O ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), liberou ontem à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPMI) do caso Cachoeira cópia integral do inquérito que tramita em segredo de Justiça. Mas, antes que a documentação chegasse ao Congresso, a íntegra do inquérito foi publicada pelo site Brasil 247.

De acordo com informações do jornal O Globo, o STF decidiu que vai acionar a Polícia Federal e o Ministério Público Federal para descobrir como ocorreu o vazamento. Ao liberar o documento, Lewandowski ressaltou a necessidade de se manter os sigilos das informações, porém, integrantes da CPMI afirmaram que não poderiam assumir essa responsabilidade, já que mais de uma centena de parlamentares poderá ter acesso aos dados.

Os arquivos serão entregues ao presidente da CPMI, o senador Vital do Rego (PMDB-PB), que não estava ontem em Brasília. Integrante da comissão, o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) afirma que ser responsável pelo sigilo não significa não divulgá-lo de nenhuma maneira, mas tratá-lo na forma da lei. Segundo ele, a lei sobre sigilo diz que o segredo se impõe no interesse da investigação pública e na preservação da intimidade, mas não pode servir para proteger o crime e o criminoso.

Carlinhos Cachoeira

Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina.

O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão. Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO).

Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais. Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo.

Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes. Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.

O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir ouros políticos, agentes públicos e empresas.

Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria.

O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.