Às vésperas da eleição para a presidência do Senado, o terceiro cargo na linha sucessória presidencial, o candidato favorito ao posto, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), foi denunciado pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, ao Supremo Tribunal Federal (STF) num caso em que ele é suspeito de usar notas frias para comprovar o pagamento de pensão alimentícia. Pela suspeita, um pagamento mensal de R$ 12 mil era feito à jornalista Mônica Veloso, com quem o senador tem um filho, por um lobista da empreiteira Mendes Júnior. Calheiros renunciou à presidência do Senado há seis anos, após denúncias de corrupção.

A denúncia do PGR foi ajuizada na última sexta-feira em um inquérito que corre em segredo de Justiça na corte e deverá ser levada para votação em plenário pelo relator da ação, o ministro Ricardo Lewandowski. Por meio de sua assessoria de imprensa, Gurgel confirmou que entrou com a denúncia, mas não detalhou o assunto. O poder Judiciário volta às suas atividades regulares na próxima sexta-feira (1º de fevereiro), mesmo dia em que acontece a votação para escolha do novo presidente do Senado.

O único candidato contra Calheiros na disputa pelo comando da casa é o senador Randolfe Rodrigues (Psol-AP), que na última disputa ficou com apenas 10% dos votos. O senador considera sua candidatura como uma “necessidade”, já que avalia que Calheiros não “deveria” concorrer sozinho.

Histórico

Em maio de 2007, surgiram as primeiras denúncias de que um lobista da empreiteira Mendes Júnior pagava R$ 12 mil mensais à jornalista Mônica Veloso como pensão alimentícia. A jornalista tem uma filha de Renan Calheiros. Em sua defesa, o senador apresentou documentos que comprovavam renda suficiente para pagar a pensão da filha e que não precisaria da ajuda de lobistas.

Diante disso, o Conselho de Ética da Casa recomendou a cassação do mandato do parlamentar, mas o plenário do Senado o absolveu por 40 votos contra, 35 a favor e seis abstenções. Mas a pressão fez com que Renan Calheiros renunciasse à presidência do Senado.

Naquele mesmo ano, uma nova denúncia abalou a história política do senador. Acusado de ter comprado rádios em Alagoas por meio de “laranjas”, novamente Renan foi absolvido pelos colegas em nova votação pela cassação de seu mandato. Desta vez, o placar foi 48 votos contra e 29 a favor.

Outras quatro denúncias foram apuradas no Conselho de Ética, mas não chegaram a ser decididas em Plenário. Renan foi acusado de tráfico de influência junto à empresa Schincariol na compra de uma fábrica de refrigerantes, espionagem de parlamentares da oposição, participação em esquema de desvio de verbas públicas em ministérios do PMDB, seu partido, e de apresentar notas frias em nome de empresas fantasmas para comprovar rendimentos.