Com cerveja e espetinho, Leilão arrecada dinheiro para financiar combate aos índios

Com um auditório lotado, todo os que subiam ao palanque entoavam a resistência contra ocupações indígenas. Por ordem judicial o dinheio arrecadado está bloqueado judicialmente

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Com um auditório lotado, todo os que subiam ao palanque entoavam a resistência contra ocupações indígenas. Por ordem judicial o dinheio arrecadado está bloqueado judicialmente

Com inúmeras autoridades políticas e vários produtores rurais, o ‘Leilão da Resistência’ promovido por pecuaristas de Mato Grosso do Sul para arrecadar recursos para financiar ações contra retomadas de áreas indígenas acontece nesse sábado (07), com  mordomia e cerveja gelada para os participantes.

Com auditório cheio de fazendeiros, todos os que subiam ao palanque entoavam a resistência contra a demarcação das terras indígenas. “Essa é a resistência democrática que o MS levanta nesse momento. Chega de desrespeito ao cidadão que faz e que produz”, disse a estrela da noite, o deputado federal pelo estado de Goias, Ronaldo Caiado (DEM). A sendor Kátia Abreu (PSD) de Tocantins também estava presente. Antes do leilão ela afirmou que a Funai é falida, retrógrada e atrasada.

Com um dos discursos mais aplaudidos pelos participantes o deputado afirma que a questão indígena é um problema para todo o país e que o Cimi (Conselho Indigenista Missionário) e a Funai são “preconceituosos contra os produtores brasileiros”.

Para o deputado estadual Zé Teixeira (DEM) pouco importa o leilão e o dinheiro arrecadado e sim que cada produtor conseguir defender sua propriedade. “Há anos os produtores gastam com as invasões. Se o banco tem um segurança na porta, por que a fazenda não pode ter? Esse leilão é um alerta para mostrar que o setor produtivo não vai esperar pelo poder publico e precisa de segurança”, fala.

“Não é o índio que invade e sim essas ONGs, essas organizações de esquerda, que querem desarticular o setor produtivo brasileiro”, garante.

O senador Moka (PMDB) afirmou que o leilão é justo, porque ele é realizado com dinheiro dos produtores rurais e é conseguido com suor e trabalho dos mesmos. “Esses são recursos para a defesa das propriedades. Aqui no MS nós não temos terra grilada nem terra invadida. Nós temos terra produtiva”, disse em discurso.

O secretário de Habitação Marun (PMDB), um pouco mais contido nas declarações, disse que o leilão é uma maneira de o setor se expressar. “Essa é uma afronta ao estado de direito democrático”. Eu não concordo 100% com tudo que está proposto, mas acredito que alguma coisa deva ser feita e a que se resistir a isso”.

O ex-deputado estadual e pecuarista, Ricardo Bacha, foi citado várias vezes em muitos discursos mais calorosos, mas ele mesmo não quis se pronunciar. Sentado no canto, usando óculos escuros e um chapéu de palha, ele disse que não comentaria sobre o leilão e que só estava acompanhando o evento.

A fazenda Buriti, de sua propriedade em Sidrolândia, foi uma das primeiras ocupadas pelos indígenas que agora a chamam de Aldeia Buriti. Em torno dela há mais de 20 fazendas ocupadas.

Leilão com mordomias

O evento, muito bem organizado, contou com garçons servindo água, refrigerante e cerveja para os participantes que estavam dentro do local. Quem preferiu ficar lá fora, podia ver os discursos e o leilão embaixo de uma tenda montada com dois televisores e vários climatizadores. No período da noite serão vendidos espetinhos com mandioca por R$10, para quem ficar até o final.

Para o produtor rural de São Gabriel do Oeste, Laner da Costa Nunes, 32 anos, os pecuaristas do estado tinham que ser mais unidos. “Eu acho que deveria acontecer uma greve, onde nenhum produtor vende mais nada. Ai eu queria ver”, questiona. Mesmo assim, ele aprova a iniciativa do leilão e estava esperando para comprar alguma coisa “Vamos ver, se eu achar alguma coisa que me interessa eu compro”.

Abelir Lima da Silva, de 40 anos, produtor de leite no município de Tacuru, compareceu por conta do apoio dos políticos em relação a causa dos produtores rurais. “Eu mesmo não vou comprar nada, mas eu vim para apoiar os outros e porque eu acho importante participar”, fala.

A produtora Ini Pereira Vieira, de 40 anos, também do município de Tacuru espera que a iniciativa do leilão não termine agora. “Nós precisamos mostrar que nós somos e não podemos aceitar essas invasões as nossas terras. Todos precisamos nos unir e apoiar os amigos em situação difícil. Somos nós que movemos esse país” garante.

O governador André Puccinelli (PMDB) não compareceu. Dos parlamentares de Mato Grosso do Sul estavam presentes o senador Waldemir Moka (PMDB); os deputados federais Luiz Henrique Mandetta (DEM), Reinaldo Azambuja (PSDB) e Fábio Trad (PMDB); os deputados estaduais Mara Caseiro (PTdoB), Márcio Fernandes (PTdoB), Jerson Domingos (PMDB), Junior Mochi (PMDB). Zé Teixeira (DEM) e Márcio Monteiro (PSDB), além do ex-prefeito de Campo Grande e secretário estadual Nelsinho Trad.

Aliança?

A presença do deputado federal Reinaldo Azambuja abre a perspectiva de questionamento entre os petistas. O ex-governador e vereador Zeca do PT antecipou que a presença de Azambuja no leilão mostraria a distância entre o que prega o PT e o PSDB.  Zeca e outras lideranças do PT são contra a aliança com os tucanos, cujo projeto contemplaria a candidatura de Azambuja ao senado na chapa do senador Delcídio Amaral, pré-candidato do PT ao governo.

O senador Delcídio Amaral e o deputado federal Vander Loubet, defensores da aliança com o PSDB, não compareceram.(Matéria alterada às 17h57 para acréscimo de informações)

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