Papa diz que diálogo é alternativa à indiferença e ao protesto

O papa Francisco fez hoje, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, um dos mais fortes discursos durante sua participação na Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Sem citar manifestações ou ações políticas específicas recentes do país, o pontífice pregou o diálogo aos cerca de 2 mil representantes de destaque na sociedade civil brasileira presentes ao […]

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O papa Francisco fez hoje, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, um dos mais fortes discursos durante sua participação na Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Sem citar manifestações ou ações políticas específicas recentes do país, o pontífice pregou o diálogo aos cerca de 2 mil representantes de destaque na sociedade civil brasileira presentes ao evento.

“Entre a indiferença egoísta e o protesto violento, sempre há uma alternativa construtiva: o diálogo”, disse. “É impossível imaginar um futuro para a sociedade, sem uma vigorosa contribuição das energias morais numa democracia que evite o risco de ficar fechada na pura lógica da representação dos interesses constituídos. Será fundamental a contribuição das grandes tradições religiosas, que desempenham um papel fecundo de fermento da vida social e de animação da democracia. Favorável à pacífica convivência entre religiões diversas é a laicidade do Estado que, sem assumir como própria qualquer posição confessional, respeita e valoriza a presença do fator religioso na sociedade, favorecendo as suas expressões concretas”, acrescentou, frisando ainda que “ou se aposta na cultura do encontro, ou todos perdem”.

Francisco citou Alceu Amoroso Lima ao afirmar que todos aqueles que possuem um papel de responsabilidade em um país “são chamados a enfrentar o futuro com os olhos calmos de quem sabe ver a verdade”.

O papa citou os valores cristãos que promovem o bem comum e afirmou que fé e razão convergem em diversos aspectos da cultura, como arte, ciência, trabalho e literatura. “O cristianismo une transcendência e encarnação; sempre revitaliza o pensamento e a vida, frente a desilusão e o desencanto que invadem os corações e saltam para a rua”, frisou.

O líder da Igreja também ressaltou a responsabilidade social e afirmou que o futuro exige uma “visão humanista” da economia e da política, de forma a realizar “cada vez mais e melhor a participação das pessoas, evitando elitismos e erradicando a pobreza”.

“Quem atua responsavelmente, submete a própria ação aos direitos dos outros e ao juízo de Deus. Este sentido ético aparece, nos nossos dias, como um desafio histórico sem precedentes. Além da racionalidade científica e técnica, na atual situação, impõe-se o vínculo moral com uma responsabilidade social e profundamente solidária”, ressaltou.

Durante toda a cerimônia no Municipal, o papa Francisco se mostrou bem humorado e foi aplaudido por diversas vezes. Ao chegar, foi recebido pela diretora do teatro, a atriz Carla Camurati. Após o discurso, Francisco foi saudado por crianças no palco, enquanto o público, de pé, o aplaudia e gritava seu nome. O pontífice recebeu no palco líderes de outras religiões, representantes da sociedade civil e indígenas, que deram de presente ao religioso um cocar, que foi prontamente colocado por Francisco sobre o solidéu que usava.

O padre Jesús Hortal, ex-reitor da PUC-Rio, disse que “não esperava grandes gestos, mas sim uma linguagem clara, direcionada para todos” no discurso do papa. Hortal lembrou ainda que o tema das drogas – citado por Waldir Júnior antes do discurso do pontífice – foi um tema constante durante toda a visita do papa Francisco ao Brasil.

“Poderia ter falado um pouco mais em uma dimensão política, mas dado que não era uma viagem brasileira [mas à Jornada Mundial da Juventude], era impossível abordar pontos concretos da nossa realidade. Ele não poderia ser mais concreto, tinha que fazer um discurso geral”, disse Hortal.
Entre as ausências no Municipal, não compareceram o prefeito Eduardo Paes (PMDB), que se encontra no Centro de Controle da Prefeitura para ajudar nos preparativos para a vigília que acontece à noite em Copacabana, e o governador Sérgio Cabral.
Depois de deixar o Municipal, o papa voltou para a residência oficial, onde almoçará com bispos. Mais tarde, participará de vigília na Praia de Copacabana.

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