Dilma critica ‘políticas expansionistas’ de países ricos
Discursando ao lado dos presidentes da Colômbia, Juan Manuel Santos, e dos Estados Unidos, Barack Obama, durante um evento empresarial da Cúpula das Américas, Dilma Rousseff voltou a criticar as estratégias dos países ricos para enfrentar a crise econômica mundial. Segundo a presidente brasileira, as “políticas expansionistas” adotadas pela Europa e pelos Estados Unidos, com […]
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Discursando ao lado dos presidentes da Colômbia, Juan Manuel Santos, e dos Estados Unidos, Barack Obama, durante um evento empresarial da Cúpula das Américas, Dilma Rousseff voltou a criticar as estratégias dos países ricos para enfrentar a crise econômica mundial.
Segundo a presidente brasileira, as “políticas expansionistas” adotadas pela Europa e pelos Estados Unidos, com impressão de moeda e sucessivos empréstimos para estimular o crédito, prejudicam os países emergentes.
Isso porque, de acordo com Dilma, parte do dinheiro injetado nas economias destes países acaba nos emergentes, onde os juros elevados atraem investimentos de curto prazo, provocando como efeito colateral a valorização das moedas locais.
A valorização das moedas, por sua vez, prejudica a indústria local, ao tornar os produtos do país mais caros no mercado internacional e o baratear as importações. “É obvio que temos de tomar medidas para nos defender”, disse a presidente.
No entanto, ela afirmou que o governo brasileiro não está assumindo uma postura protecionista.
“Defender é diferente de proteger. A defesa significa que nós vamos ter de perceber que não podemos deixar que nossos setores manufatureiros sejam canibalizados. E achamos que seria muito virtuoso por parte dos países superavitários se eles pudessem usar, além de políticas monetárias, políticas de expansão do investimento.”
”Embraer”
Momentos antes, Dilma alfinetou o presidente americano sobre um impasse envolvendo a compra de aviões brasileiros pelo governo americano.
Durante o evento, Obama foi questionado pelo mediador, o jornalista americano Chris Matthews, se as ambições do Brasil não se contrapunham aos interesses dos Estados Unidos.
Ele respondeu que não, pois o desenvolvimento da economia brasileira criaria oportunidades para que empresas americanas vendessem seus produtos, como “iPads e Boeings”.
Ao mencionar a marca americana de aviões, Obama foi interrompido por Dilma, que citou a companhia brasileira Embraer.
Obama, então, respondeu: “só queria ver como ela reagiria a essa”, provocando risos na plateia.
Recentemente, a Embraer teve cancelada uma licitação que venceu para a venda de 20 aviões Super Tucano ao governo dos Estados Unidos, ao custo de US$ 355 milhões (R$ 651 milhões).
Embora as autoridades tenham alegado falhas na licitação, muitos observadores acreditam que fatores políticos – sobretudo em relação à criação de empregos – influenciaram a decisão. A Embraer aguarda agora por uma nova licitação.
A Boeing, por sua vez, disputa uma concorrência com a francesa Dassault e a sueca Saab para a venda de caças para a Força Aérea brasileira. O valor do negócio é estimado em cerca de US$ 6 bilhões.
Durante seu discurso, no entanto, Dilma elogiou a economia americana.
“Temos que reconhecer a importância da economia dos Estados Unidos, que possui importantes características neste mundo multipolar que está surgindo: uma imensa flexibilidade, uma enorme liderança em ciência, tecnologia e inovação, e suas raízes democráticas”, disse.
Em seguida, ela ressaltou que as alianças entre a América Latina e os Estados Unidos devem ocorrer em “pé de igualdade”.
Intercâmbio
Em seu discurso, Obama também citou iniciativas entre Estados Unidos e Brasil para promover o intercâmbio de estudantes e elogiou a expertise brasileira em biocombustíveis.
“O Brasil tem o poder de exportar essa energia mas também de ensinar as melhores práticas (sobre biocombustíveis e energia hidrelétrica) para outros países da região, criando novos mercados para energias limpas.”
O americano enalteceu o desempenho dos últimos governos brasileiros e colombianos. “Quando se vê o crescimento extraordinário que ocorreu no Brasil, primeiro com o presidente Lula e agora com a presidente Rousseff, quando se pensa no enorme progresso que foi feito aqui na Colômbia com o presidente Santos e seu antecessor, o que se vê é que muitos dos velhos argumentos da esquerda e da direita não se aplicam mais”, afirmou.
Numa provável referência a Cuba, disse que grande parte do êxito recente de Brasil e Colômbia se deve aos valores democráticos em voga nos dois países.
“Não é possível, creio eu, ter no longo prazo economias bem-sucedidas se você não seguir princípios básicos, como democracia e respeito à lei, observância dos direitos humanos, liberdade de expressão. E também creio que segurança pessoal – a capacidade das pessoas de sentir que, se trabalharem duro, terão êxito.”
Apesar de apelos de países latino-americanos para que Cuba participasse da Cúpula das Américas pela primeira vez, o país caribenho segue fora do encontro, por influência dos Estados Unidos.
Os organizadores colombianos temiam que, caso o líder cubano, Raul Castro, comparecesse ao evento, Obama o boicotasse, esvaziando a importância da reunião.
No entanto, muitos países latino-americanos, inclusive a Colômbia, têm defendido nos últimos dias que esta seja a última Cúpula sem Cuba. O presidente do Equador, Rafael Corrêa, boicotou o evento devido à ausência do país caribenho.
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