Os levantes populares e as crises políticas na Tunísia e no Egito, e a expectativa de que os protestos se disseminem pelo norte da África e pelo Oriente Médio, predominaram neste domingo, em Dacar, no dia de abertura da 11.ª edição do Fórum Social Mundial. Nas palavras de personalidades como o presidente da Bolívia, Evo Morales, a grande estrela do primeiro dia de mobilização, as revoltas árabes são respostas “ao imperialismo americano”.

A segunda edição do FSM realizada em solo africano – a primeira ocorreu em Nairobi, no Quênia, em 2007 – foi inaugurada com uma marcha de mais de três horas de duração, partindo da Grande Mesquita, no centro de Dacar, até o campus da Universidade Cheikh Anta Diop, onde serão realizadas as principais conferências. O evento teria reunido 50 mil pessoas, segundo seus organizadores, e 10 mil, conforme avaliação do Ministério do Interior. Monitorado por um forte aparato policial, a manifestação não teve incidentes.

Entre os participantes esteve o boliviano Evo Morales, que ocupou lugar de destaque, na frente do pelotão, mesmo tendo chegado no final da caminhada. Em discurso, Evo falou sobre desenvolvimento econômico, sobre a nacionalização dos recursos naturais que empreendeu na Bolívia em 2005 e elogiou os colegas presidente latino-americanos Hugo Chavez, da Venezuela, Rafael Correa, do Equador, e Daniel Ortega, da Nicarágua.

O ponto alto de seu discurso, porém, foi quando avaliou a crise política na África árabe e no Oriente Médio, criticando os Estados Unidos – mas sem mencionar o nome do presidente Barack Obama, muito popular na África. “É um povo que está se levantando contra o imperialismo americano”, afirmou, referindo-se aos protestos no Cairo: “Essas lutas são inevitáveis, mesmo que o imperialismo americano lance milhões e milhões de dólares para tentar pará-los”.

Entre os manifestantes, vindos de 123 países, segundo os organizadores, e representantes das mais diversas causas da esquerda, as revoltas no mundo árabe também foram assunto recorrente. “Nós estamos orgulhosos da grande mudança que está em curso”, afirmou ao Estado o sindicalista marroquino Abeslem Boumedine, 53 anos. “O povo quer democracia, igualdade, liberdade. Nossos corações estão com os egípcios.”

No meio da multidão, o número de brasileiros também foi destaque. Membros de sindicatos urbanos, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), de movimentos rurais, como o MST, e de ONGs de toda ordem estão em Dacar. Danilo Moreira, secretário Nacional Adjunto de Juventude, era um dos manifestantes. “Todo fórum costuma ter um tema central. No passado já foi a Alca, por exemplo. Neste, é o Oriente Médio”, avaliou.

A delegação oficial brasileira tem o secretário-geral da presidência, Gilberto Carvalho, a ministra de Direitos Humanos, Maria do Rosário, e a ministra de Políticas de Promoção de Igualdade Racial, Luiza Helena de Bairros, além de cerca de 30 outros membros.

O destaque, porém, é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele chegou em avião de carreira, acompanhado do ex-secretário-geral da presidência, Luiz Dulci, e ainda não falou à imprensa. Nesta segunda-feira, ele tem encontro com o presidente do Senegal, Abdoulaye Wade, e participa de uma conferência em praça pública no início da tarde.