Gravação da Polícia Federal a que o Midiamax teve acesso revela que Edmilson Rosa desdenhava punição porque era amigo de poderosos

O homem que está se responsabilizando pela execução da Operação Vintém, por ter colocado santinhos de propaganda política no carro do coordenador de campanha do então deputado Semy Ferraz, já foi chamado de “menino” por Giroto, e de “puxa-saco de Puccinelli”, por outro parlamentar.

O problema é que, segundo a Policia Federal e a Procuradoria Geral da República, as versões trombam com os fatos. Do “menino” Edmilson Rosa, conhecido por Rosinha, a Polícia Federal apurou que ele tinha sala, mesa e telefone na secretaria municipal de Obras, comandada por Giroto.

Apurou também que ele, mesmo sem ser funcionário público, participava de reuniões da secretaria, e em visitas às obras sob as ordens de Giroto. “Ir no aterro sanitário com: Cabral (atual secretário estadual de Obras) + Arlindo + Rosinha + Valdinei/Henge” era uma das suas tarefas, de acordo com dados do computador de Giroto, apreendido na Operação Vintém.

Além disso, as gravações dos diálogos realizadas pela Polícia Federal, e que ainda estão desaparecidas do processo que corre no STF, revelam uma trama na qual o nome de Giroto é citado algumas vezes. E há a sua própria voz nos áudios.

Depois de conhecer a transcrição destas conversas, o Procurador- Geral da república, Roberto Gurgel, não hesitou em indicar Giroto como o mentor da trama, por ter fornecido à Rosinha uma lista com eleitores de Semy, a mesma que foi encontrada pela PF no carro de Benoal, junto com cédulas de R$20, grampeadas em santinhos de campanha.

Por causa disso, e dos diálogos captados durante a falsa denúncia, o Ministério Público Federal não só responsabilizou Giroto como afirma que a trama teve a anuência do governador Puccinelli.

A reportagem do Midiamax teve acesso às gravações da Operação Vintém, contidas em “grampos” de centenas de telefonemas de Edmilson Rosa, Mirched Jafar, dono da gráfica Alvorada e André Puccinelli Jr.” As gravações foram obtidas na Justiça Federal pela vítima da trama, Semy Ferraz.

Mas nos DVDs e CDs que Semy recebeu da Justiça Federal não havia conversas e depoimentos de Giroto, nem os principais trechos do flagrante do crime de Denunciação Caluniosa que todos respondem. No entanto, no processo, constam as transcrições oficiais da Operação Vintém.

Veja a narrativa da Polícia Federal:

“29:09 – 18-16 – Nesta ligação, André Puccinelli Junior está em um apartamento, junto com outras pessoas que demonstram muita ansiedade, inclusive André Puccinelli (…) e pede para Junior ir até lá, para resolverem algo sobre a lista do Giroto:

André Jr: Pois é. O …Giroto…o Giroto tinha uma lista que passou pra ele, que tinha que chegar ao seu conhecimento”.

Mais tarde:

“29/09 – 18:40 – Junior liga para Rosinha e pergunta sobre a lista que Giroto teria passado. Rosinha informa que está fazendo o “serviço”, mas tem uma cópia na Secretaria.

 Rosinha – “Fala Mirched!”
Junior: O Giroto te passou uma lista? Tá com você uma lista do Semy?”
Rosinha: “Tá”.
Junior: E por que você não passou pra mim ainda?”
Rosinha: Porque não era para passar p’rocê! Eu tô fazendo um serviço com ela!

Mais tarde, quando Rosinha avisa Mirched que colocou a lista no carro de Benoal, diz a PF:

“Nessa mesma ligação, Edmilson Rosa confirmou que arrombou o carro de Benoal e inseriu as provas forjadas no veículo:

Rosinha: “Só que a lista que ele me deu eu pus dentro do caro do cara. Junto com o dinheiro e os santinhos grampeados! Cabamo de por. Ele tá dentro, na frente do jornal! Entendeu como?”

Ciente da ação de Edmilson, Miched Jafar Junior informou que o fragrante da ação policial iria acontecer dentro de pouco tempo:

Junior: “Bom, cê …se isso vai acontecer, tem que acontecer em…em…meia hora!”
Rosinha “Não! Já tá lá dentro. Cê pode mandar buscar! É isso que eu tô explicando!”, descreve a PF.

Após a inserção clandestina da lista e dos “santinhos” grampeados com dinheiro, Edson Giroto acionou a Polícia Federal”, narra o inquérito que está na APn 605.

Nesse meio tempo, segundo o inquérito, Mirched manda Giroto parar a operação, porque um grampo de outra equipe da Policia Federal, que investigava uma entrada de dólares na Gráfica Alvorada, havia flagrados os diálogos todos.

Diz a PF:

“ Após a inserção clandestina da lista e dos “santinhos” grampeados com dinheiro, Edson Giroto acionou a Policia Federal ocultando a sua identidade, para que Benoal fosse interceptado em seu veículo:

29/09 – 18:55 – Junior informa, de maneira clara, que foi Giroto quem acionou a Policia Federal:
André Jr: Alô!
Junior: Liga pro Giroto, manda ele parar a PF, que ele mandou a PF atrás do cara.”

E segue a PF:

“No dia seguinte à abordagem de Benoal Prado, Edson Giroto e Mirched Jafar comemoram o feito:

Junior: “O que aconteceu ontem? Deu certo?”
Giroto: “Ahhh! Diz que caiu tudo!”
Junior: “é certeza isso!?”
Giroto: “Ué! Levaram! Prendeu! O ca..o cara lá me falou”
Junior: “humm. Então tá! Foi jubiloso o negócio lá!?
Giroto: “Nossa vin…vingança será malígna”

Agora que o processo da APn 605 está em fase final, a bomba pode estourar no colo de Rosinha.

No entanto, assim que saiu da prisão em janeiro de  2007, depois de preso na Operação Vintém, dizia apenas que tinha costas quentes, às gargalhadas, num diálogo com dois desconhecidos, a que a reportagem teve acesso.

Veja:

Mulher  – “Mas agora parece que você vai responder um processo em liberdade?”
Rosinha – “ Não só eu, vai responder o filho do governador, o Jr. da gráfica..( gargalhada)”. 
Mulher – “E aquela história das notas de R$ 20 junto com as cédulas, quem fez isso, pelo amor de Deus?
Rosinha – “ Aquilo lá não tem nada a ver conosco não, aquilo lá tá tranquilo, mas eles estavam atrás daquilo lá”.
Homem – “Tem certeza que vc tá bem?”
Rosinha – “Que, tô com o filho do governador”.
Em outra gravação, a mulher de rosinha comenta:
Mulher de Rosinha – “ O André falou assim pra ele, hoje, “tem que sair de qualquer jeito, entendeu, tanto o André como o Osmar, né, tem que se virar e tirar, entendeu?
Todo esse caso também repercutiu no Congresso Nacional, em dezembro de 2010, durante reunião da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal.

Confira o vídeo: