Em meio a polêmica venda de casa, Perillo fala hoje à CPI
Citado nas investigações das operações Vegas e Monte Carlo, da Polícia Federal – que apuram a existência de um esquema de corrupção liderado pelo bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira -, o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), prestará depoimento na manhã desta terça-feira à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira. Ao […]
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Citado nas investigações das operações Vegas e Monte Carlo, da Polícia Federal – que apuram a existência de um esquema de corrupção liderado pelo bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira -, o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), prestará depoimento na manhã desta terça-feira à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira.
Ao contrário da maior parte das pessoas convocadas pela CPI, Perillo parece disposto a falar, tendo se colocado à disposição dos parlamentares para prestar esclarecimentos mesmo antes da comissão aprovar a sua convocação. Na oitiva prevista para ocorrer às 10h15, no Senado, os questionamentos a Perillo devem se concentrar na sua relação com o bicheiro, principalmente a respeito da venda de uma casa de sua propriedade, avaliada em R$ 1,4 milhão, que serviu de residência a Cachoeira até a sua prisão.
O pagamento foi feito pelo empresário Walter Paulo Santiago, suspeito de atuar como “laranja” de Cachoeira, em negociação intermediada pelo ex-vereador de Goiânia Wladimir Garcez e por Lúcio Fiúza Gouthier, então assessor especial de Perillo. O governador alega que recebeu três cheques pela casa – dois de R$ 500 mil e um de R$ 400 mil -, que somam R$ 1,4 milhão. Os cheques foram emitidos pela empresa Excitant Confecções Ltda. – que pertenceria a uma cunhada de Cachoeira -, nos meses de março, abril e maio de 2011. A empresa, por sua vez, teria recebido dinheiro da Alberto Pantoja, uma firma fantasma supostamente criada pelo esquema Cachoeira para angariar recursos da empreiteira Delta.
Entretanto, em depoimento à CPI, Santiago afirmou ser o verdadeiro comprador da mansão e negou ter usado cheques na negociação, garantindo ter pagado R$ 1,4 milhão em cédulas de R$ 50 e R$ 100, entregues em “pacotinhos” para Garcez e Fiúza. Um dia depois da fala do empresário na CPI, Fiúza foi exonerado do cargo.
Santiago atuou no negócio em nome da empresa Maestra, da qual ele se apresentou como administrador. Mesmo sendo adquirida pela empresa, o verdadeiro morador da residência era Cachoeira, que teria arcado inclusive com o pagamento das dívidas de impostos do imóvel.
Para o vice-presidente da CPI do Cachoeira, deputado Paulo Teixeira (PT-SP), o depoimento de Santiago deixou a impressão de existir uma “relação muito próxima” entre o bicheiro e o governador. De acordo com Teixeira, caberá a Perillo explicar na CPI as inconsistências entre a sua versão e a de Santiago. “Parece que temos dois pagamentos pela mesma casa. Isso o governador terá que explicar”, afirmou.
Ex-chefe de gabinete
Além da compra da residência, pesa contra Perillo a denúncia de que Eliane Gonçalves Pinheiro, ex-chefe de seu gabinete, mantinha contatos frequentes com Carlinhos Cachoeira. Conversas telefônicas gravadas pela Polícia Federal indicam que Eliane recebeu informações sobre investigações da PF que envolviam políticos ligados a Cachoeira, e teria avisado o prefeito do município goiano de Águas Lindas, Geraldo Messias, de que a polícia faria uma busca na casa dele.
Pagamento a jornalista
Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, o jornalista Luiz Carlos Bordoni, que foi coordenador da propaganda eleitoral de Perillo no rádio em 2010, afirmou ter recebido R$ 45 mil da empresa Alberto Pantoja, ligada a Cachoeira. Segundo Bordoni, o depósito foi comandado por Lúcio Fiúza Gouthier, ex-assessor de Perillo. Em nota oficial, o governo de Goiás negou as denúncias. “As afirmações do senhor Luiz Carlos Bordoni em relação à campanha do governador Marconi Perillo são mentirosas e irresponsáveis”, dizia o texto.
Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.
Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.
Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.
O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas.
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