São seis pessoas morando debaixo do mesmo teto, onde não cabe nem o sofá, que teve que ficar para fora de casa. No quintal, outra família encontrou espaço para montar um barraco. Apesar do aperto, todos garantem que moram juntos porque são felizes assim.

Apesar do aperto dos 38 metros quadrados, Verônica Herrera, de 53 anos, garante que é feliz dividindo a casa com o marido, a filha e três netas no bairro Dom Antônio Barbosa.

De acordo com os dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), através da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), a situação da família Herrera é cada vez mais rara no Brasil.

A pesquisa revela que 95,6% dos domicílios são ocupados por apenas um núcleo familiar, enquanto 4,4% deles tem mais de uma família sob o mesmo teto. Situação bem diferente da do bairro Dom Antônio Barbosa.

Com famílias que vivem da reciclagem do lixão próximo, as casas entregues pela Emha (Agência Municipal de Habitação) não foram suficientes para abrigar a todos que trabalham na região.

Verônica conta que a filha ainda mora com ela porque não tem dinheiro para comprar tijolo. As netas, de 13, 9 e 2 anos, passam o dia com ela, enquanto a filha de 30 anos trabalha o dia todo em um frigorífico próximo e o marido é auxiliar de pedreiro.

“Eu gosto de ter minha filha por perto, mas ela quer o canto dela”, pondera. A neta de 13 anos não concorda. “A gente gosta de morar aqui”. E é exatamente este o argumento usado pela maioria dos entrevistados na pesquisa do IBGE. 

Em 41,2% dos domicílios com famílias conviventes, o motivo alegado para viver no mesmo domicílio foi a “vontade própria”. Apesar da motivação financeira preponderar como motivo para essa convivência, em alguns estados, como Acre (56,6%), Tocantins (51,9%), Santa Catarina (45,9%) e Mato Grosso (60,2%), o motivo é maior que o fator financeiro.

Na casa pequena com dois quartos pequenos, um banheiro e um cômodo que se divide entre sala e cozinha, o aperto é grande. “Um quarto fica para as netas e o outro para gente. Quando está muito calor, a gente coloca colchão na sala”.

Mas para caber a televisão da família, o sofá precisou ficar do lado de fora da casa e está todo estragado pela chuva. Mas sempre cabe mais um. Além do espaço delimitado, Verônica cedeu o pequeno quintal para outra família construir um barraco.

“A gente fica com pena, né? O rapaz aí sofreu acidente e se quebrou todo, teve que parar de trabalhar e não tinha como pagar aluguel. Ele se recupera no barraco aqui atrás com a mulher e mais três filhas”, conta.

Apesar das dificuldades, Verônica torce para que a filha conquiste a casa própria. “Não para ela não morar mais comigo, mas para ela ter o lugarzinho dela”.