Durante governo militar, Mato Grosso do Sul teve mais de mil perseguidos e navio-prisão

Número foi confirmado pelo advogado Lairson Palermo que possui em torno de 30 casos de pedidos de indenização na Comissão de Anistia do Ministério da Justiça

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Número foi confirmado pelo advogado Lairson Palermo que possui em torno de 30 casos de pedidos de indenização na Comissão de Anistia do Ministério da Justiça

Mato Grosso do Sul teve mais de mil perseguidos durante a ditadura militar. O número foi confirmado pelo advogado Lairson Palermo que possui em torno de 30 casos de pedidos de indenização na Comissão de Anistia do Ministério da Justiça.

A Comissão de Anistia foi instalada pelo Ministério da Justiça, no dia 28 de agosto de 2001. Criada pela Medida Provisória n.º 2.151, a Comissão analisa os pedidos de indenização formulados pelas pessoas que foram impedidas de exercer atividades econômicas por motivação exclusivamente política desde 18 de setembro de 1946 até cinco de outubro de 1988.

Na manhã desta sexta-feira (8), representantes da OAB, CUT (Central Única de Trabalhadores), Central de Movimentos Populares (CMP) e Conselho Indígenista Missionário (CIMI), reuniram-se com o presidente da Fundação Perseu Abramo e ex-primeiro ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos no governo Lula, Nilmário Miranda, no plenarinho da Assembleia Legislativa em Campo Grande.

Miranda está à frente da Comissão Nacional da Verdade, prevista no Projeto de Lei 7376/10, que tem o objetivo de esclarecer casos de violação de direitos humanos ocorridos no período da ditadura (1964-1985).

Um dos indenizados que estava presente na reunião é o ex-presidente do Sindicato dos Garçons de São Paulo, Luiz Christofoletti, que veio para Campo Grande no ano de 1969 por conta da perseguição dos militares. Seu Luiz relatou à reportagem que, quando perseguido, chegou a viver durante oito meses pelas ruas e em porões com os “camaradas” na época de luta.

Outro relato foi o do presidente do Central de Movimentos Populares (CMP) Cleutu Soares sobre o pai, Waldemar Soares, integrante na época do Partido Comunista Brasileiro, que morreu com 64 anos em 1981.

Waldemar foi um dos líderes em Campo Grande de movimentos em prol de melhorias trabalhistas para funcionários quilombolas de uma pedreira e de cortadores de lenha na Capital, entre os períodos de 1961 a 1964.

Cleutu se emociona ao lembrar quando soldados do exército incendiaram a sua casa no bairro Cabreúva em 1964 quando tinha 5 anos. Por conta do incêndio, ele perdeu a irmã mais velha, Eunice Soares, na época com 6 anos, que morreu dois anos após o episódio, por conta de queimaduras.

“No dia a minha mãe foi com um irmão, avisar o meu pai que fazia “bicos” à noite, que ele estava sendo perseguido”. Na casa ficaram Cleuto e mais dois irmão pequenos que foram surpreendidos pelas chamas.

“Depois disso, para sobrevivermos, a minha mãe plantava mandioca e milho que eu vendia nas casas. Mas como o governo da época conseguia fazer toda uma propaganda, as pessoas fechavam as portas”, conta emocionado.

Navio prisão de Corumbá

Também em 1964, a cidade de Corumbá, no antigo estado do Mato Grosso uno, teve o episódio do Navio Prisão de Corumbá. Depois de Cuiabá, Corumbá era considerada uma das cidades com maior militância esquerdista no antigo estado de MT.

No navio, ficaram presos durante 30 dias, metalúrgicos, marinheiros, mineradores e até vereadores.

“Esse caso do Navio Prisão de Corumbá, foi uma surpresa, eu não sabia desse caso, uma novidade. Infelizmente no Brasil afora se encontra muito disso e com a democracia há o estímulo para que essas histórias sejam contadas”, disse o ex-ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos.

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