Há 40 anos, E. Fittipaldi fazia história e conquistava 1º título na F1

O automobilismo brasileiro escreveu uma das mais importantes páginas de sua história em um 10 de setembro. Em 1972, há exatos 40 anos, o Brasil conquistou seu primeiro título mundial da Fórmula 1. O responsável: Emerson Fittipaldi, então um jovem piloto da Lotus, disputando sua terceira temporada na categoria, com 25 anos. A conquista veio […]

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O automobilismo brasileiro escreveu uma das mais importantes páginas de sua história em um 10 de setembro. Em 1972, há exatos 40 anos, o Brasil conquistou seu primeiro título mundial da Fórmula 1. O responsável: Emerson Fittipaldi, então um jovem piloto da Lotus, disputando sua terceira temporada na categoria, com 25 anos.

A conquista veio no Grande Prêmio da Itália de 1972, no Circuito de Monza, décima etapa das 13 que formavam o calendário na ocasião. Principal favorito ao longo do ano, Emerson conquistou quatro vitórias (Espanha, Bélgica, Inglaterra e Áustria) nas nove provas anteriores, além de dois segundos lugares (África do Sul e França) e um terceiro (Mônaco). Seu principal rival era o escocês Jackie Stewart.

No entanto, os desempenhos do brasileiro e do britânico – então piloto da Tyrrell – eram muito distintos. Se Emerson tinha 52 pontos nos nove primeiros GPs, o então campeão Stewart somava apenas 27, com duas vitórias (Argentina e França) e um segundo lugar (Inglaterra). Se não acontecesse na Itália, Emerson fatalmente conquistaria o primeiro título de Fórmula 1 da história do Brasil nas provas seguintes que encerrariam o ano, Canadá ou Estados Unidos.

Mas a confirmação na Itália não seria tão simples quanto se imaginava. No caminho para o circuito italiano, a Lotus derrubou o carro de Emerson Fittipaldi e danificou seriamente o monoposto. Assim, o brasileiro correu com um modelo 72D improvisado e deixou seu companheiro, o australiano David Walker, de fora da prova.

“Eu estava me sentindo muito pressionado, a decisão do Mundial estava muito próxima. Naquele fim de semana, o caminhão da Lotus que estava transportando meu carro capotou em uma estrada próxima a Milão e eu perdi meu carro principal. A equipe trouxe meu carro de testes da Inglaterra rapidamente e trabalhou a noite toda de quinta para sexta para arrumá-lo”, contou Emerson em sua conta no Twitter. “A sexta-feira foi muito tensa, o carro não estava bom, mas o gênio Colin Chapman (o proprietário da Lotus) melhorou o carro para sábado. Foi difícil dormir na véspera do treino de classificação, em um fim de semana de decisão de título, mas Colin era ótimo”, completou.

No sábado, a pole position ficou com o belga Jacky Ickx (Ferrari), que havia conquistado um hat-trick (pole, vitória e volta mais rápida) no GP da Alemanha um mês antes. Emerson ficou com o sexto lugar, precisando apenas de um quarto lugar na corrida (três pontos) para assegurar matematicamente o título. Ainda assim, o brasileiro estava ansioso.

“Acordei 6h30,senti borboleta no estômago. Estava só a sete horas da largada do GP. Dormi muito bem, mas a expectativa e a ansiedade queriam tomar conta de mim”, disse. “Não comi muito no café da manhã, pois nessa época sempre havia risco de ter um acidente, e se precisasse de cirurgia, não poderia estar com o estômago cheio”, completou.

No dia 10 de setembro de 1972, Emerson Fittipaldi tinha outro motivo para estar ansioso: no mesmo GP da Itália, mas em 5 de setembro de 1970, o austríaco Jochen Rindt morreu em acidente durante o treino de classificação e se tornou o primeiro – e único – campeão póstumo da história da F1. Emerson, então novato, era um de seus companheiros de equipe na ocasião, e não disputou a prova.

“Em Monza 1970, perdi um grande amigo e campeão, Jochen Rindt. Antes de ir para a pista, tinha que apagar essa memória de 1970, pois poderia me atrapalhar. Resolvi sair do hotel determinado a usar três armas fortes que eu tinha: meu sangue italiano, meu sangue russo (por parte da mãe, Józefa Wojciechowska) e o meu sangue brasileiro”, publicou Emerson, dizendo ter ido para o circuito “com a faca na boca”.

“Estava determinado não só a tentar ganhar o campeonato, mas queria também vencer o GP da Itália.Cheguei no box da Lotus com muita fé em Deus. Cumprimentei o Colin Chapman e o Peter Warr (chefe de equipe da Lotus) com muito otimismo e entusiasmo. Senti alguns mecânicos me cumprimentarem com um sorriso amarelo, muita tensão. Saí para o warm up, tinha que amaciar discos e pastilhas de freio novos. Dei três, quatro voltas e comecei a acelerar. Colin e a equipe melhoraram o carro para a corrida”, disse.

No entanto, os acertos de última hora no carro de Emerson não deram tão certo. “Estava muito confiante, tudo perfeito, carro rápido”, publicou ele, lembrando que o carro saía de frente com o tanque cheio. “Voltando para o box, senti um frio nas minhas costas.Grande problema: o tanque de gasolina estava vazando – pânico. Não daria tempo para consertar antes do GP. Fui para o motorhome, e o cheque dos mecânicos, Eddie Dennys, disse: ‘vou tentar trocar e por um tanque novo. Vamos fazer de tudo para você estar no grid’.”

Horas antes da largada, Emerson foi para o motorhome da Lotus para (tentar) se desligar do mundo, apenas esperando o carro ficar pronto. “Continuei com o máximo de adrenalina. Todos os sentidos do meu corpo a 110%. Pronto fisicamente, mentalmente e espiritualmente”, disse. “Faltavam alguns minutos para fechar a saída do box quando Eddie me chamou e disse: ‘o seu carro está pronto’. Sentei rápido no meu carro Lotus 72: tudo sob medida para o meu corpo, estava perfeito”, completou.

Do sexto lugar do grid de largada, Emerson sabia da pressão de milhões de brasileiros que o assistiam. “Toda essa torcida – não só de brasileiros, mas de fãs meus – naquele momento tão critico me davam força e confiança. Alinhei no grid; a partir dali, não queria falar com ninguém, só me concentrar na minha missão de vencer neste dia. Sabia que, nas três primeiras voltas, saindo de sexto no grid, tinha que tomar muito cuidado para não arriscar meu titulo e o GP da Itália nas primeiras curvas”, postou.

A largada da prova, porém, foi melhor do que Emerson esperava. Nos primeiros 5,775 km do circuito, o brasileiro levou sua Lotus ao terceiro lugar, enquanto Jacky Ickx se mantinha em primeiro. “Quando completei a primeira volta, a equipe me sinalizou: Stewart fora. Pensei: ‘que bom’. Mas não me conformei em só terminar a corrida para garantir o campeonato; queria vencer o GP da Itália”, disse.

Emerson assumiu a segunda colocação na 16ª volta, e se manteve atrás de Ickx até a volta 45. Foi aí que a sorte jogou a favor do brasileiro: com uma falha elétrica, o belga da Ferrari – dominando até então – recolheu para os boxes na volta 46, colocando a liderança no colo de Fittipaldi.

“Sabia que, da metade do GP para frente, ia estar muito rápido, o carro estava ajustado para as últimas 20 voltas. E foi o que aconteceu: estava chegando no líder Ickx, com Ferrari. Ia ser difícil passar, mas eu estava pronto para esse novo desafio. Já estava bem perto da Ferrari, e ele teve uma falha mecânica e entrou no box. A partir daí, tinha que administrar a vitória”, contou.

Da volta 46 até a volta 55, foram pouco mais de 15 minutos, mas que levaram uma eternidade na mente do brasileiro. “As últimas 10 voltas desse GP foram as 10 voltas mais longas da minha vida. No meu subconsciente, vieram muitas perguntas durante essas 10 voltas: o motor está roncando bem? O câmbio engata as marchas da maneira correta? O carro não está vibrando? O freio está bom? Adrenalina no limite do limite. Quando faltavam três voltas, uma mistura de emoções: era muita emoção para um só ser humano. Eu pedia para o meu sangue russo controlar o meu sangue brasileiro, que estava querendo explodir: ‘Emerson, fique frio, menos de três voltas’”, publicou Emerson, indo além.

“Entrei para a última volta, o título e a vitória estavam bem perto. Levava o carro com toda delicadeza e leveza para não ter nenhum problema de câmbio, freio ou motor. Entrando na Parabolica, última curva, faltavam alguns metros e pensei: se quebrar o motor, o câmbio, consigo com o embalo atravessar a linha de chegada em neutro”, confessou.

Não precisou. Em 1h29min58s, Emerson Fittipaldi cruzou a linha de chegada em primeiro lugar, deixando Mike Hailwood (Surtees) em segundo e Denny Hulme (McLaren) em terceiro. Entrando na pista, Colin Chapman atirava seu boné para cima. Sem rádio, Emerson gritava e chorava dentro do carro. “Quando voltei ao box, o público italiano começou a invadir a pista”, contou o brasileiro, recebido pela família para a comemoração da marca. Na ocasião, tinha 25 anos e 273 dias de idade.

Com o topo do pódio, Emerson chegou a 61 pontos, contra 31 de Denny Hulme e 27 de Jackie Stewart. Mesmo sem pontuar nas provas seguintes, terminou o ano à frente de Stewart (45) e Hulme (39). Além de conquistar o Mundial de Fórmula 1, o que repetiria dois anos depois com a McLaren, ainda se tornou o mais jovem campeão mundial da categoria – recorde que só seria derrubado por Fernando Alonso em 2005, quando foi campeão mundial com 24 anos e 58 dias.

Confira o resultado final do GP da Itália de 1972:

1. Emerson Fittipaldi (BRA/Lotus Ford): 1h29min58s4

2. Mike Hailwood (GBR/Surtees Ford): +14s5

3. Denny Hulme (NZL/McLaren Ford): +23s8

4. Peter Revson (EUA/McLaren Ford): +35s7

5. Graham Hill (GBR/Brabham Ford): +1min05s6

6. Peter Gethin (GBR/BRM): +1min21s9

7. Mario Andretti (EUA/Ferrari): +1 volta

8. Jean-Pierre Beltoise (FRA/BRM): +1 volta

9. Ronnie Peterson (SUE/March Ford): +1 volta

10. Mike Beuttler (GBR/March Ford): +1 volta

11. Howden Ganley (NZL/BRM): +3 voltas

12. Reine Wisell (SUE/BRM): +4 voltas

13. Niki Lauda (AUT/March Ford): +5 voltas

Não completaram:

Jacky Ickx (BEL/Ferrari)

Chris Amon (NZL/Matra)

Andrea de Adamich (ITA/Surtees Ford)

Wilson Fittipaldi (BRA/Brabham Ford)

John Surtees (GBR/Surtees Ford)

Tim Schenken (AUS/Surtees Ford)

Clay Regazzoni (SUI/Ferrari)

José Carlos Pace (BRA/March Ford)

Carlos Reutemann (ARG/Brabham Ford)

Francois Cevert (FRA/Tyrrell Ford)

Nanni Galli (ITA/Tecno)

Jackie Stewart (GBR/Tyrrell Ford)

Não se classificaram:

Henri Pescarolo (FRA/March Ford)

Derek Bell (GBR/Tecno)

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