O secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, detalhou melhor como será o funcionamento dos ingressos da chamada “categoria 4”, de preços mais populares, na Copa do Mundo 2014. Após almoço com integrantes do governo e líderes do Congresso, Valcke teve um contato com a imprensa e disse que as entradas que custarão em torno de US$ 25 (R$ 43) serão 10% do total previsto para o evento. Como a entidade estima que sejam disponbilizados 3 milhões de bilhetes, sendo 1 milhão para torcedores comuns, isso corresponderá a 100 mil entradas. O equivalente a 30% dos disponíveis estará à venda no Brasil, já que parte será reservada para torcidas de outras seleções, autoridades e oficiais, entre outros.

Diferentemente do que chegou a ser apresentado e previsto, a cota não atenderá apenas a quem teria direito a meia-entrada. Apesar de estar sendo vista como alternativa à aplicação do direito de estudantes e idosos, a “categoria 4” poderá ser adquirida por todos os brasileiros. As entradas para a competição começarão a ser vendidas em agosto de 2013.

O secretário da Fifa, porém, ressaltou que a entidade trabalhará agora em um sistema de venda que atenda aos pedidos do governo sobre grupos de baixa renda, alegando tanto a complexidade na venda da grande quantidade de ingressos do como a relevância da arrecadção com as entradas, que chegariam a US$ 500 milhões. Sobre os estudantes, Valcke disse haver a possibilidade de que eles tenham prioridade na compra dos ingressos mais baratos.

– Dentro dessa categoria, acharemos uma solução para dar um acesso prioritário aos estudantes. Por exemplo, num período de um mês, eles serão os primeiros a ter acesso a esses ingressos de categoria 4 – exemplificou.

Valcke aproveitou para defender o presidente da CBF e do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo, Ricardo Teixeira, que foi criticado por parlamentares durante a audiência. Alguns deputados lembraram o fato de Teixeira estar sendo investigado pela Polícia Federal pela possibilidade de recebimento de propinas, além de outros crimes.

– Na democracia, estar sob investigação não quer dizer que você é culpado. Por que para a Fifa seria diferente? Por ora, ele está sob investigação, e na democracia você é inocente até ser condenado – argumentou Valcke, que acertou as questões com o cartola brasileiro.

Discurso confuso

Apesar do discurso de Valcke de defesa da proposta, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, foi dúbio em relação à concordância do governo com a ideia. Perguntado se o governo aceitava a categoria popular como alternativa aos direitos de meia-entrada, Aldo não deixou clara a posição e usou o tom de dois meses atrás: o governo defende o projeto inicial enviado à Câmara.

– O Congresso tem em mãos a proposta do Executivo e tem o papel de discutir, modificar, apreciar opiniões distintas da que o governo enviou, e nós vamos nos entender com o Congresso. A decisão do governo é defender a posição inicial e oficial do projeto enviado à Câmara dos Deputados. Qualquer outra posição surgida a partir do debate da comissão, o governo vai ter que se entender com a comissão (especial, criada para analisar a Lei Geral).

O problema é que o projeto enviado pelo governo diz apenas que os preços dos ingressos serão definidos pela Fifa. Ou seja, caso a entidade efetivamente realize a “categoria 4”, estaria coberta pela lei. Por outro lado, não há vedação específica no texto à aplicação da meia-entrada, o que permitiria contestação judicial caso a Fifa não aplique a regra.

Mesmo assim, o ministro reforçou apenas a ideia apresentada por ele de que seja criada uma cota de ingressos para a população indígena. Não disse, entretanto, quem seria o responsável pelo subsídio a estas entradas. Ele alegou ainda que as divergências que surgirem serão negociadas posteriormente.

– Não vejo nenhum problema incontornável. Evidente que haverá diferenças, mas nós temos a tarefa de procurar contorná-las, respeitando os interesses da Fifa e respeitando os limites dos interesses nacionais e do interesse público.