Venezuela gera polêmica após rejeitar ‘massacre’ ianomâmi

As declarações recentes do governo venezuelano rejeitando denúncias de um massacre de cerca de 80 índios ianomâmi em área próxima da fronteira com o Brasil causaram polêmica entre entidades indígenas. A denúncia do massacre na comunidade Irotatheri que teria ocorrido em um afluente do rio Orinoco, uma área de difícil acesso, foi feita na quarta-feira. […]

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As declarações recentes do governo venezuelano rejeitando denúncias de um massacre de cerca de 80 índios ianomâmi em área próxima da fronteira com o Brasil causaram polêmica entre entidades indígenas.

A denúncia do massacre na comunidade Irotatheri que teria ocorrido em um afluente do rio Orinoco, uma área de difícil acesso, foi feita na quarta-feira.

No sábado, a ministra venezuelana para Povos Indígenas, Nicia Maldonado, declarou que “não foi encontrada evidência de nenhuma morte ou casa incendiada nestas comunidades apontadas como cenário do suposto crime”, após visitar comunidades ianomâmis com uma comissão integrada por militares, policiais investigadores e fiscais.

No domingo, um outro ministro do país, Tareck El Aissami, da pasta de Justiça e Interior, declarou pelo Twitter que autoridades contataram sete das nove comunidades ianomâmis e que, “graças a Deus, todos estão bem”.

Ele classificou de “lamentável a maneira miserável como algumas pessoas e meios de comunicação difundiram a noticia falsa sobre as comunidades ianomâmis”.

Acusações

Diversos setores apontam falhas nas investigações e afirmam que o governo apresentou as conclusões de forma apressada ou com fins eleitorais, visando o pleito presidencial do mês que vem.

O coordenador geral da Confederação Indígena Bolivariana do Amazonas (Estado venezuelano onde teria ocorrido a matança), Romel Guzamana, questiona se a comissão do governo chegou ao local do suposto crime.
“Primeiro deve-se ir até Momoi de helicóptero e são então necessários entre três e cinco dias caminhando pela selva até se chegar na região da fronteira com o Brasil. A comissão foi e voltou e não escutamos testemunhos dos afetados”, diz ele.

José Angel Divassón Cilveti, bispo de Puerto Ayacucho (capital do Amazonas), diz que “nesta região se chega de helicóptero ou caminhando. Mas sobrevoando não se enxerga muito, já que as árvores cobrem tudo”.

Outra entidade indígena, a Coordenação de Organizações Indígenas do Amazonas (Coiam), divulgou na segunda-feira um comunicado no qual afirma que “a comissão não chegou a Irotatheri, lugar onde supostamente aconteceu o incidente de julho de 2012, razão pela qual não se pode dizer que não foi encontrada evidência de massacre”.

Eleições

Há sugestões de que o governo estaria tentando acobertar o massacre.

“O problema foi a denúncia ter sido feita em meio à campanha eleitoral”, disse o governador do Estado venezuelano do Amazonas, Liborio Guarulla, oposicionista.

“Primeiro a ministra negou o massacre, na quinta-feira. Dois dias depois, sábado, disse que não aconteceu matança. Supõe-se que a comissão chegou até o Alto Orinoco, mas não até o local (Irotatheri), que não possui heliporto”, diz ele.

O político critica a ausência de jornalistas, especialistas ou testemunhas na comissão do governo.
Guarulla também ressalta o fato de que as pessoas que denunciaram o crime estarem isoladas em um posto militar.

A BBC contatou o governo venezuelano para checar as acusações mas não obteve resposta.

O crime, ocorrido em julho, teria sido desencadeado pela tentativa dos garimpeiros vindos do Brasil de estuprar mulheres indígenas.

É comum a passagem ilegal de garimpeiros pela fronteira entre os dois países. Em 1993 ocorreu outra denúncia de matança ianomâmi por parte de garimpeiros.

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