Com 50 anos de carreira, Ary Toledo diz se preocupar com o riso e não em ser politicamente correto

Em tempos em que tudo vira processo e fazer piada pode se transformar em coisa séria, um dos maiores humoristas do país – Ary Toledo – se absolve de qualquer julgamento e afirma: meu compromisso é com o riso. O artista que está em Mato Grosso do sul para apresentar o show de humor “Ary […]

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Em tempos em que tudo vira processo e fazer piada pode se transformar em coisa séria, um dos maiores humoristas do país – Ary Toledo – se absolve de qualquer julgamento e afirma: meu compromisso é com o riso.

O artista que está em Mato Grosso do sul para apresentar o show de humor “Ary Toledo 5.0” nesta sexta-feira (10), em Dourados, e sábado (11), em Campo Grande, concedeu entrevista ao Jornal Midiamax, onde falou de sua trajetória, desde o tempo da ditadura militar aos dias de hoje.

Acompanhe abaixo a entrevista.

Ary Toledo você começou sua carreira há 50 anos, como foi este início?

A minha trajetória começou em 1965, no Teatro de Arena, a convite da Elis Regina. Ela me convidou para cantar a música do Vinicius e do Lira, o ‘Comedor de Gilete’. Fez um sucesso danado. Com isso, abriram-se as portas e fui trabalhar mais em televisão. Mas antes eu já trabalhava no Teatro de Arena, fiz várias peças lá como ator. Sou ator também. Aliás, a condição sine qua non para ser um bom humorista é ser ator. Não existe o humorista que não seja ator. Então minha carreira começou assim.

E quando você descobriu que não era somente ator e sim humorista?

Fui descobrir depois de adulto. Quando era criança fazia muitas coisas engraçadas, as pessoas riam, e eu não sabia por que estavam rindo. Depois de adulto eu me conscientizei que o riso era o caminho do meu ofício.

É difícil fazer humor nos dias de hoje, onde tudo é proibido, tendo que ser politicamente correto?

Pior era na época da ditadura militar. Agora a gente pode ser processado na Justiça comum. O processo vai correr, você pode ser absolvido, pode ser condenado. Na ditadura não. Você era preso, ficava preso, muitas vezes, incomunicável. Não tinha habeas corpus, não tinha nada. Então era muito mais difícil. Na época da ditadura, na minha época, não podia falar nada. Não podia falar nada que tinha a ver com política, em jornal, rádio, televisão. Nada. Não podia. Eu fui preso porque desobedeci às ordens deles. Fiz uma piada no Teatro de Arena e fui preso.

O que você disse que te levou a prisão?

No final do show eu falei para a plateia me desculpar por não ter contado piada política. Porque antes do AI-5 eu podia, depois não. Então eu disse que não podiria mais contar piada política porque era perigoso. Até na rua era perigoso falar alguma coisa. Ai eu disse: vocês tomem cuidado com o que vocês falam na rua, tem sempre alguém da Polícia Federal perto. Tomem cuidado. Eu estou tomando. Porque outro dia um amigo meu perguntou Ary, o que você está achando da ditadura militar? E eu falei não estou achando nada, porque eu tenho um amigo que achava e agora não estou achando mais meu amigo. Ai eles me prenderam.

E hoje, como você avalia a censura?

Existe sim uma censura. Mas bem mais branda. Existe a piada racista que eles não querem que conta. Mas eu não tenho esse negócio de politicamente correto, politicamente incorreto. Eu não me preocupo com isso. Eu me preocupo com o riso. Se ela é incorreta ou correta não estou nem ai. Eu conto. Estou esperando um processo ou mais. Mas até agora não veio nenhum, melhor para mim.

Ary como é que você cria as piadas que conta em seus shows?

A piada nasce da observação do cotidiano, de um fato social. Aliás, o riso é uma atitude social. O humor é uma atitude social. Então a piada nasce assim. Ninguém faz piada sem motivação psicológica. A piada é sempre motivada por um acontecimento social.

A piada, assim como humor, pode ser encarada como uma forma de protesto?

A força do humor é indescritível. É muito difícil analisar a sociologia do humor. A validade do humor, a pessoa armada do riso enfrenta poderosos, ditadores…O riso é uma arma poderosíssima. Sempre digo, a pessoa armada do riso é uma pessoa invencível. Para se ter uma ideia da força da piada. O Maluf depois que começaram a falar dele, que ele virou piada não se elegeu mais para grandes cargos. Na escola os alunos falavam: professora eu não fiz a lição porque malufaram a minha caneta. Depois dessas brincadeiras todas, o Maluf não se elegeu mais. A força do humor é uma arma poderosíssima.

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