Conhecer o mundo nunca foi o motivo principal de eles se dedicarem tanto aos estudos. Mas as horas de devoção aos livros e a aplicação em exercícios difíceis levaram eles a viverem em lugares antes não imaginados. Espanha, Holanda, Alemanha, EUA são alguns dos locais preferidos dos brasileiros, quando se trata de formação e ensino.

O químico Alexandre Vieira Silva, de 31 anos, conta que sempre gostou de outras culturas, mas não sonhava em estudar fora. A vontade de desbravar outros lugares veio após o mestrado. “Eu sempre gostei de viajar e de conhecer outras culturas. Confesso que quando entrei no curso de química na UFMS (2002) ainda não tinha esse sonho. Mas no último ano da minha graduação, conheci muitas pessoas que fizeram especializações e pós-graduação no exterior aí passei a me interessar bastante pela ideia”, diz.

O primeiro passo, conta, foi se mudar para São Paulo e fazer o mestrado lá. “Com o passar dos anos em São Paulo essa vontade foi ganhando força e, na metade do meu doutorado, apareceu a oportunidade de ir para a Espanha. Nessa mesma época, eu queria, na verdade, ir para Alemanha, uma vez que é o berço da química. Eu escutava dizer que as condições de pesquisa eram excelentes. No entanto, abracei a oportunidade de ir para a Espanha e foi uma excelente escolha”, relata.

Na Espanha, ele concluiu parte do doutorado na Universidade Complutense de Madri. O estágio durou 18 meses, de setembro de 2011 a marco de 2013. Agora ele está na Alemanha finalizando o pós-doutorado.

Em relação às duas experiências, conta que cada local tem sua própria idiossincrasia e que ele tem aprendido a lidar com isso. “As diferenças que encontro aqui são basicamente culturais. Diferenças essas que em Madrid foram muito mais suaves, pois o povo espanhol e brasileiro não é tão diferente assim. Já os alemães são bem diretos, falam o que pensa sem meias palavras. No começo achei isso um pouco ‘forte’, mas agora já acostumei”, relata.

Da vivência diz que o melhor é o convívio com as pessoas e ver o modo como encaram a pesquisa. “Fazer ou complementar os estudos fora faz você refletir sobre a diferença de mentalidade entre os colegas de laboratório, comunidade científica e etc. Se pensarmos, os livros de química estão escritos em inglês e são de fácil acesso para todos os estudantes. O que se aprende aqui pode muito bem aprender no Brasil com o mesmo livro. No entanto, ver como as pessoas encaram a rotina de pesquisa e as ambições científicas que elas têm faz você rever muitos conceitos e abrir sua cabeça. Vivenciando essa nova atmosfera de trabalho, nós nos sentimos mais aptos a discutir sobre pesquisa. Não só em termos de conceitos, mas também em termos de objetivos e metas”, conclui.

A caminho da Holanda

Assim como Alexandre, Caio Fontoura, de 23 anos, diz que nunca se dedicou aos estudos sonhando em morar fora, mas o afinco com o ensino o levou a isso. O estudante embarca na próxima segunda-feira (18) para a Holanda pelo programa Ciências Sem fronteiras. “As coisas foram acontecendo. As oportunidades aparecendo”, diz.

O estudante de Engenharia de Controle e Automação conta que se inscreveu no programa buscando capacitação profissional. A escolha da Holanda é por ser um dos países mais avançados em pesquisa de robótica e também por estar no meio da Europa. “A Holanda é um dos melhores no que quero pesquisa, e além disso fica bem no meio da Europa o que dará a oportunidade de conhecer outros países com mais facilidade”, diz.

Sobre o programa

Ciência sem Fronteiras é um programa que busca promover a consolidação, expansão e internacionalização da ciência e tecnologia, da inovação e da competitividade brasileira por meio do intercâmbio e da mobilidade internacional.

O projeto prevê a utilização de até 101 mil bolsas em quatro anos para promover intercâmbio, de forma que alunos de graduação e pós-graduação façam estágio no exterior com a finalidade de manter contato com sistemas educacionais competitivos em relação à tecnologia e inovação. Além disso, busca atrair pesquisadores do exterior que queiram se fixar no Brasil ou estabelecer parcerias com os pesquisadores brasileiros.

Para Alexandre, o programa é um excelente investimento em recursos humanos para o país, mas a União terá que continuar investindo nessa não de obra qualificada para não perdê-la. “Os alunos e pesquisadores que forem para o exterior (e claro, fizerem bom proveito da oportunidade) voltarão com bastante experiência e muita vontade de aplicar o conhecimento adquirido na pesquisa e desenvolvimento do país. Um possível problema, que já vem sendo discutido na comunidade científica brasileira é se o mercado de trabalho irá absorver esses recursos humanos. Iniciativas do governo para absorver a mão de obra qualificada que retornará ao Brasil são de extrema importância”, conclui.