A mulher está proibida de cuidar da criança e diz que foi coagida a registrar queixa colocando o marido como suspeito de estuprar a filha. O caso está parado na justiça e a família separada.

Néia tem 34 anos e há três meses não pode cuidar da própria filha, que tem 3 anos de idade, por ordem judicial. Segundo ela, o pesadelo começou em um Ceinf de Campo Grande, onde a diretora e funcionárias acharam que a criança era vítima de abuso sexual. A confusão destruiu a rotina da família e está parada na Justiça.

Enquanto isso, além de perder a guarda da filha, a mulher acabou proibida de ver o marido e pai da menina, contra quem diz ter sido coagida a registrar a queixa do suposto estupro. Desde que começou a trabalhar em um frigorífico, Néia passou a sair de casa às 4 horas da manhã. A filhinha passou a ficar com o pai, que a levava ao Ceinf (Centro de Educação Infantil) e cuidava da menina até que ela chegasse do serviço.

Conforme a mãe, tudo começou no dia 21 de agosto. Na hora do almoço, ela começou a receber mensagens da diretora da Ceinf querendo conversar urgente com ela. Ao chegar à escola, a diretora pediu que o pai ficasse do lado de fora, pois falaria somente com a mãe.

“Ela disse que minha filha estava toda machucada. Quem tinha se recusado a tomar banho, dizendo que estava com as partes íntimas machucadas e que o pai teria mexido nela. Na hora eu fiquei sem chão”, contou a mãe entre lágrimas.

A diretora teria ainda feito a mãe prometer que levaria a menina ao médico para fazer exames. Néia conta que o marido foi comunicado da situação e levou ela com a criança ao posto de saúde, mas não havia ginecologista. Foram ao hospital Evangélico, São Lucas, Santa Casa, mas só conseguiram ser atendidos no Hospital Universitário da UFMS após passarem 24h aguardando no local.

“Minha filha estava bastante assada e eu me lembro como se fosse hoje que ela chorava, não podíamos passar nem a pomadinha nela esperando para fazer o exame. Demos entrada às 14h, mas só fomos atendidos às 13h30 do dia seguinte. A médica examinou e me disse que nunca foi estupro, mas que aparentava ser uma higiene mal feita e só. Fomos então orientados a ir ao Imol (Instituto de Medicina e Odontologia Legal) e no Conselho Tutelar”, conta.

No outro dia, a mãe conta que o casal foi ao Conselho Tutelar com a criança, mas a psicóloga não conversou com a menina, dizendo que o caso era de polícia. Segundo a mãe, na delegacia a psicóloga de plantão perguntou à criança se o pai já havia pegado nas partes íntimas dela e a menina teria dito que sim.

“Mas se o pai cuida, dá banho, como não vai pegar. Eu tentei explicar que ele sempre foi carinhoso com a filha e ela gosta dele, por isso tinha dúvida de que ele teria abusado dela, mas já nesse momento, tudo o que eu dizia começou a ser usado contra mim”, disse a mãe.

Segundo Néia, o escrivão e a psicóloga do Conselho Tutelar começaram a ameaçá-la e dizer que, se ela defendesse o marido, estaria sendo conivente e a filha seria mandada para um abrigo. Nisso, a mãe saiu da sala e contou ao marido. Ele teria dito que se era para evitar que a bebê fosse para um abrigo, que ela fizesse o Boletim de Ocorrência.

“Eu queria que colocasse no BO que foi a creche que falou, mas eles me obrigaram a dizer que fui eu, me ameaçaram mais um vez dizendo que ou fazia do jeito deles, ou minha filha ia pro abrigo. Minha filha estava traumatizada já, não queria mais ser examinada. Eu tentava defender meu marido e a psicóloga dizia que eu é que não queria enxergar a verdade que estava na minha cara. Tudo o que eu dizia era usado contra mim. Eu fiquei desesperada”, contou.

A justiça então deu a guarda provisória à mãe, com a condição de que o pai não podia se aproximar da criança. Neia, no entanto, conta que no dia 26 de agosto, ela e o marido se encontraram no Detran do shopping para transferir um carro da família que venderam para pagar um advogado, mas teriam esquecido que era feriado.

No outro dia, a mãe precisou ir ao serviço justificar as faltas e teria deixado a criança com uma prima que é vizinha e que quando voltou para casa, o conselho bateu na casa dela para levar a menina.

Busca e apreensão

Néia conta que ao chegar em casa com a filha, viu algumas pessoas chamando no portão e que a princípio pensou que eram Testemunhas de Jeová. Quando se deu conta, percebeu que eram os conselheiros tutelares que foram buscar a criança.

“Eles chegaram com um mandato de busca e apreensão da criança dizendo que eu tinha quebrado duas regras, que me viram no shopping com meu marido e que prima não era parente e não podia deixar minha filha com ela. Por isso eles estavam ali pra levar minha bebê para o abrigo”, relembrou em desespero.

A mãe conta que teria entrado em pânico, se trancado com a criança na casa e até passado a menina por uma janela à casa da prima, mas que não conseguiu impedir que levassem sua filha. “Arrancaram ela de mim, colocaram no camburão. Todos os vizinhos acompanharam meu drama. Minha mãe conseguiu tirá-la no outro dia do abrigo e desde então eu estou sem minha filha, que agora mora com a avó em Anastácio”, disse chorando bastante.

Néia conta que foi muito humilhada durante os interrogatórios, e diz que está proibida de falar com o marido, sob pena de ficar impedida de ver a filha. A mãe diz que esta há quase três meses sem ver a bebê e quer que o caso seja resolvido o mais rápido possível.

“Vendi meu carro para pagar um advogado porque na defensoria não conseguimos ajuda. Tem 10 anos que eu sou casada e meu marido nunca me bateu ou agrediu a enteada. Quem dirá a filha. Não sei mais o que fazer. Queria que a juíza lê-se de novo o caso, visse os dois lados. Todo dia eu ligo pra minha filha e ela chora muito pedindo pra eu ir buscá-la, dizendo que quer ver o pai dela. Está sendo muito difícil pra mim. Chegar em casa, ver o quartinho dela e não poder abraçá-la, nem sei o que vai ser de mim”, declarou aos prantos.

A reportagem entrou em contato com o pai da criança, que diz até agora não ter entendido tudo que aconteceu. “Eu não consegui nem me defender ainda. Ninguém me chamou para ser ouvido. Sinto muito a falta da minha filha, da minha mulher, jamais teria coragem de fazer uma coisa dessas que estão me acusando. O que eu sei é que o laudo que comprova que minha filha não foi abusada está com a juíza, mas o despacho não é dado e isso está destruindo nossa família”, fala.

A delegada titular da DPCA (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente), Regina Márcia não foi encontrada para falar sobre o assunto. A reportagem entrou em contato com o conselho tutelar e a informação é de que o conselho não vai se pronunciar para não expor a criança e que está tranquilo quanto ao encamihamento do caso. O processo está nas mãos da juíza da infância Katy Braun.