Festival de Berlim: produção indie aposta no sexo
Fazia tempo que não se viam tantos filmes sobre sexo e pornografia como no 63º Festival de Berlim, que repetiu o fenômeno visto em Sundance, no mês passado. Produções como Lovelace, de Rob Epstein e Jeffrey Friedman, Don Jon’s Addiction, de Joseph Gordon-Levitt, The Look of Love, de Michael Winterbottom, e Interior. Leather Bar., de […]
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Fazia tempo que não se viam tantos filmes sobre sexo e pornografia como no 63º Festival de Berlim, que repetiu o fenômeno visto em Sundance, no mês passado. Produções como Lovelace, de Rob Epstein e Jeffrey Friedman, Don Jon’s Addiction, de Joseph Gordon-Levitt, The Look of Love, de Michael Winterbottom, e Interior. Leather Bar., de Travis Matthews e James Franco, são reflexo de uma onda que vem em especial do cinema americano, tradicionalmente mais conservador.
Lovelace, por exemplo, mostra a história de Linda Lovelace (Amanda Seyfried), estrela do clássico pornô Garganta Profunda, de 1972, que foi a primeira produção a ultrapassar as barreiras do gênero e alcançar o circuito comercial comum. Mas, em vez de mostrar uma história à la Cinderela, o longa mostra a exploração da atriz, que recebeu apenas 1.250 de dólares para atuar no filme que, estima-se, faturou 600 milhões de dólares. A história tem mesmo tons pesados. Como Linda contou depois em livros e entrevistas, seu marido, Chuck Traynor (Peter Sarsgaard, excelente), a teria forçado a embarcar nesse segmento e até a teria oferecido em um estupro coletivo, em troca de dinheiro.
No fundo, para além da trajetória de Linda Lovelace, o filme fala sobre a revolução sexual e a liberação feminina nos anos 1970. Apesar do tema, há pouca nudez e apenas algumas sequências de sexo, mais sugeridas do que explícitas, uma prova de que o assunto ainda é tabu na sociedade americana.
O inglês The Look of Love, dirigido por Michael Winterbottom, também se passa nessa época de mudanças, só que em Londres. A trama gira em torno de Paul Raymond (Steve Coogan, perfeito para o papel), o maior magnata da indústria de produtos eróticos do Reino Unido. Produtor de shows e de revistas de mulheres peladas, ele sofre um baque com a morte da filha Debbie, vítima de overdose. O filme aborda a revolução sexual e a entrada das drogas na vida das pessoas, alternando humor e seriedade. Aqui, mulheres nuas são mais comuns, assim como cenas de sexo que incluem até várias garotas na cama, ao mesmo tempo, com Paul.
Enquanto isso, Interior. Leather Bar. é a tentativa de Travis Matthews e James Franco de recriar os 40 minutos retirados de Parceiros da Noite, de William Friedkin. A produção de 1980 provocou controvérsia ao trazer Al Pacino no papel de um policial que se disfarça para investigar um clube de sadomasoquismo. Franco, que contracena com o astro pornô (hétero) Val Lauren, não economiza nas cenas mais picantes neste misto de ficção e documentário.
Já Don Jon’s Addiction, estreia do ator Joseph Gordon-Levitt na direção, é bem atual, uma comédia romântica do século XXI – mas uma comédia romântica menos fofa e mais sexualizada que o normal. Jon (Joseph Gordon-Levitt) é um jovem mulherengo que se satisfaz mais com a fantasia da pornografia do que com pessoas reais, pelo menos até o aparecimento de Barbara (Scarlett Johansson). Ele então se apaixona pela primeira vez, mas não consegue se livrar da pornografia, o que vai causar problemas no relacionamento e no seu amadurecimento pessoal. Gordon-Levitt usa imagens realmente pornográficas, com atrizes de seios e bumbuns enormes, mas, claro, sem ser explícito demais.
É provável que toda essa onda seja um reflexo do conservadorismo atual que sublimou, principalmente no mundo do cinema, quaisquer menções de nudez e sexo. As comédias românticas de hoje, por exemplo, se parecem com as dos anos 1940, que escondiam menções a sexo era escondida sob toneladas de metáforas. Agora, nem isso. Também parece ser uma reação à escassez de material adulto no cinema hollywoodiano em geral, totalmente voltado para o mercado, ou seja, com a missão de agradar de crianças a velhos e especialmente aos jovens a partir de 13 anos. E, aí, dá-lhe super-heróis.
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