Assim como na maioria dos estados brasileiros, carga tributária, burocracia, falta de infraestrutura e mão de obra, além da corrupção, afugentam o capital em Mato Grosso do Sul, diz relatório de revista inglesa.

Com regime tributário complexo, falta de inovação, infraestrutura deficiente e pouca mão de obra qualificada, Mato Grosso do Sul é o nono colocado no Ranking de Gestão dos Estados Brasileiros. O estudo, realizado pela primeira vez em 2011 pela Unidade de Inteligência da revista inglesa The Economist, e divulgado nesta semana, revela que MS está abaixo da média nacional em metade dos quesitos analisados.

Para construir o ranking, os pesquisadores conferiram 25 indicadores em oito categorias, mas deixaram de analisar o trabalho dos governantes. “A meta principal é fortalecer as instituições e evitar o personalismo. Por isso, não foi analisado o desempenho dos governantes, mas das políticas públicas implementadas ao longo dos últimos anos”, explicou Luiz Felipe d’Ávila, diretor-presidente do Centro de Liderança Pública, que patrocinou a pesquisa.

O estudo analisa os cenários estaduais do ponto de vista dos investidores estrangeiros, e mostra quais estados são mais atraentes para o capital.

De modo geral, o período de recuperação econômica que o Brasil vivenciou marcou os resultados. No entanto, problemas conhecidos pela população brasileira ainda separam as unidades da federação em duas classes.

Apenas São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Distrito Federal e Santa Catarina foram considerados como ‘um bom ambiente de negócios para quem quer investir no setor produtivo do país’ pela The Economist.

Mato Grosso do Sul ficou na segunda classe.

Assim como na maioria dos estados brasileiros, problemas como a carga tributária elevada, a burocracia, graves deficiências de infraestrutura e mão de obra, além da corrupção, ainda afugentam o capital em MS, criado em 1977 com a promessa de ser ‘o celeiro do Brasil’.

No ranking geral, o ambiente operacional de negócios de sul-mato-grossense ficou com a média de 45,3 pontos. A escala vai de zero a 100. Apesar de estar acima da média nacional, que ficou em 41,3, puxada para baixo principalmente pelos estados do norte e nordeste, Mato Grosso do Sul está minimamente abaixo da média na região Centro-Oeste, que foi de 45,8.

Falta de oposição e boa nota no ‘ambiente político’

No quesito ‘Ambiente político’, MS foi o quarto colocado, com nota 66,7. A média nacional foi de 49,7 e reflete, segundo o estudo, a ‘razoável estabilidade’ vivenciada na maioria dos estados brasileiros. O relatório final da The Economist ressalta que “os consideráveis poderes orçamentários dos governadores contribuem para a estabilidade das legislaturas estaduais”.

A aprovação da Lei Orçamentária de Mato Grosso do Sul para 2012, feita exatamente como André Puccinelli (PMDB) enviou, além dos constantes vetos do Executivo a leis aprovadas pelos deputados, reflete o que bom índice obtido representa de fato.

O Executivo de MS historicamente possui maioria no Legislativo Estadual. Mesmo nos dois mandatos anteriores a Puccinelli, quando Zeca do PT chegou ao poder com matizes oposicionistas, a composição política foi obtida logo no início do governo, esvaziando a oposição no parlamento sul-mato-grossense.

Corrupção também prejudica índices em MS

Enquanto o item ‘estabilidade política’ fez subir a nota de Mato Grosso do Sul no quesito do Ambiente Político, a ‘Corrupção’ e ‘Burocracia’ puxaram para baixo o índice. Nos dois pontos, MS obteve apenas 50,0 pontos. “A burocracia e a corrupção reduzem a capacidade de o governo providenciar programas públicos, o que cria entraves ao desenvolvimento socioeconômico”, explica o relatório internacional.

A The Economist ainda ressalta o papel da imprensa que tem noticiado casos de suspeita ou investigação sobre atos corruptos. “Uma imprensa ativa e auditorias mais desenvolvidas levaram a um alarde de casos de corrupção em vários estados no último ano. O alto número de casos de corrrupção é refletido na baixa pontuação para a maioria dos estados nesta categoria”, diz o documento.

Pouco mercado e renda desigual marcam economia de MS

No quesito ‘Ambiente Econômico’, os dois pontos fracos de Mato Grosso do Sul aos olhos dos investidores internacionais, segundo o relatório, são o tamanho do mercado e a desigualdade de renda. Ambos os itens tiveram nota 25,0, e seguraram a nota da economia local em 50,0, abaixo da média nacional, que foi de 50,3 pontos.

No geral, a economia sul-mato-grossense, apesar de considerada boa, ficou na décima terceira posição, atrás de estados como Mato Grosso, Goiás, Espírito Santo e Paraná.

Regime Tributário com nota zero na consistência

Com relação ao ‘Regime Tributário’, o fisco sul-mato-grossense ficou com o índice ‘moderado’. A nota nesse quesito foi de 37,5 pontos, registrando nota zero em ‘consistência do sistema tributário’. Ainda assim, o resultado não destoou do obtido pela maioria dos estados brasileiros, que ainda se degladiam na guerra fiscal enquanto a reforma tributária não sai.

No final, o regime tributário de Mato Grosso do Sul foi o oitavo colocado, com nota acima da média nacional, que ficou em apenas 24,1 pontos. Mas atrás de estados como Alagoas e Sergipe, que tiveram nota 50,0.

MS: ruim de atração ao capital estrangeiro e de RH

No quesito ‘Políticas para investimentos estrangeiros’, os dados da The Economist colocaram Mato Grosso do Sul em décimo quarto lugar entre as unidades da federação. A nota foi de 58,3 pontos. Novamente, MS ficou abaixo da média nacional, que foi de 60,2 pontos, atrás de estados como Ceará, Pernambuco, Goiás, e Espírito Santo.

Com relação aos ‘Recursos Humanos’, mais uma vez o resultado sul-mato-grossense ficou abaixo da media nacional, que já foi baixa, com 34,9 pontos. Empatado com Mato Grosso, Goiás e Pernambuco, MS registrou nota 33,3. A falta de mão de obra especializada e o baixo índice de trabalhadores graduados em universidades foram os itens que puxaram para baixo o desempenho geral, considerado moderado.

Mesmo com Fundersul, estradas de MS afugentam investimentos

Em relação à ‘Infraestrutura’, Mato Grosso do Sul teve apenas nota 25,0 na escala que vai de 0 a 100,0 pontos. Nos dois itens analisados, qualidade da rede de estradas, e qualidade da rede de telecomunicações, o perfil sul-mato-grossense ficou abaixo do considerado razoável pelos investidores, de acordo com o relatório final da revista inglesa.

Ainda assim, MS está acima da média nacional, que foi de 22,7 pontos pelo fraco desempenho nas regiões Norte e Nordeste. As estradas e comunicações sul-mato-grossenses ficaram em oitavo lugar no ranking nacional, empatadas com Alagoas, Goiás, Minas Gerais, Paraiba e Sergipe.

A situação das estradas em Mato Grosso do Sul, que também recebeu apenas 25,0 pontos de nota, reflete as reclamações dos produtores sul-mato-grossenses, sobretudo do setor agropecuário. Apesar de manterem um fundo estadual milionário para manutenção das estradas estaduais, reclamam que o custo para escoar a produção sobre muito devido às condições precárias e péssima conservação das vias.

Segundo o relatório, o indicador de telecomunicações, no qual MS obteve apenas 25,0 de nota, aborda os níveis de penetração de Internet de alta velocidade (+2Mbps) em particular, “tomando por base que esse fator esta se tornando cada vez mais critico para a realização de negócios”.

Dois zeros em inovação, mas sustentável

Com nota de 20,0 pontos, no quesito ‘Inovação’ Mato Grosso do Sul também ficou abaixo da média nacional, que teve pontuação de 29,6. Nessa categoria, MS registrou duas notas zero, em ‘Gastos Privados com Pesquisa & Desenvolvimento’, e em ‘Pedidos de patentes’. Terminou na avaliação internacional empatado com Mato Grosso, Sergipe, Pernambuco, Goiás e Espírito Santo.

Já no quesito ‘Sustentabilidade’, com nota final de 66,7 pontos, Mato Grosso do Sul ficou acima da media nacional, que foi de 59,4, ocupando o décimo primeiro lugar no ranking nacional. Mesmo com o bom índice e com nota máxima em ‘Plano/Estratégia Ambiental do Estado’, MS teve o pior resultado entre os estados do Centro-Oeste, empatado com Goiás e atrás de Mato Grosso e do Distrito Federal.

Os resultados foram divulgados no Brasil primeiramente pela Revista Veja, que disponibilizou rica infografia com os resultados e comparativos do Ranking de Gestão dos Estados.