Mantendo a Ópera-bufa em que se transformou o Enem, o Ministério da Educação, apesar de afirmar ter uma equipe de fiscais cadastrados e treinados, escalou voluntários em portas de locais de exame. A desorganização instituída pelo descaso ou incompetência chegou a permitir a entrada em sala de provas da Universidade Estadual do Ceará (UECE), de um fotógrafo contratado pelo portal UOL para fazer a cobertura do evento.

Na manhã de sábado (22), na Universidade Paulista (Unip) da zona Oeste de São Paulo, cerca de 30 pessoas foram selecionadas para fiscalização, com o único critério de apresentar o documento original de identificação. O repórter Paulo Saldaña, do jornal O Estado de S. Paulo, foi um dos que, com RG na mão, garantiu uma vaga para a fiscalização. No local, havia 8 mil candidatos inscritos.

Por volta das 8h as portas da universidade estavam cheias de pessoas que foram avisadas por familiares ou conhecidos que trabalhariam na organização da prova. Estas pessoas receberam e-mail com recomendações sobre horários e tipo de vestuário: camisa branca e, caso estivesse frio, agasalho branco ou preto – o que pouca gente respeitou.

Após a entrada dos previamente selecionados e após meia hora, os organizadores recrutaram na portaria os não cadastrados e desconhecidos, que tinham seus dados anotados por seguranças. Para o repórter, só perguntaram se tinha o nome na lista, diante da negativa foi prontamente contratado.

Os recrutados foram levados para o anfiteatro, onde o treinamento já havia começado. Faltavam menos de duas horas para a abertura dos portões e centenas de fiscais deveriam dominar como aplicar a prova.

No palco, uma coordenadora detalhou como se portar em caso de cola, o que é ou não é permitido na sala, na mesa, embaixo da cadeira, a cor da caneta. Depois da palestra, respondeu a dúvidas e mostrou um filme com orientações sobre os procedimentos de entrega das provas, com informações como onde assinar os cadernos, o que orientar ao inscrito, como distribuir as provas. Apesar da qualidade do vídeo, havia rostos de dúvidas tão agudas quanto as do repórter. Era de fato muita informação.

Antes de indicar quem seriam os responsáveis por cada sala, a palestrante fez uma advertência importante. “Pessoal, já chegaram cinco fiscais embriagados. Se tiver alguém que foi para balada, que não está bem, por favor, avise.”

Muitos dos chamados não apareceram e assim que todos os pré-selecionados presentes tomaram seus postos, a coordenadora distribuiu os recém-contratados pelas diversas salas.

Pouco antes da abertura dos portões, havia salas com carteiras amontoadas, alguns fiscais debutantes ainda não entendiam bem se os candidatos deveriam assinar a lista de presença ao chegar ou ao sair. E se a lista ficava na porta ou na mesa no centro da sala.

Depois começou a busca pelo giz para as orientações na lousa. Os fiscais conseguiram um pequeno pedaço azul. A guerra seguinte foi para conseguir uma caneta – ao longo da prova, é necessário preencher uma série de informações sobre o exame. Os fiscais revezaram uma única caneta com duas salas.

Assim que os inscritos começaram a entrar, um candidato surge com um RG xerocado. O repórter recorreu ao coordenador do corredor, que autoriza sua participação caso o papel seja confiável. Coube ao repórter a decisão e ele fez o exame. O manual com as instruções previa um toque de sirene para o início das provas. O sino tocou e os fiscais ainda distribuíam os cadernos.

Ninguém consultado pela reportagem naquele corredor assinou o Termo de Compromisso sobre confidencialidade e frequência, o que, em tese, seria obrigatório.

Fonte: UOL, com informações do jornal O Estado de S. Paulo.