir. A gente está reconstruindo um público que vai ver esse novo cinema e se identificar.
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