Site de traição tem R$9 milhões para investir em marketing, mas consegue gastalhos

Eduardo Borges é diretor geral do Ashley Madison no Brasil, um site de infidelidade – ou, sejamos mais claros, um site que te ajuda a trair marido, esposa, namorado ou namorada. Ele tem R$ 9 milhões parados no caixa, prontos para serem investidos em marketing, mas não consegue gastá-los. Ninguém quer se arriscar a promover […]

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Eduardo Borges é diretor geral do Ashley Madison no Brasil, um site de infidelidade – ou, sejamos mais claros, um site que te ajuda a trair marido, esposa, namorado ou namorada. Ele tem R$ 9 milhões parados no caixa, prontos para serem investidos em marketing, mas não consegue gastá-los. Ninguém quer se arriscar a promover uma página de traição. Nem emissoras de TV, nem escolas de samba, nem – quem diria? – os endividados clubes de futebol brasileiros.

“A verba está acumulando faz dois anos. As TVs abertas acham chocante. Estamos tentando escolas de samba, mas nenhuma quer falar do tema ‘traição’ no Carnaval. Tentei patrocínios a times de futebol e não consegui. O São Paulo não quis nem conversar. Achou um absurdo. O Palmeiras precisava do dinheiro para contratar o Wesley, quando fez aquele bolão, mas a presidência decidiu que a torcida poderia não gostar. Tenho R$ 9 milhões parados”, conta.

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Borges trouxe o Ashley Madison do Canadá para o Brasil dois anos atrás. Conseguiu 1,3 milhão de usuários e fez com que o país se tornasse o segundo maior em termos de receita entre os 29 países onde a rede está presente. Fica atrás apenas dos Estados Unidos, dono de 9 milhões de “traidores”. Tudo na base do boca a boca. No mundo, o faturamento do site chegou a US$ 120 milhões no ano passado. Os números da filial brasileira, contudo, ainda não são revelados pelo empresário.

Agora, o brasileiro vai mudar de estratégia. Contratou uma nova agência de marketing e vai tentar produzir comerciais mais “amenos”, por assim dizer. O primeiro tinha um casal na cama e um aviso: “eles são casados, mas não um com o outro”. As emissoras acharam picante demais e o colocaram apenas às 2h ou 3h da madrugada. “Vamos fazer um comercial mais leve”, diz. “Onde eu mais gasto é no Google Adwords. Tenho 3 mil usuários novos por dia. Mas preciso da televisão para chegar a 6 mil ou 7 mil por dia”.

Afinal, incentiva a traição ou não?

“Eu não incentivo a traição; eu aperfeiçoo. Digo isso com base em pesquisas que fazemos com os usuários. Um cara pode ficar bêbado e trair a mulher, porque já quer trair. O site, no máximo, é um empurrão. Mas eu não vou fazer a pessoa começar a pensar em trair. Se o casal é feliz, não adianta eu vender meu peixe, fazer o melhor comercial do mundo”.

Convincente ou não, a argumentação do diretor geral do Ashley Madison vem com alguns números interessantes sobre este público. Entre os homens cadastrados, por exemplo, 91% são casados. Entre as mulheres, são “apenas” 70% casadas. Os outros 30% são de solteiras que entram no site para encontrar sexo sem cobrança, nenhuma ligação no dia seguinte, e mimos, como presentes, viagens, restaurantes finos. “Fizemos uma pesquisa e confirmamos aquela história de que a amante sempre ganha um presente melhor do que a mulher”, diz.

Quanto tempo leva, em média, do cadastro no site até a primeira traição? 11 dias. Mas nem todo mundo está lá realmente para encontrar alguém. Logo no preenchimento do perfil, pergunta-se se a pessoa quer “caso rápido”, “longo prazo”, “topo tudo”, “relação virtual” ou “não decidi”. 9% dos usuários entram apenas para uma “relação virtual”. No Brasil, a maioria dos homens assinala “não decidi”, enquanto a maioria das mulheres quer um “caso rápido”.

E o maior concorrente do Ashley Madison – surpresa! – não é um outro site de infidelidade. É o ambiente de trabalho. “O cara pensa na secretária o dia inteiro. Ele é meu alvo. Ele vai ver que pode encontrar uma mulher que mora a 100 quilômetros da casa dele e que não está no trabalho, meu grande concorrente. Por isso eu direciono a publicidade. Coloquei comerciais naqueles monitores que ficam em elevadores comerciais, sabe? 30 em São Paulo, 25 no Rio, 20 em Belo Horizonte para pegar este cara”, descreve Borges. Um detalhe: oito prédios mineiros cortaram as propagandas dos elevadores. Eles também não aceitam o adultério.

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