Radioterapia do Hospital do Câncer em Campo Grande está parada há 26 dias
As salas de espera do setor de radioterapia estão vazias. Com a suspensão do tratamento, mais de 1.500 procedimentos deixaram de ser feitos até agora.
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As salas de espera do setor de radioterapia estão vazias. Com a suspensão do tratamento, mais de 1.500 procedimentos deixaram de ser feitos até agora.
O serviço de radioterapia do Hospital do Câncer em Campo Grande, um dos dois hospitais que atende pelo SUS (Sistema Único de Saúde), está parado há 26 dias. Com isso cerca 60 tratamentos por dia estão deixando de ser feitos, o que já chega a cerca de 1.560 procedimentos até agora. A informação repassada pelo Hospital é de que uma peça do equipamento de radioterapia estaria queimada.
A redação do Midiamax recebeu inúmeras ligações dos pacientes que estão muito preocupados com a continuidade de seus tratamentos. No HC, a informação é de que devido ao temporal que aconteceu no dia 20 de setembro em Campo Grande, uma peça do equipamento de radioterapia teria sido queimada.
Segundo a assessoria de imprensa do Hospital, a peça para reposição já foi comprada, mas como vem do Reino Unido ainda não chegou a Campo Grande. “Primeiro enfrentamos a greve dos fiscais da Anvisa e agora a peça já chegou no aeroporto de Viracopos, em Campinas, mas como a pista só foi liberada na segunda (15), ainda estamos aguardando que o despachante nos comunique a data exata em que ela vai chegar em Campo Grande”, informou a assessoria.
A médica responsável pelo setor, Eva Glória Siufi, disse que os pacientes não serão transferidos para a clínica Neorad, que também atende pelo SUS na Capital. “Não há como transferi-los porque o tempo desse procedimento demoraria o mesmo que tempo que a peça vai levar para chegar aqui. Mas adianto que nenhum paciente será prejudicado, uma vez que muitos estão no final do tratamento e já receberam uma dose considerável de radioterapia”, explicou a médica.
Eva afirmou que assim que a peça chegar o HC vai entrar em contato com todos os pacientes e quem precisar vai receber um complemento da dose. A médica aconselha aos pacientes quem tiverem alguma dúvida a ligar para o setor de radioterapia do HC pelo telefone: 3341-6000.
A reportagem tentou entrar em contato com a Secretaria Estadual de Saúde, que é gestora do serviço de tratamento de câncer em MS, mas até o momento não obteve resposta.
Neorad
Na clínica Neorad – que também atende pelo SUS – a informação é de que não há notícia de que os pacientes do HC serão transferidos para lá.
Segundo um paciente da clínica que não quis se identificar, a Neorad não suportaria a quantidade de pacientes vindos do Hospital do Cancer, uma vez que os tratamentos têm início às 06h30 e seguem até a 00h praticamente todos os dias. O fato foi confirmado por uma atendente que explicou que a cada 10 minutos um tratamento é iniciado.
Monopólio do tratamento de câncer no Estado abre brecha para descaso
Em Mato Grosso do Sul, os pacientes que precisam do tratamento de câncer enfrentam concentração de um pequeno grupo interessado nos ganhos econômicos dos tratamentos em contraponto a saúde das pessoas. O MPF (Ministério Público Federal) ajuizou ação no dia dois de outubro de 2012 para que o investimento federal seja aplicado em hospitais públicos, com o intuito de salvar vidas.
Para o MPF, “se não houver intervenção judicial, a prestação dos serviços para diagnóstico e tratamento de câncer e, consequentemente, a expectativa e o tempo de sobrevida de nossos doentes ficará ao exclusivo arbítrio de um pequeno grupo, unicamente interessado em ganhos econômicos”.
Em maio de 2012, o Ministério da Saúde lançou o Plano de Expansão da Radioterapia no SUS, com o objetivo de articular projetos de ampliação e qualificação de hospitais habilitados em oncologia em todo o país. O plano prevê investimento de R$ 505 milhões em 80 hospitais, cinco deles em Mato Grosso do Sul.
Atualmente a concentração dos serviços de radioterapia em MS está no Hospital do Câncer e na Santa Casa, em Campo Grande, que terceirizaram os serviços para a Clínica NeoRad.
Contudo, no Estado, foram selecionados o Hospital Universitário, Hospital Regional e Santa Casa, em Campo Grande, além da Santa Casa de Corumbá e Hospital Evangélico em Dourados. Destes, o HU e a Santa Casa de Campo Grande rejeitaram a oferta e podem deixar de receber investimentos em infraestrutura, serviços e um acelerador linear, equipamento de alta tecnologia essencial para o combate ao câncer.
De acordo com investigação do MPF, a negativa dos entes públicos é articulada pelo médico Adalberto Abrão Siufi, que é sócio-proprietário da clínica Neorad, chefe do serviço de oncologia do HU e supervisor do Programa de Residência Médica em Cancerologia Cirúrgica da UFMS, ainda participa ativamente da direção do Hospital do Câncer e era, até pouco tempo, também responsável técnico pelo setor de cirurgia oncológica (combate ao câncer) da Santa Casa.
A investigação comprovou que Siufi atuou para desativar o serviço de radioterapia do HU/UFMS e é o principal beneficiado pela situação, decorrente “do sombrio movimento de longa data fundado exclusivamente em interesses econômicos privados para sucateamento do Hospital Universitário e encerramento das atividades de diagnóstico e tratamento de câncer e, em especial, dos serviços de radioterapia”, afirma o texto da ação civil pública.
MPF ajuizou ação para tentar acabar com monopólio
Na tentativa de barrar a terceirização, o Ministério Público Federal ajuizou ação no último dia dois de outubro para que o HU seja obrigado a aceitar investimentos federais em equipamentos e serviços de radioterapia, essenciais para o tratamento de câncer. O HU está em 1º lugar na lista de prioridades no estado, para receber os recursos do Ministério da Saúde, dentro do Plano de Expansão da Radioterapia no Serviço Único da Saúde, mas pediu sua exclusão.
O MPF solicitou à Justiça, a concessão de decisão liminar para que haja imediata adesão do hospital ao plano do governo federal. O processo está na mesa do juíz da 1ª Vara Federal em Campo Grande, Ronaldo José da Silva, desde o dia oito de outubro de 2012 para decisão. Caso seja concedida a liminar, o HU deverá adotar todas as medidas para receber e manter em funcionamento os equipamentos de radioterapia, inclusive contratando os profissionais necessários.
Em caso de descumprimento da ordem judicial, o MPF pede o estabelecimento de multa diária de R$ 3 mil, a ser cobrada diretamente da reitora da UFMS, Célia Maria Silva Correa Oliveira, e do diretor-geral do HU, José Carlos Dorsa Vieira Pontes.
A radioterapia do HU está fechada a cerca de quatro anos, entretanto, a União deve manter o HU na lista de prioridades do Plano de Expansão da Radioterapia no SUS.
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