Em um dos casos investigados, paciente teve que vender a casa e morar em asilo para pagar cirurgia cardíaca emergencial

Entrevistado pela reportagem de Midiamax, nesta terça-feira (16), o presidente da Santa Casa, Wilson Teslenco, mencionou que uma das maiores dificuldades que a nova gestão encontra para sanear o hospital e melhorar o atendimento do SUS é a existência de uma rede de venda de vagas para burlar a fila do SUS no hospital. Muitas vezes, com pagamentos ‘por fora’.

Outras vezes, ocorreria o pagamento das próprias cirurgias, que poderiam ser cobertas pelo SUS. 

Nesse caso, o suposto ‘esquema’ consistiria em desviar pacientes do SUS para clínicas particulares, ou não realizar o encaminhamento à Santa Casa.

O assunto já fora denunciado em reportagens anteriores de Midiamax, exibidas para o superintendente, ontem.

A reportagem “Depois de alta pelo SUS na Santa Casa, acidentado paga consulta e exames particulares” foi veiculada em 18 de janeiro de 2012. Outra, de 23 de maio de 2011, foi “Paciente espera pelo SUS mais de três anos em MS e acaba pagando todo o tratamento”.

Teslenco afirmou conhecer a rede, informando que há uma sindicância interna para apurar o descaminho do SUS dentro da Santa Casa.

“É muito difícil obter as provas, mas iremos até o fundo desta questão para moralizar o atendimento público do SUS em nosso hospital”, declarou Teslenco, cogitando solicitar a participação da Polícia Federal na elucidação das denúncias.

Paciente teve que vender a casa para pagar cirurgia

Durante um exame de rotina, Hélio Carlos Zimpel foi informado pelo cardiologista João Carlos Jazbik Neto que estava com 98% das principais artérias do coração entupidas, e que necessitava passar por cirurgia emergencial, em função do risco de vida.

O fato ocorreu no dia 14 de junho de 2006. Com 66 anos à época, Hélio Zimpel chegou a ser encaminhado para o Hospital Proncor, mas na manhã seguinte a cirurgia foi adiada. Segundo o paciente, Jazbik estipulou um preço em torno de R$ 22 mil para realizar o procedimento.

Hélio recorreu ao seu plano de saúde, Unimed, que alegou que o contrato não cobria as despesas da cirurgia emergencial.

Desta forma, Hélio tentou fazer a cirurgia na Santa Casa pelo SUS, porque não pagaria nada, e com o mesmo médico, já que o próprio Jazbik dirigia a cardiologia do hospital.

Segundo Hélio, o cardiologista alegou que na Santa Casa o risco de infecção hospitalar era alto, convencendo o paciente fazer a cirurgia no hospital particular.

Diante da gravidade alegada por Jazbik, o paciente conseguiu o empréstimo de três cheques com os valores de R$ 10.440,00, R$ 5.780,00 e R$ 5.780,00, que serviram como caução. A consulta foi feita por volta das 21h e a cirugia no mesmo dia.

Segundo o relato do advogado de Hélio, Dijalma Mazali Alves, o paciente passou a sofrer pressão para efetuar o pagamento, sob pena de execução dos cheques.

Nesse momento, para honrar a dívida, Hélio vendeu a casa em que residia com a mulher, pagou o médico, e depois foi morar de favor.

Mas de agosto de 2008 a abril de 2009, Hélio foi para o asilo Sebeve (Serviço de Bem Estar e Amparo da Velhice), por falta total de condição de sobrevivência.

Hoje, aposentado, vive com R$ 1 mi por mês da Previdência Social.

Paciente pede recibo mas não recebe

Segundo versão de Hélio, depois da cirurgia ele tentou resgatar o gasto por meio de ação judicial contra a Unimed. Para isso, precisava de recibo de Jazbik, no valor dos quase R$ 22 mil.

Não obteve o recibo à época, pelo que conta do processo 0809962-50.2013.8.12.0001, ainda em andamento nas mãos do juiz Daniel Della Mea Ribeiro, da 6ª Vara Cível Residual de Campo Grande.

Na ação inicial, Hélio foi instado a apresentar prova de pagamento da cirurgia à Justiça, mas tinha em mãos apenas os cheques devolvidos, um deles com o nome do beneficiário rasurado, e não o recibo que deveria ter sido fornecido por Jazbik, em 2007, com o custo da cirurgia.

Dessa forma, seu advogado o instruiu a cobrar o recibo em ação extrajudicial.

Apenas em 22 de novembro de 2012 o cardiologista comprovou o pagamento, no total de R$ 21.970,00, referentes ao seu trabalho e ao do resto da sua equipe.

Nesse momento, a ação tem com novas diligências determinadas pelo juiz Daniel Della Mea Ribeiro, agora em 05 de julho passado.

A reportagem ligou diversas vezes para o médico João Jasbik, mas o telefone dele estava fora de área, sem caixa postal. O contato continua sendo tentado.