Depois de pedir ‘salvação nacional’, presidente de Portugal se reúne com partidos para tentar acordo

O presidente de Portugal Aníbal Cavaco Silva se reuniu hoje (11), em separado, com os líderes dos três principais partidos com representação na Assembleia da República de Portugal. Os encontros foram para tentar um pacto entre as legendas a fim de acabar com a crise política e garantir a estabilidade para execução do programa de […]

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O presidente de Portugal Aníbal Cavaco Silva se reuniu hoje (11), em separado, com os líderes dos três principais partidos com representação na Assembleia da República de Portugal. Os encontros foram para tentar um pacto entre as legendas a fim de acabar com a crise política e garantir a estabilidade para execução do programa de ajustamento econômico, acertado desde 2011 com a Troika – Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Central Europeu (BCE) e Comissão Europeia (CE), credores de empréstimo em andamento (78 milhões de euros).

Cavaco quer que o Partido Social Democrata (PSD), o Centro Democrático Social – Partido Popular (CDS-PP), ambos no atual governo do primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, e o Partido Socialista (PS), hoje na oposição, formem juntos um novo governo e antecipem as eleições legislativas de 2015 para 2014. Além disso, as três legendas que há pouco mais de dois anos assinaram o memorando de entendimento com a Troika deverão garantir “a sustentabilidade da dívida pública, o controle das contas externas, a melhoria da competitividade e a criação de empregos”.

O teor das conversas dass reuniões entre o presidente da República e as lideranças dos três partidos não foi divulgado. Ontem (10), PSD e CDS sinalizaram disposição de diálogo enquanto o PS reagiu contrariamente. A direção do PS está reunida neste momento para ouvir o relato de António José Seguro, secretário-geral do partido, sobre o encontro com Cavaco Silva. Caso as legendas não cheguem a um acordo, o presidente poderá demitir o gabinete de Pedro Passos Coelho, nomear novo governo (de sua indicação ou da Assembleia da República) ou até mesmo antecipar as eleições para este ano – como prefere os partidos de esquerda, movimentos sociais e sindicalistas.

Enquanto não há um desfecho, o mercado e formadores de opinião reagem. Na contramão de outras economias europeias, a Bolsa de Valores do país fechou em baixa de 2% e subiram os juros que remuneram os títulos da dívida pública de dez anos (6,86%). A reação negativa ocorre apesar do apelo de Cavaco Silva ser a favor da estabilidade política e econômica.

Para o economista Luís Salgado de Matos, do blog O Economista Português, o discurso de Cavaco deveria ser “bem recebido” pelo mercado financeiro, pois assinalou compromisso com os credores e a preocupação, no próximo ano, com a solvência de Portugal, “quando os cofres públicos começarão a se esvaziar” e terminam as transferências parciais do empréstimo da Troika.

Já o economista João Rodrigues, do blog Ladrões de Bicicleta, desconfia da intenção política do presidente português. “A retórica da salvação na boca de Cavaco é só um truque para tentar manter o PS atrelado ao memorando existente e aos que existirão”, escreveu se referindo a eventual necessidade de Portugal precisar de mais empréstimos.

O escritor Domingos Amaral, que também tem formação em economia, publicou no seu blog que a fórmula de Cavaco Silva, apesar de não estabelecer solução ao problema de fundo de Portugal (a elevada dívida pública), tem o mérito de estabelecer “uma transitória acalmia da hostilidade e da crispação geral” e abrir possibilidade de haver um novo governo “que durante um ano faria o possível para diminuir a austeridade interna sem perder a credibilidade externa”.

Pelas redes sociais o movimento Que se Lixe a Troika descartou a proposta de Cavaco Silva. “Não, não queremos um governo tripartido de destruição nacional que prolongue a agressão ao povo. Queremos a demissão imediata deste governo e que o povo possa decidir o seu próprio futuro!”

No final da tarde de hoje houve protestos nas galerias da Assembleia da República, com gritos de “demissão” contra o governo. O Parlamento analisava projeto de lei que aumenta o horário de trabalho dos funcionários públicos (40 horas) e estabelece programa de mobilidade que pode resultar em demissão.

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