‘Escorreguei na gasolina e não sei como não morri’, relata médico que sofreu atentado
De folga após o momento de pavor que passou após o dia de trabalho, o oftalmologista Eduardo de Lacerda Ferreira, 35 anos, não sabe quando volta ao hospital e quer repensar o modo como atende os pacientes. O filho de um paciente, Eduardo Ferreira da Silva, de 37 anos, entrou em seu consultório por volta […]
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De folga após o momento de pavor que passou após o dia de trabalho, o oftalmologista Eduardo de Lacerda Ferreira, 35 anos, não sabe quando volta ao hospital e quer repensar o modo como atende os pacientes.
O filho de um paciente, Eduardo Ferreira da Silva, de 37 anos, entrou em seu consultório por volta das 17h desta segunda-feira (15) e tentou atear fogo nele.
Depois de passar pelos momentos de tensão, o médico não foi trabalhar hoje e relatou o que aconteceu dentro do consultório, no Hospital São Julião, referência em Mato Grosso do Sul pela cirurgia oftalmológica.
O médico relatou que Eduardo entrou em seu consultório perguntando: “lembra de mim”? O oftalmologista disse que sim, pois o pai de Eduardo é paciente dele há seis anos e sempre vinha acompanhado pelo filho, que tem o mesmo nome dele.
“O pai dele sempre se orgulhava e falava que eu tinha o mesmo nome que o filho dele. Sempre com ar de admiração, certa veneração que alguns pacientes costumam ter com que trata deles por muito tempo. Ele sempre trazia balinhas, lembrava de mim. O filho era da mesma forma, nunca com raiva, sempre alegre com o pai”, lembra o médico.
Eduardo Lacerda disse que enquanto preenchia formulários depois dos atendimentos do dia e ao responder ao rapaz, o tom usado por ele já foi outro. “Ele ficou nervoso e falou: ‘está se lembrando do que fez comigo?’. Ao dizer isso, ele já tirou da sacola a garrafa com gasolina e jogou três vezes em mim, no cabelo, rosto e caiu na minha roupa. Fiquei encharcado e senti o cheiro de gasolina, aí tentei correr e caí”, relata.
Como o piso do hospital é de porcelanato e acabou molhado de gasolina, ficou escorregadio e o médico conta que não conseguia se levantar. Eduardo Ferreira ainda tentava riscar fósforos quando o médico conseguiu empurrá-lo.
“Ele tentou riscar quatro ou cinco fósforos, que ficaram molhados de gasolina. Consegui empurrá-lo para fora do consultório e mesmo assim ele conseguiu manter a mão dentro da sala, ainda tentando incendiar o local”.
Após conseguir fugir, o médico diz que correu para o centro cirúrgico, onde trocou a roupa e fez lavagem ocular com soro. “Dois médicos amigos estavam no lugar e logo me atenderam. Sentia muita dor nos olhos e ouvidos e o cheiro forte do combustível. Foi um pesadelo”, relatou.
Ao sair do consultório, o médico gritou por ajuda e dois pacientes tentaram conter o autor do atentado, que teria sacado uma faca e pedido para que eles se afastassem. “Depois, me contaram que ele seguiu tranquilamente para fora, querendo ainda pegar o táxi para ir embora, quando foi contido pelos seguranças”, contou.
Medo em um hospital tranquilo
O Hospital São Julião atualmente é referência para cirurgias oftalmológicas e possui construções datadas de 1940, quando os italianos enviavam missionários para atender pacientes com hanseníase. O lugar é distante cerca de 15 quilômetros do centro da cidade, arborizado e bem estruturado.
“Muitos pacientes do meu consultório querem operar lá e não sabem que o hospital não atende exclusivamente pacientes do SUS. Muitos ficam felizes ao saber que temos convênio e podem ser operados lá, é uma clínica de referência, em um lugar tranqüilo”, explica o médico.
“O perfil do paciente do São Julião é de pessoas que sabem que o atendimento será bem feito, é raro encontrar alguém reclamando. Então nunca pensei que passaria por isso. Estou repensando em continuar atendendo por lá, talvez eu fique só no consultório, mas é difícil”.
Eduardo Lacerda conta que é um dos poucos médicos do Estado especializado no tratamento do glaucoma e que tem muitos pacientes que dependem dele para enxergar. “Tenho um compromisso, não quero pensar que pelo meu medo algumas pessoas ficaram cegas”, opinou.
Ele diz que não existe ficha de atendimento de Eduardo Ferreira na unidade, mas que é possível que ele o tenha atendido. “Exatamente por ser um lugar muito procurado, pode ser que o pai dele tenha pedido que eu fizesse um exame, mas é uma medida de pressão ocular, um procedimento simples, que não causaria o que ele está alegando”, explicou.
O médico acredita que o rapaz esteja passando por um momento de dificuldade. “Ele precisa de atendimento, avaliação psicológica e física”, finalizou.
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