O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva apoia as manifestações contra a corrupção no Brasil e defende que o Partido dos Trabalhadores realize uma “renovação profunda” diante da nova realidade nas ruas.

“Posso falar com autoridade apenas sobre o meu país, o Brasil, onde eu penso que as manifestações são em grande parte resultado de sucessos políticos, econômicos e sociais”, escreveu Lula em artigo publicado nesta quarta-feira no International Herald Tribune, edição internacional do New York Times.

Para o ex-presidente, os protestos não foram causados por uma “rejeição à política”, mas, pelo contrário, por uma “maior participação popular na democracia brasileira, por mais transparência”, por parte de jovens que não viveram tempos como a ditadura militar, ou de inflação alta, e justamente por isso “passam a exigir mais”.

Para alcançar esta maior transparência, Lula sugeriu que as instituições utilizem melhor os recursos digitais como as mídias sociais. “Não só para propaganda”, é preciso modernizar as instituições, inclusive o Partido dos Trabalhadores.

“Até mesmo o Partido dos Trabalhadores, que eu ajudei a fundar e que contribuiu tanto para modernizar e democratizar a política no Brasil, precisa de renovação profunda”, escreveu o ex-presidente, estimando que a juventude exige “instituições mais limpas e mais transparentes”, diferentes do “anacrônico” sistema político e eleitoral brasileiro, que tem sido “incapaz de se reformular”.

“A legitimidade destas demandas não pode ser negada, mesmo que seja impossível cumpri-las rapidamente”, escreveu Lula, lembrando que “uma sociedade democrática está sempre mudando, debatendo e defendendo suas prioridades e desafios, constantemente almejando novas conquistas”.

“Mas sem partidos políticos não pode haver uma verdadeira democracia”, destacou o ex-presidente, acrescentando que o PT precisa retomar “seus contatos diários com os movimentos sociais e oferecer novas soluções para os novos problemas, e fazer as duas coisas sem tratar os jovens de forma paternalista”.

Apenas no final do artigo Lula cita o nome da presidente Dilma Rousseff, ao apoiar a proposta de plebiscito defendida por ela e rejeitada pelo Congresso.

“Claramente, há muito o que fazer. A boa notícia é que nossos jovens desejam lutar para que a mudança social continue em um ritmo mais intenso”, opinou Lula, cujo partido governa o Brasil há quase onze anos.