A liminar de despejo foi entregue aos moradores do acampamento Oziel Alves Pereira na última sexta-feira. Eles questionam os motivos da ordem e alegam morar no local há mais de um ano

As cerca de 100 famílias  que estão no acampamento Oziel Alves Pereira, na saída para Sidrolândia, receberam ordem de despejo da empresa América Latina Logística (ALL) na última sexta-feira (25) para deixarem o local. Nesta segunda-feira (28) a juíza da 10ª Vara Civel da Comarca de Campo Grande, Sueli Garcia Saldanha, determinou a extensão do prazo em mais dez dias, a contar de hoje.
Moradores do assentamento reclamam que a empresa ALL alega que o local foi ocupado a cerca de 6 meses, sendo que os moradores estão lá há um ano e três meses. O advogado José Campos, que conseguiu junto à juíza o aumento do prazo, explica que a liminar para o despejo só foi concedida por este motivo. 
Para que os moradores continuassem no local, o  Ouvidor Nacional de Direitos Humanos Domingos Sávio Dresch da Silveira enviou um documento à juíza pedindo que a liminar fosse suspensa porque os moradores não tem para onde ir. Caso não fosse possível, ele pediu como alternativa que o poder público, representado pelo Incra, viabilizasse um local para os assentados. 
O documento chegou somente hoje às mãos da juíza, porque segundo o advogado, estava retido no fax do Fórum de Campo Grande. Ela ainda vai analisar o pedido. 
O diretor estadual do Movimento dos Sem Terra em Mato Grosso do Sul, Tadeu Morais, está no acampamento desde sexta-feira para dar apoio aos moradores. Ele conta que o chefe de segurança da empresa, que fica próxima ao acampamento, já foi até lá ameaçá-los. 
“Colocamos uma guarita para que eles pudessem respeitar os moradores, temos crianças aqui”, explica. Um morador, que não quis se identificar vive no local há nove meses com a esposa e duas filhas. “Tudo o que tenho está aqui. Minhas crianças estudam aqui perto, querem nos despejar no fim de novembro? Para que escola vou transferir as minhas crianças?”, questiona.
Ramão Cabanha mora com a esposa no acampamento e mostra a horta de mandioca e verduras, além do poço que tem no quintal. “O engraçado é que moramos há mais de um ano aqui e ninguém nunca nos procurou ou falou nada. Por que o interesse agora pela área? Nós só queremos um lugar para viver”, conta.
O acampamento fica dos dois lados do trilho do trem e não parece atrapalhar a passagem do mesmo. A empresa não foi encontrada para comentar sobre os motivos de tirar os moradores da área invadida.