No início da campanha para as eleições presidenciais de outubro e há dez anos de seu retorno ao poder – depois de um golpe de Estado fracassado que durou 47 horas – o presidente da Venezuela Hugo Chávez anunciou a criação de um “comando anti-golpe” para defender sua suposta reeleição.

Diante de uma multidão que comemorava o contra-golpe na sede do governo em Caracas, Chávez pediu que a população e o Exército saiam às ruas para defender o resultado das urnas. Ele também acusou a oposição de não querer tornar público se reconhecerá ou não o resultado eleitoral, caso o candidato Henrique Capriles Radonski seja derrotado. “Se perdêssemos as eleições de 7 de outubro eu reconheceria”, afirmou.

“Se a burguesia não reconhecer os resultados do povo, todo mundo à rua. Não só povo na rua, povo e soldados às ruas”, acrescentou. “Por isso digo à oposição e ao governo dos Estados Unidos que não se equivoquem de novo, porque a força que um dia demonstramos hoje está elevada à enésima potência, o povo e seus soldados”, acrescentou.

De acordo com presidente, o plano “anti-golpe” deverá abordar desde o setor de segurança à economia do país. Na última semana, Chávez encarregou o vice-presidente Elias Jaua de pressionar os banqueiros venezuelanos para que não financiassem “planos de violência” da oposição, sob ameaça de terem seus bancos nacionalizados.

“Não nos deixaremos surpreender novamente”, disse. Em entrevista à BBC Brasil, o general Jorge Luis Garcia Carneiro – considerado pelo chavismo como um dos protagonistas do contra-golpe que restituiu Chávez no poder – disse que um novo golpe de Estado no país era “impossível”.

Oficiais ‘chavistas’

Durante as comemorações, Chávez falou à multidão sobre a atuação de seu adversário nas próximas eleições e da coalizão de oposição durante o golpe, que em três dias deixou um saldo oficial de 19 mortos.

À época, Henrique Capriles Radonski, que era prefeito do município de Baruta, esteve envolvido no chamado “assédio” à embaixada de Cuba, liderado por manifestantes anti-chavistas que ameaçavam invadir a sede diplomática para comprovar se funcionários do gabinete de Chávez estariam ali escondidos.

Em discurso, Capriles comparou a oposição da época do golpe com o Chávez de hoje, ao afirmar que ambos estavam “sem rumo”. O candidato presidencial utilizou a rima “todo 11 tem seu 13” – utilizada pelos chavistas para afirmar que todo golpe tem um contragolpe – substituindo-a por “todo 13 tem seu 7 de outubro”, em referência a uma possível vitória sua nas eleições.

Chávez respondeu dizendo que a frase de Radonski “avaliza” o golpe de Estado. “Está aplaudindo o 11 (de abril), o golpe do qual ele participou e não tem coragem de admitir que participou”, disse. A aliança opositora da Venezuela tem questionado o papel das Forças Armadas e se elas reconheceriam uma derrota do presidente venezuelano em outubro.

As críticas ganharam força quando o ministro de Defesa Rangel Silva afirmou que seus oficiais “agora são chavistas”. O golpe de Estado de abril de 2002 é visto como um divisor de águas que fortaleceu o governo Chávez e determinou a radicalização do projeto bolivariano na Venezuela.

Analistas consideram, no entanto, que o principal desafio de Chávez esse ano será vencer a batalha contra o câncer a seis meses do pleito. O presidente deve viajar à Havana neste sábado para um novo ciclo de radioterapia, tratamento que dessa vez se estenderá por uma semana. “Prometo que viverei e venceremos”, afirmou Chávez, que na semana passada suplicou por um “milagre” para derrotar a doença